Editorial da 13ª Edição do jornal Tempo de Revolução. Faça sua assinatura e receba no seu e-mail!
Quando a direção do PSOL manobrou no congresso do partido, jogando para o ano que vem a decisão de uma candidatura presidencial para 2022, obviamente a inviabilizou. Fez-se a vontade dos que controlam a cúpula do partido, sem o vexame de terem que defender isso abertamente: o PSOL não terá candidato à presidência da república e deverá apoiar a candidatura do PT já no primeiro turno (mesmo que formalmente a decisão vá ser tomada em convenção partidária, é muito difícil que isso se reverta).Oras, a que vem então o PSOL? Se não ousa sequer apresentar um programa alternativo ao do PT nas próximas eleições gerais, por que a separação do PT há mais de 15 anos e a formação de um novo partido? Teria o PT se regenerado nesse ínterim para merecer tal adesão? Infelizmente, não. O PT degenerou-se ainda mais. O que ocorre é que a atual direção do PSOL, em vez de defender a derrubada do capitalismo, passou à linha da “defesa da democracia”, que na prática é a defesa do capitalismo e de suas instituições. Nisso, a sintonia com o PT não poderia ser mais perfeita.
Sem uma candidatura do PSOL, resta a uma vanguarda combativa de esquerda votar em Lula já no primeiro turno, mesmo com todas as críticas e senões, para derrotar Bolsonaro. Embora muitos não o quisessem fazer, embora muitos o farão sem gosto, a maioria entende que não haverá como evitar. Entretanto, os murmúrios de que há a possibilidade de Geraldo Alckmin sair do PSDB e compor a chapa de Lula como seu vice trouxeram à tona uma discussão importante: vale tudo contra Bolsonaro? Vale votar em qualquer coisa?
Há aqueles que, reagindo à notícia de um possível vice (ex)tucano, torcem o nariz e dizem que desse jeito preferem anular o voto. Por outro lado, há aqueles que advogam que, contra Bolsonaro, os trabalhadores deveriam votar até mesmo no Aécio Neves se ele fosse candidato pelo PSDB num eventual segundo turno. É a lógica do “primeiro a gente tira o Bolsonaro”, sem importar-se com o que se coloca no lugar.
Para os marxistas, esta questão deve ser analisada sob a luz da luta de classes. Como uma direção partidária coerente com a denominação “socialista” deveria se portar?
- Todas as energias do partido agora, e desde o início do governo Bolsonaro, deveriam estar voltadas para organizar a revolta, a greve geral, as lutas de rua para derrubar o governo.
- Dado o fato de que a luta de massas pelo “Fora Bolsonaro” foi bloqueada justamente pelos partidos da dita “esquerda”, o PSOL (que atuou em coro com PT e PCdoB para realizar este bloqueio), para se redimir, agora deveria ter uma candidatura própria que defendesse um programa abertamente socialista, de expropriação do capital e medidas radicais de transformação da sociedade. Se tal candidatura não conseguisse conquistar apoio eleitoral suficiente para disputar o segundo turno, aí o PSOL poderia apoiar Lula num eventual segundo turno contra Bolsonaro.
- Na ausência de uma candidatura psolista (tanto no primeiro quanto no segundo turno), o apoio do PSOL a uma candidatura petista deveria se dar com base em uma discussão ou negociação por um programa que no mínimo se comprometesse a revogar as contrarreformas de Temer e Bolsonaro e que apontasse para o não pagamento da dívida pública, ou seja, uma candidatura de ruptura com o capital. E uma candidatura com tal programa, obviamente, estaria limitada a alianças apenas com os partidos da classe trabalhadora.
A realidade vem se apresentando como algo muito pior que isso. O PSOL não só muito provavelmente não terá candidato, como não apresentará nenhuma condição para apoiar a candidatura de Lula desde o início, mesmo ela claramente tendo um programa capitalista, de continuidade da política econômica de Paulo Guedes, com alianças ao maior número possível de partidos burgueses que o PT conseguir atrair. Então, que fazer?
Se nos próximos 11 meses não ocorrer uma explosão social neste país (algo que não pode ser descartado), nos restará fazer uma campanha pelo voto crítico em Lula. Mas, para os revolucionários, no contexto atual, isso só será possível, exigindo de Lula um programa de defesa da classe trabalhadora, responsabilizando-o por isso e organizando a luta nas ruas a partir do primeiro dia do novo governo. Durante a campanha, deveremos explicar claramente que o programa político de Lula não é válido para mudar a realidade social e econômica do país, mas que há uma diferença grande entre desenvolver nossa luta sob um governo encabeçado por um demagogo de extrema-direita e sob um governo encabeçado por um representante de um partido operário, mesmo que esse partido tenha adotado a conciliação de classes e a defesa dos interesses da burguesia. Ainda que o vice de Lula seja Alckmin, como outrora foi Temer o vice de Dilma, ou José Alencar o vice de Lula.
Claro que a presença de Alckmin na chapa pioraria as coisas, pois ele já foi testado como governante e, à frente do Palácio dos Bandeirantes e no comando da Polícia Militar de São Paulo, cometeu atrocidades contra a classe trabalhadora. No entanto, faria parte do “voto crítico” em Lula denunciar sua política de alianças com nossos inimigos de classe.
Isso nada tem a ver com votar em “qualquer coisa” contra Bolsonaro. Se fosse uma candidatura do PSDB contra Bolsonaro, ou mesmo o Ciro Gomes contra Bolsonaro, aos lutadores da classe trabalhadora restaria anular o voto. Não haveria sentido em participar de uma disputa eleitoral interburguesa. Seria o mesmo que escolher qual carrasco cumpriria a nossa sentença de morte. Nos recusamos.
Agora, quando há um representante da classe trabalhadora no páreo, mesmo que seja um conciliador pelego, que já tenha traído a sua classe e diga isso abertamente aos quatro ventos, aplicamos a tática da frente única. Pois para superar tais representantes, a classe trabalhadora deve fazer e refazer a experiência prática com eles. Nesse processo, devemos ser capazes de ajudar a classe a construir uma direção alternativa. E, obviamente, temos que fazer muito melhor do que fez e faz a atual direção do PSOL.