No primeiro momento, uma simples operação militar onde o governo da Colômbia anunciava mais uma vitoria militar contra as FARC. Depois, a noticia de que esta ação tinha sido conduzida em território Equatoriano em reação a ataque das FARC vinda de lá. Após a noticia de que os mortos estavam dormindo e que o exercito colombiano havia abandonado 15 corpos e três mulheres feridas. E os ventos da guerra começaram a soprar.
Os fatos: as formas armadas da Colômbia invadiram o país vizinho, o Equador, sem pedir permissão e inclusive sem comunicar antes ao País. O acampamento da guerrilha, onde estava o dirigente das FARC responsável pelas de libertação dos reféns (Raul Reis) foi monitorado por satélites americanos durante uma ligação telefônica celular, apontado para o exercito colombiano, que destruiu o acampamento com aviões (foguetes e metralhadoras) e depois as tropas invadiram para pegar o cadáver de Reis e aprender documentos e computadores. Isto, em qualquer manual de guerra, é um ato de agressão, é começar uma guerra. Os argumentos de que são terroristas e podem ser caçados em qualquer lugar é exatamente o argumento dos EUA para invadir o Iraque, é o argumento para justificar a não aplicação de leis na prisão de pessoas sem direito a justiça, seja em Guantánamo ou no Iraque e Afeganistão. O argumento é o mesmo de Israel aonde um Ministro chega a declarar que é necessário praticar um Holocausto sobre o povo Palestino (Holocausto é o nome dado pelos judeus ao ato de Hitler de determinar o extermínio do povo Judeu. Agora é usado pelo estado sionista contra os palestinos…). Para justificar a invasão do território equatoriano, o governo colombiano vem citando as resoluções 1368 e 1373 do Conselho de Segurança da ONU, que deram respaldo, em 2001, a invasão do Afeganistão pelos EUA.
Na reunião da OEA, O embaixador colombiano na Organização dos Estados Americanos (OEA), Camilo Ospina, pediu desculpas pelo bombardeio que matou o dirigente guerrilheiro Raúl Reyes, mas afirmou que o objetivo era combater uma “máfia narcotraficante” e que seu país tem “sérios indícios” de que há outros acampamentos das Farc no Equador. Ou seja, ameçou fazer outra invasão.
Os fatos: O presidente Chávez se sente ameaçado e determina a mobilização do Exercito. Os jornais procuram dizer que é mais um ato de loucura de Chávez. E na madrugada de segunda as notas das agencias de noticias começam a pipocar na Internet. A 1h da manha chega a noticia que a Colômbia pede desculpas ao Equador. As 2h da manhã o chefe de Policia da Colômbia declara que encontraram provas entre os guerrilheiros de que haveria encontros entre o guerrilheiro morto e autoridades do governo do Equador, portanto o governo do Equador apóia as Farc. No correr da segunda se ampliam os ataques dizendo que Chaves destinou 300 milhões para as FARC e também fuzis. O chefe de policia da Venezuela mostra provas que o irmão do chefe de policia da Colômbia foi preso na Alemanha por trafico de drogas.
Os fatos: uma declaração de que o governo da França encontrara o guerrilheiro morto para tratar da libertação de reféns é tratada de forma menor na imprensa. O governo americano apóia o governo da Colômbia. Os jornais noticiam que um alto chefe militar americano visitou a Venezuela dois dias antes do ataque.
A droga e o imperialismo
A situação na Colômbia se deteriora já faz muitos anos. Apesar de alguns acharem que o trafico de drogas é mafioso (e ele é) e que por isso não obedece as leis gerais do capitalismo, a situação na Colômbia mostra justamente o contrário. Há muito tempo que se fez da Colômbia um ponto de produção da cocaína, desde a plantação até o refino. E a maioria desta produção é exportada para os EUA. O fato de não existir concorrência levou a construção de verdadeiros bilionários, de cartéis que disputavam o mercado entre si. Só que o mercado começou a produzir os seus sucedâneos, as drogas sintéticas, e a lei da oferta e procura levou o preço da cocaína ao preço normal de qualquer produto: o tempo de trabalho necessário para a sua produção e transporte até o mercado consumidor. E o dinheiro que inundava a Colômbia diminuiu e a guerra fratricida que divida a Colômbia e que atingia, antes de tudo, os dirigentes sindicais que morriam mais que morria a maioria da população tornou-se maior.
Dos diferentes grupos guerrilheiros que atuavam, sobraram as FARC que de grupo que aspirava ao poder passa a exigir uma “zona desmilitarizada”, uma zona onde eles seriam o governo. De outro lado, o Estado “tradicional” se dissolvia e se criavam unidades paramilitares que “combatiam” as guerrilhas, mas na verdade funcionavam como verdadeiras milícias fascistas que atacavam toda e qualquer organização da classe trabalhadora.
A eleição de Uribe vem mudar este quadro. Ele faz um programa de erradicação sob o comando dos EUA, que integra ao Estado as milícias vindas dos grupos paramilitares e retoma para o Estado o monopólio da violência. Isto tudo é feito em nome do combate a drogas, mas neste estado e neste quadro são integrados os antigos dirigentes e financiadores dos grupos paramilitares, em particular os traficantes – melhor dito, uma parte destes traficantes que utiliza a sua posição no aparelho de estado para desarticular e destruir os grupos de traficantes rivais.
A guerrilha não é a solução
Nós, marxistas, sabemos que guerrilhas não são a forma de organização da classe trabalhadora. E que depende da classe trabalhadora uma revolução. A existência de guerrilhas só justifica a repressão do Estado. Nós sabemos que em determinada situação a classe trabalhadora, reagindo, pode ser levada a utilizar a violência. As revoluções que derrubaram os governos do Equador, da Bolívia, da Argentina mostram justamente isto: frente à miséria, frente à repressão a classe trabalhadora se organizou e derrubou governos. O que faltou foram partidos revolucionários que organizassem a classe para que ela tomasse o poder. Nós estamos fazendo justamente o trabalho de construir estes partidos, sem cairmos no aventureirismo da guerrilha que não consegue resolver nem ajudar a resolver este problema.
Sejamos claros: nós combatemos todos os governos capitalistas, em particular governos como o de Uribe, ditatoriais e repressivos. Combatemos e faz muito tempo governos como o governo sionista de Israel que utiliza o método de assassinatos seletivos contra o povo árabe. Agora, da mesma forma que somos solidários ao povo árabe frente à agressão sionista, que somos favoráveis ao direito ao retorno dos árabes na palestina, somos favoráveis a uma reforma agrária que dê terra aos camponeses na Colômbia, que exproprie os latifundiários. Isto significa apoiar a Al Fatah na Palestina ou as FARC na Colômbia? Não, definitivamente não. A origem das FARC, o fato de nascerem do Partido Comunista da Colômbia, não os exime de critica. Apesar de se declararem marxistas-leninistas, o que fazem nada tem de comum com Marx ou com Lênin. Lênin combateu duramente aqueles que saíram das fileiras do bolchevismo e quiseram implantar uma guerra de guerrilhas como solução para a derrota da revolução de 1905 na Rússia. As FARC argumentam que frente a uma ditadura não existe outra solução que as armas nas mãos. Mas a historia da revolução russa de 1917 mostra o contrário. A derrubada das ditaduras na America Latina mostra o contrário: foi o renascimento do movimento operário no Brasil, com o método das greves e manifestações que derrubou a ditadura. A palavra de ordem dos guerrilheiros de 68 no Brasil – “só o povo armado derruba a ditadura” levou na realidade a que a juventude mais mobilizada, mais consciente fosse massacrada pela ditadura. E foi o renascimento do movimento operário, as greves do ABC que deram surgimento a um partido operário e derrubaram a ditadura.
Como combater pela paz?
Bush, declarou seu “total apoio” ao chefe de Estado da Colômbia, Álvaro Uribe, e acusou o governo venezuelano de Hugo Chávez de realizar “manobras provocativas” contra a Colômbia. O imperialismo sabe o que quer: pressionar pela destruição da revolução venezuelana “em nome da paz”.
O povo colombiano está seguramente cansado de anos desta guerra sem tréguas, da guerra entre quadrilhas, paramilitares, guerrilha. Guerra em que o povo, os dirigentes sindicais, os trabalhadores perdem a vida e que alguns poucos nas mansões de Bogotá e de Miami enriquecem e vivem. O povo Venezuelano, o povo do Equador não deseja a guerra. Sim, nós sabemos, é o governo títere de Uribe o responsável. Mas, como lutar pela paz, como lutar pela unidade dos trabalhadores contra o imperialismo? Antes de tudo é necessário confiança no movimento operário, nos trabalhadores que eles pelo seu próprio movimento derrubarão, mais cedo ou mais tarde, a ditadura de Uribe. É o movimento operário que está hoje na vanguarda da revolução venezuelana, é ele que vai garantir a continuidade da revolução lá. E é do movimento operário que sairão as forças para impedir a guerra e derrotar Uribe.
Nós convidamos todos a lutarem contra a intervenção do imperialismo em nossos países. Convidamos a todos a se juntarem conosco na campanha de tirem as mãos da Venezuela. A repudiarem a agressão do governo fantoche de Uribe contra o Equador e as agressões verbais contra o mesmo Equador e contra a Venezuela. O momento é grave. O tempo urge e urge a tomada de medidas urgentes para impedir o alastramento da situação e o inicio real da guerra.