Era uma vez um submarino turístico chamado “Titan”, que desapareceu após submergir em direção ao náufrago do Titanic. Iniciou-se então uma ampla cobertura midiática, como em um reality show ao vivo. Durante alguns dias, a humanidade testemunhou os esforços conjuntos entre diferentes nações para encontrar os cinco tripulantes milionários. Foi aí que muitos começaram a questionar por que os jornais dedicaram tanto espaço a alguns turistas de luxo desaparecidos, mas praticamente ignoraram um barco superlotado de 700 migrantes que naufragou no Mar Mediterrâneo alguns dias antes. Se a tragédia é maior, ela não mereceria mais atenção?
Todas as análises divulgadas na própria mídia burguesa sobre a discrepância, no entanto, caíram no subjetivismo: ricos têm mais importância do que pobres, vivemos uma cultura do espetáculo que valoriza o herói individual etc. A culpa sendo “da sociedade”, logo, é de todos e de cada um de nós. Nada é respondido por esse caminho.
Em Prefácio à Crítica da Economia Política, Marx disse que a humanidade apenas se coloca problemas que pode resolver. E é exatamente pelo caráter burguês da mídia e pelo caráter burguês da sociedade atual que sabemos que é possível resolver o problema do submarino turístico, mas não o da migração. Talvez com outras tecnologias aplicadas aos equipamentos submarinos e maior regulação estatal das atividades turísticas, mais nenhum milionário morra em trágicos acidentes como esse. Contudo, é impossível no atual modo de produção resolver o problema da precária imigração via Mar Mediterrâneo.
Ou seja, enquanto os capitalistas europeus necessitarem de imigrantes para ocupar postos de trabalho com menor remuneração e rebaixar os salários gerais, além de se beneficiarem da exploração imperialista direta na Ásia e na África, os navios superlotados seguirão gerando tragédias no Mediterrâneo.
Tirando uma parte ínfima da classe dominante, xenófoba, a maior parte dos capitalistas europeus sabe que não pode acabar com a imigração ilegal. E por que não legalizam e fornecem uma melhor estrutura? Porque estabelecer parâmetros sobre quem são os “merecedores” para entrar em seus países ou sugerir que o Estado custeie a migração seria um escândalo, pois colocaria as necessidades brutais do sistema capitalista à mostra. Então que sobrevivam os melhores, que chegarão aos comércios e fábricas.
Portanto, as tragédias envolvendo migrantes só será resolvido a partir de um plano de desenvolvimento econômico que inclua todo o globo, o que inevitavelmente depende de uma economia socialista internacional para se efetivar; direcionada pelos interesses dos trabalhadores. Quem sabe, quando isso acontecer, até poderemos construir submarinos para que viagens turísticas profundas deixem de ser tão exclusivas e, de preferência, sejam mais seguras.
Nossa tarefa atual é construir um partido revolucionário internacional capaz de colocar os meios de produção e de coerção na mão da classe trabalhadora organizada. De tal forma, abriremos o caminho para mudanças, plenamente possíveis hoje, que evitarão a morte de milhares de proletários que perecem nas inúmeras tragédias cotidianas; esquecidas pela mídia burguesa no fundo do oceano de sua impotência em fornecer qualquer perspectiva para a humanidade.