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Um mundo em crise

O mundo encontra-se nas garras de uma crise sem solução. Por um lado, temos uma pandemia mortal, que não mostra sinais de diminuir. E, por outro, o maior colapso já testemunhado da economia global.

Não há paralelos na história para descrever esta calamidade. Possivelmente, o que mais se aproxima dessa situação foi outra pandemia mortal conhecida como a Peste Negra do século XIV. Nesta última, um terço ou mais da população morreu. Essa praga se espalhou por todas as partes e criou graves convulsões religiosas, sociais e econômicas, com profundos impactos no curso da história europeia.

De acordo com o historiador Philip Ziegler:

Embora a Peste Negra estivesse longe de ser a única causa, a angústia e a destruição que ela produziu deram a maior contribuição individual para a desintegração de uma época”.

Outro historiador, J. Jusserand, explicou:

A fé desapareceu ou foi transformada; os homens se tornaram, ao mesmo tempo, céticos e intolerantes. Não se tratava de forma alguma do ceticismo moderno, serenamente frio e imperturbável, mas de um movimento violento de toda a natureza…

A sociedade feudal estava morrendo sobre os seus pés. A praga a derrubou.

Até agora, a atual pandemia da Covid -19 matou muito menos pessoas do que a Peste Negra. No entanto, seu efeito é realmente considerável. A crise capitalista – desencadeada e fortemente agravada pela pandemia – é a mais profunda em 300  anos. Também está levando o capitalismo ao limite de uma forma ainda mais devastadora.

Crise sem igual

A pandemia está se espalhando como um incêndio na Ásia e na América Latina. Mesmo nos Estados Unidos, o vírus está causando estragos, com seis milhões de casos confirmados. A Europa está ameaçada por outra onda.

O Programa Mundial de Alimentos da ONU está alertando que mais de 265 milhões de pessoas estão ameaçadas pela fome. Esta é uma catástrofe absoluta.

Os estrategistas do capitalismo estão completamente perdidos. Os governos capitalistas se apressaram a salvar o seu sistema, acumulando dívidas enormes no processo.

Apesar dessas medidas sem precedentes, a recessão não tem igual na história. No segundo trimestre de 2020, o PIB dos Estados Unidos caiu a uma taxa anualizada de 32,9%. No período de abril a junho, a economia japonesa encolheu em um valor anualizado de 27,8% em termos reais, a contração mais acentuada já registrada. Enquanto isso, a economia da Índia se contraiu, no segundo trimestre, em 23,9%, a maior da Ásia. O PIB britânico caiu mais de 20% no mesmo período.

Milhões de trabalhadores perderam seus empregos ou estão prestes a perdê-los. No entanto, os mercados de ações de Nova Iorque a Tóquio estão em alta, com os especuladores desfrutando de uma bonança. O índice MSCI World de ações saltou 6,6% em agosto, a maior alta do mês de agosto em 44 anos. Ed Yardeni a descreveu como “a mãe de todos os derretimentos”.

Na fumaça

Esta não é uma crise capitalista normal. Exacerbado pela pandemia, o sistema capitalista atingiu seus limites e está em declínio terminal. Não haverá recuperação rápida. Em vez disso, o cenário está armado para uma depressão contínua. Qualquer que seja a trégua, será de curta duração. O investimento, a força vital do sistema, caiu e o consumo também.

A classe trabalhadora, como em 2008, terá que pagar a conta dessa crise. Depois de anos de austeridade e ataques, isso vai provocar uma oposição generalizada. Todas as ilusões anteriores de progresso interminável se dissiparam na fumaça.

A revolta nos Estados Unidos depois da morte de George Floyd nas mãos da polícia mostra que se desenvolveu um estado de ânimo insurrecional. Pelo menos 10% da população participaram dos protestos Black Lives Matter, e muitos mais os apoiaram.

Outro negro, Jacob Blake, foi recentemente baleado pela polícia em Kenosha, Wisconsin, lançando gasolina no fogo. Mas dois foram mortos por um supremacista branco na mesma cidade.

A América está envolvida em uma espiral perigosa”, comentou The Economist. Quem quer que ganhe a presidência em novembro, nada voltará a ser igual. É uma confirmação da época revolucionária em que entramos.

Desenvolvimentos revolucionários

Enquanto isso, os protestos em massa no Líbano, seguindo a linha daqueles que ocorreram no final do ano passado, forçaram outro governo a renunciar. Este é um desenvolvimento revolucionário.

Manifestações em massa abalaram inclusive Israel, exigindo a derrubada do governo de Netanyahu. E eventos dramáticos – embora contraditórios – estão se desenvolvendo na Bielo-Rússia, com a classe trabalhadora caminhando em direção a uma greve geral.

Em toda parte há instabilidade crônica. Mesmo na Grã-Bretanha, o apoio ao governo conservador entrou em colapso no espaço de meses. Agora o país caminha para um Brexit sem acordo, com consequências calamitosas – não só para a Grã-Bretanha, mas também para a Europa.

Os próximos seis meses podem muito bem determinar o destino do Sr. Johnson”, escreveu o Financial Times. Explosões sociais estarão na ordem do dia na Grã-Bretanha, como em outros lugares.

Tudo o que o capitalismo pode oferecer à classe trabalhadora é desemprego em massa, queda dos padrões de vida e ataques. Mas esta será uma receita pronta e acabada para a luta de classes em todos os lugares.

Até o Financial Times se referiu às perspectivas de “agitação social generalizada, se não revolução”. Eles tiraram as mesmas conclusões – embora a partir do ponto de vista de classe oposto – que os marxistas!

Crise de direção

Eventos massivos estão preparando uma rápida mudança de consciência. Já existe um questionamento generalizado do sistema capitalista. Isso é particularmente verdadeiro entre os jovens, que só conheceram uma vida de austeridade e crise.

Isso está preparando uma grande mudança à esquerda. Não há solução sob o capitalismo para os problemas da classe trabalhadora.

Mas o capitalismo não sairá de cena por conta própria. Precisará ser derrubado. Não faltarão oportunidades revolucionárias, como já vimos. Possibilidades revolucionárias estão implícitas em toda a situação. Sob os sintomas da decadência terminal, uma nova sociedade luta para nascer.

No entanto, falta uma verdadeira direção revolucionária. Os líderes trabalhistas e sindicais, apegados às ilusões do passado, agem como um freio à situação. Até mesmo os “esquerdistas” preferem fazer concessões, pois não têm a perspectiva de mudar a sociedade. Eles têm ilusões em reformar o capitalismo, o que não é possível. Nenhuma quantidade de remendos resolverá o problema.

Há, portanto, uma crise de direção da classe trabalhadora. O que se necessita é de uma direção preparada para ir até o fim.

Isso levanta a tarefa urgente de construir as forças do marxismo – a única força que está preparada para enfrentar essas realidades. O marxismo nunca foi tão relevante.

Apelamos aos trabalhadores e jovens para se juntar a nós nessa tarefa – preparar o terreno para a transformação socialista da sociedade, na Grã-Bretanha e internacionalmente.

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.

PUBLICADO EM SOCIALIST.NET