O texto abaixo analisa os dados do IBGE e demonstra que da economia à educação nada está como dizem as propagandas oficiais.
É sempre bom desconfiarmos das propagandas, já que a função delas é nos vender produtos ressaltando as qualidades e diminuindo, ou omitindo, os defeitos. No caso das propagandas governamentais devemos ter grande cuidado para separar o que é verdade, daquilo que é exagero, ou pura mentira, comparando o que é vendido com a realidade.
O governo federal esforça-se para trazer números da economia que evidenciem o desenvolvimento do Brasil. Vamos então a alguns números que não recebem a mesma atenção.
No dia 2 de novembro saiu o ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 2011 realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Para esse índice são levados em conta alguns dados da população do país como expectativa de vida, escolaridade, renda média, etc. O Brasil ocupa a 84ª posição de um total de 187 países avaliados. Estamos na frente do Haiti e da Bolívia, mas convenhamos que isso não deve ser motivo de grande comemoração para a tão alardeada 7ª maior economia do mundo. Comparado com outros países latino-americanos, o Brasil está atrás da Argentina, de Cuba, do México e da Venezuela! Ou seja, o resultado é, na realidade, vergonhoso.
Os dados do censo do IBGE de 2010, divulgados no dia 16 de novembro desse ano, indicam que metade da população vivia no ano passado com uma renda mensal de até R$ 375,00. Metade da população sobrevivendo com menos de um salário mínimo (R$ 510,00 em 2010) e com bem menos do salário mínimo necessário calculado pelo DIEESE (R$ 2011,03 em julho de 2010) não é bem o retrato de um país que caminha para acabar com a pobreza. Além disso, 25% da população tinha rendimento de até R$ 188,00 por mês!
Continuando com os números do IBGE, provando que a desigualdade no país permanece alta, é calculado que o rendimento médio mensal dos 10% mais ricos do país é 39 vezes maior que o rendimento dos 10% mais pobres. E que os 10% mais ricos ficavam com 44,5% do total de rendimentos, enquanto os 10% mais pobres ganhavam apenas 1,1% do total.
Outro dado interessante é que os que recebem mais do que R$ 15,3 mil por mês representam apenas 0,16% de toda a população. Ou seja, um dos lemas do movimento Ocuppy Wall Street, de que a luta é dos os 99% da população contra o 1% é, no nosso caso, muito otimista, já que os ricos mesmo, aqueles que recebem bem mais do que R$ 15,3 mil por mês, são muito, mas muito menos do que 0,16% da população do país.
Passando para o analfabetismo: 9,6% da população brasileira com mais de 15 anos de idade não sabe ler nem escrever. O que totaliza cerca de 14 milhões de analfabetos. Lembrando que Cuba e Venezuela, países economicamente bem mais pobres, erradicaram o analfabetismo.
Outro número a ser levado em conta é que somente 45,7% dos domicílios em todo o país têm acesso a redes de esgoto sanitário. Ou seja, mais da metade das casas não tem acesso a esgoto, o que ocasiona graves problemas à saúde da população e ao meio-ambiente.
Em maio desse ano, o IBGE informou, a pedido do governo, que existem 16,27 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza extrema, 8,5% da população total. Sendo que os critérios para estabelecer essa linha de pobreza extrema limitam consideravelmente os que podem ser considerados miseráveis. Além de terem uma renda mensal de até R$ 70,00 é preciso que estejam enquadrados na seguinte situação de moradia: residência sem banheiro ou com uso exclusivo; sem ligação de rede geral de esgoto ou pluvial e sem fossa séptica; em área urbana sem ligação à rede geral de distribuição de água; em área rural sem ligação à rede geral de distribuição de água e sem poço ou nascente na propriedade; sem energia elétrica; com pelo menos um morador de 15 anos ou mais de idade analfabeto; com pelo menos três moradores de até 14 anos de idade; com pelo menos um morador de 65 anos ou mais de idade. Dos 16,27 milhões de brasileiros que cumpriram todos os complicados quesitos para receberem o diploma de miseráveis, 4,8 milhões tinham renda nominal mensal domiciliar igual a ZERO.
Mas tudo bem… a desigualdade foi reduzida em 11,5% em 10 anos, o analfabetismo diminuiu 4%. Mas foi para esses ditos “avanços” que os trabalhadores elegeram um governo do PT? Esse era o resultado esperado após quase 9 anos de governo Lula/Dilma? E mesmo esses números são conseqüência de uma política que enfrenta os patrões e defende os trabalhadores ou o natural desenvolvimento do capitalismo e dos interesses dos capitalistas em um período de crescimento econômico?
No dia 17 de novembro, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s anunciou a elevação da nota de classificação do Brasil de BBB- para BBB+. Isso significa que o Brasil está melhorando mesmo em uma coisa: em ser um lugar seguro para os especuladores, ou seja, com um governo submisso às regras do imperialismo e que contém satisfatoriamente a luta dos trabalhadores.
Num governo de colaboração de classes, a classe trabalhadora sempre sai perdendo. Não é possível atender a dois amos com interesses opostos. Os números e os fatos mostram que os especuladores, as multinacionais, os burgueses ganharam muito nos últimos anos e para os trabalhadores restaram as migalhas do crescimento econômico, alardeadas como grandes avanços.
Mas mesmo essas migalhas começarão a ficar raras e as que foram dadas poderão ser retiradas. O capitalismo é um regime doente que espalha seu veneno por todo o mundo. Europa e Estados Unidos demonstram a dimensão da crise e o caminho da burguesia pra sair dela: jogar a conta para a classe trabalhadora pagar.
No Brasil, os efeitos já começam a ser sentidos e o governo de coalizão de Dilma já toma medidas para apertar os cintos. A política dos reformistas perde o oxigênio num momento de crise. Fica evidente todo o limite do capitalismo para garantir condições dignas de vida à humanidade. As massas também entrarão em cena no Brasil e a luta pela construção de um governo socialista dos trabalhadores é o único caminho que interessa à nossa classe.