O que está em jogo nas eleições deste ano na Venezula, quais os perigos que ameaçam a revolução e a guerra interna do PSUV entre revolucionários e burocratas reformistas.
O Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), dirigido por Chávez, acabou de encerrar seu Congresso Nacional que durou 5 meses reunindo 780 delegados eleitos por 2 milhões e meio de filiados ao partido. O PSUV tem mais de 7 milhões de filiados, num país de 25 milhões de habitantes – seria como se o PT tivesse cerca de 50 milhões de filiados no Brasil e nas eleições internas participassem 20 milhões de filiados em plenárias de base!
Logo após o encerramento desse Congresso ocorreram as prévias (eleições internas do PSUV) para definir os candidatos a deputado que concorrerão nas eleições de 26 de Setembro de 2010. Cerca de 3.500 pré-candidatos de todo o país disputaram 167 vagas a que o PSUV tem direito.
No dia 2 de Maio cerca de 2 milhões e meio de filiados ao partido foram votar. Nos bairros operários o clima era de muito entusiasmo e de expectativa de que pré-candidatos da base do partido fossem conseguir votos suficientes para se tornar candidatos pelo PSUV. Mas não foi bem esse o resultado.
Candidatos da burocracia do partido, utilizando-se de suas posições e cargos no aparato de Estado, com muito dinheiro e cabos eleitorais, impuseram uma disputa desleal contra milhares de candidatos da base do partido, lideranças operárias e populares que não dispunham de recursos, desenvolvendo campanhas independentes.
Além disso há vários circuitos onde a base do partido suspeita de fraude; onde candidatos da base teriam conseguido mais votos do que o candidato da burocracia, mas a apuração mostrou o contrário.
Burocratas x Trabalhadores
Uma ferrenha luta política se trava dentro do PSUV. Reformistas e burocratas se enfrentam a militantes e quadros operários pelo controle do partido. A base operária luta por definí-lo como um partido de classe, independente da burguesia, que seja um instrumento na luta para aprofundar a revolução socialista na Venezuela.
Hoje se reproduz na Venezuela uma luta semelhante à que se deu na origem do PT, há 30 anos. Também aqui, reformistas, ex-stalinistas e burocratas propunham que o PT fosse definido como “partido de toda a sociedade”. Contra essa posição lutaram os militantes operários e socialistas do partido pela concepção de “partido de classe”, o PT sem patrões, classista e socialista.
Entretanto, uma diferença importante é que em 2007 o PSUV já nasce no governo e, portanto, já nasce com um setor de burocratas fortemente ligados ao aparato de Estado que no PT levou anos para se desenvolver. O PSUV traz para dentro de si todas as contradições da Revolução Venezuelana e a luta de classes se dá também dentro do partido. Além disso, numa revolução tudo é mais acelerado.
Burocratas e reformistas por um lado e os melhores militantes da classe trabalhadora do outro, ambos tentando controlar e definir o caráter desse partido. O PSUV pode se construir como um partido operário independente ou ser uma criatura de sustentação da ordem. E do resultado dessa luta depende em grande parte o futuro da revolução venezuelana.
O futuro da Revolução em perigo
Todas as condições objetivas para a vitória da revolução na Venezuela estão dadas: a burguesia não consegue oferecer nenhuma alternativa para o país, está desmoralizada e dividida. A classe operária não aceita mais a volta da direita, está organizada e o povo está armado. O que falta é uma direção firme e um programa claro que aponte o que fazer.
Chávez deveria nacionalizar o sistema financeiro, a indústria, planificar a economia e colocá-la sob controle dos trabalhadores através dos Conselhos Comunais, Comunas e outras experiências de organismos de poder que já se desenvolvem na Venezuela, rumo à construção dos Conselhos de Deputados Operários, Camponeses e Soldados.
Em vez disso o Estado burguês segue intocado, a direção do PSUV e o Governo seguem aliados a alguns setores da burguesia e não completam a revolução. Isso dá mais tempo para a burguesia se recompor. E dessa forma a luta continua se dando no terreno do inimigo, ou seja, no quadro das instituições burguesas. Por isso agora a burguesia joga peso e busca utilizar as eleições de 26 de Setembro para reorganizar suas forças.
Mas nada está definido. Uma revolução em curso é uma realidade muito complexa, cheia de contradições que envolvem muitos fatores. É nessa situação contraditória que Chávez chama a constituição de uma Internacional anti-imperialista, anti-capitalista e socialista! Declara publicamente que a burguesia é a classe inimiga de toda a humanidade e diz que precisa ser derrotada em todos os países!
Apesar de as forças organizadas do marxismo ainda serem pouco numerosas dentro do PSUV, é impressionante a audiência que as idéias marxistas têm na base de massas do partido. E confusões de todo tipo mesclam propostas reformistas com propostas revolucionárias.
Há candidatos a deputado que propõem leis que permitam aos conselhos comunais começar a legislar, mas mantendo a Assembléia Nacional e todas as instituições do Estado burguês. Tudo pode acontecer!
O importante é que cada vez mais se desenvolve o senso crítico das bases pesuvistas em relação à direção do partido. No site da seção venezuelana da Corrente Marxista Internacional pode-se ler um artigo que relata a realização de um encontro de balanço das internas do partido, que reuniu vários grupos de esquerda do PSUV que estão buscando desenvolver as idéias do marxismo.