Um operário fala da exploração

Entrevista com um diretor do Sindicato dos Vidreiros que fala como anda a vida e a luta dos operários dentro das fábricas.

O JLC entrevistou o companheiro Samuel, mais conhecido como “Montanha”, diretor do Sindicado dos Vidreiros do Estado de São Paulo.

Eletricista de manutenção há 9 anos na multinacional Pilkington na planta de Caçapava, cidade industrial do Vale do Paraíba – SP, Montanha foi eleito recentemente como dirigente sindical. Combativo, continua no chão de fábrica.

Nesta entrevista relata qual a situação desta fábrica. Um vivo e inteligente relato que confirma totalmente a análise defendida pelo camarada Daniel Feldmann em seu artigo “Aumenta a produtividade e o lucro, aumenta a exploração do trabalho!”

JLC: Qual era o clima entre os trabalhadores após dezembro de 2008 e nos meses seguintes?

Podemos descrevê-lo em dois momentos: no primeiro semestre de 2009 praticamente todos os funcionários terceirizados foram demitidos e a partir da metade do mês de agosto a fábrica começou a produzir batendo todos os meses recordes de produção, até dezembro. Isso tudo com o número de operários sendo praticamente o mesmo.

Para se ter uma ideia: um setor chamado “BOX”, há quatro anos produzia 35 mil metros de vidro por mês, durante esse período a produção foi aumentando mês a mês, e hoje esse mesmo setor produz 120 mil metros por mês, com o mesmo número de operários e o mesmo maquinário!

JLC: Houve aquisição de novas máquinas ou instalações?

A única mudança foi uma pequena reforma em 3 dos 4 fornos da seção.

JLC: E como conseguiram quase quadruplicar a produção?

Nas costas dos operários!

Os operários trabalham com folga revezada e a maioria trabalha três finais de semana por mês, e as folgas são tiradas em dia de semana. Isso acaba com a vida social desses trabalhadores. Nesse mesmo período aumentou o número de acidentes de trabalho, principalmente lesões na coluna e nas articulações. Mesmo que não sejam chamados de “acidentes graves” esses tipos de lesões acabam com a saúde e a qualidade de vida dos operários.

Isso sem falar na pressão das chefias para alcançar as metas, os desvios de função e quem reclama ou não aceita a situação é demitido. É quase que um regime escravo.

JLC: E como os operários estão reagindo?

O descontentamento é muito grande. No mês passado em outra grande fábrica de vidros em Caçapava, a CEBRACE, um supervisor que tem enfrentado muita pressão, se indignou com o patrão quando alguns funcionários de sua seção solicitaram férias de 30 dias. A gerência da empresa além de obrigar os operários a tirarem somente 20 dias de férias, ameaçou de demissão quem não aceitasse. Isso é um absurdo: nessas condições de pressão os trabalhadores não podem nem ao menos tirar férias integrais. E a partir dessa situação a empresa começou a perseguir esse trabalhador.

No dia em que o sindicato estava realizando sindicalização na empresa, ele reuniu alguns trabalhadores para levá-los até o local da sindicalização, aí um gerente fez ameaças a ele e disse que ele seria suspenso! Num ato desesperado de protesto ele subiu até a torre da empresa, depois desceu entrou numa retro-escavadeira e desnorteado diante da situação, golpeou o para-brisas se ferindo gravemente.

Veja que situação chega o trabalhador e pai de família.

JLC: E a nova diretoria do sindicato?

Nós acabamos de ser eleitos e herdamos toda essa situação, o acordo de hora parada foi assinado pela antiga diretoria, herdamos o péssimo costume de falta de reuniões e mobilização. Mas estamos mudando as coisas. No final do ano passado, conseguimos com grande mobilização barrar a coparticipação (os empregados pagariam parte do convênio médico), conseguimos uma PLR razoável, conseguimos a readmissão de um Cipeiro. Mas ainda temos muito trabalho para realizar na base e no sindicato, mobilizando e lutando contra essa super exploração.

Penso que esta situação deve também acontecer em muitas empresas, talvez em todas as fábricas. É necessário que nosso sindicato, em conjunto com as centrais sindicais, façam denúncias ao governo, à OIT, preparando ações unificadas contra essa situação. Nós sabemos que só com luta e organização poderemos acabar com essa situação de super exploração.

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