Venezuela: Enfrentar a pandemia e o reformismo

A crise das instituições burguesas, agravada com o cenário do coronavírus, demonstra que mesmo diante da morte e sofrimento de milhões de seres humanos os burocratas e reformistas têm como prioridade a manutenção da ordem e os interesses burgueses. O povo venezuelano tem sofrido não só com a pandemia, mas também com aqueles que hoje tentam destruir o legado da revolução bolivariana.

Nicolas Maduro e o PSUV têm buscado atuar no combate à pandemia com métodos paliativos e extremamente ineficazes. O isolamento, que começou de forma séria e aplicando o lockdown, tem sido substituído pelo revezamento de sete por sete, que consiste basicamente em manter a economia (burguesa) girando, com sete dias de comércios e fábricas funcionando e outros sete fechados. Nas últimas semanas foi possível ver a curva de contaminação crescendo, chegando a números diários como o do Brasil, segundo país com mais contaminações no mundo.

Segundo os dados oficiais, até o momento (13/08) cerca de 29.088 casos foram confirmados, e 247 mortes. A falta de testes e controle de imigração na fronteira com outros países tendem a aumentar drasticamente os números apresentados.

Destaca-se também a defesa e intenção do uso da cloroquina no tratamento da Covid-19. Maduro expôs em sua conta no Twitter, no dia 15 de maio:

“Parabenizo a equipe científica da saúde de nosso país, que trabalha de boa fé e amor para proteger a saúde das pessoas. Com eles, avançamos na produção de difosfato de cloroquina, um medicamento eficaz para o tratamento contra a Covid-19. Sim, nós podemos, Venezuela!”

A cloroquina já foi descartada por praticamente todos os epidemiologistas e laboratórios sérios no combate à pandemia.

Usando como pretexto a crise sanitária e as ações do PSUV, a oposição golpista pró-Trump intensifica as medidas de boicotes e intervenções para atacar o governo e tentar retomar por completo o controle do país através de seu fantoche Juan Guaidó. A negação por parte do Reino Unido das reservas venezuelanas de US$ 1 bilhão em ouro para utilizar no combate à pandemia desgasta ainda mais o governo, que busca se submeter às mesas de negociação burguesas. Também lembramos da última tentativa de golpe para desestabilizar a classe trabalhadora nesse país.

A classe trabalhadora na Venezuela tem sofrido as consequências da política covarde e reformista de suas direções de não aprofundar o legado chavista. Não existe saída dentro do jogo burguês para a crise. Ao não tomar os meios de produção e expropriar por completo a burguesia, Maduro abre espaço para que a burocracia se desenvolva.

Alternativa Revolucionária

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) registrou a data de 6 de dezembro para as próximas eleições legislativas. Tendo repercutido recentemente a insatisfação da oposição burguesa, que negou participação nesse processo buscando deslegitimar o governo de Maduro, continua a pressão internacional sobre o atual governo com as medidas golpistas do imperialismo. Já articulam rechaços ao processo que está por vir pedindo à comunidade internacional que rejeite as eleições.

Essas eleições ocorrem numa tentativa do governo de manter diálogos com todos os lados, buscando um pacto de conciliação para salvar a economia burguesa, deixando as mesas de negociação ativas e aglomerando novas forças para a unidade do governo do PSUV.

Mesmo que as conquistas da revolução e o sentimento anti-imperialista ainda estejam enraizados na maioria, o desgaste político dos trabalhadores tem se manifestado em amplos setores por causa das políticas da direção de Maduro e do PSUV de atacar sistematicamente os oposicionistas de esquerda, assim como frear os avanços dos processos revolucionários, e tornam o clima de tensões mais agudo.

Alguns setores buscam retomar o legado chavista da revolução bolivariana e retomar o controle do país para as mãos da classe trabalhadora. Nesse sentido surgiu a Alternativa Popular Revolucionária – APR, um movimento amplo de organizações e movimentos sociais que nasce da pressão das bases e do desgaste político do PSUV, que, burocraticamente, vem asfixiando as conquistas da revolução.

Essa iniciativa foi promovida pelo Partido Comunista da Venezuela (PCV), Pátria Para Todos (PPT), Izquierda Unida (IU) e Lucha de Clases – seção venezuelana da Corrente Marxista Internacional, 4 das 6 organizações que fazem parte da Frente Popular Antifascista e Anti-imperialista (FPAA).

A APR busca se tornar uma referência para o conjunto da classe, atuando como um marco importante no enfrentamento à burguesia e ao reformismo, dando ânimo e apresentando um programa operário. Como é um amplo movimento de partidos e organizações, nós, marxistas da CMI e de nossa seção Lucha de Clases, sabemos do risco em que esse movimento pode se tornar se não houver métodos e formas organizacionais para lidar com os oportunistas e tendências pequeno-burguesas que inevitavelmente buscarão se aproximar.

A primeira grande ação da APR será a participação no processo eleitoral marcado para o fim do ano, porém o movimento já prepara as bases para dar continuidade às lutas fora das instituições. Nossa seção tem buscado manter um programa que ultrapasse as disputas eleitorais.

Não acreditamos que exista saída dentro das instituições, participamos dos processos “democráticos” burgueses entendendo seus limites e expressando a necessidade de superá-los, por isso não entramos em acordos espúrios e apresentamos nossas posições dentro da tática da frente única, com um programa revolucionário próprio. Marchamos separados e atacamos juntos.

Reatar o legado da revolução Bolivariana! Tirem as mãos da Venezuela!