Casos de corrupção em diferentes países e em diferentes áreas são noticiados, envolvendo políticos, empresários e até dirigentes de futebol. Tais episódios evidenciam parte da podridão do decadente sistema capitalista. No entanto, é preciso considerar que os casos divulgados são apenas a ponta do iceberg e, em geral, as investigações atendem a interesses políticos e de facções da burguesia.
A Operação Lava Jato é um exemplo evidente disso. Mas não só.
Em abril deste ano estourou o caso dos “Panama Papers”, o vazamento de documentos do escritório de advocacia panamenho responsável por organizar empresas fantasmas para guardar o dinheiro de grandes figuras da elite global em paraísos fiscais. Pelo menos 29 empresas da Fortune 500, as 500 maiores empresas do mundo, estão incluídas nos papéis investigados. São atingidos diretamente ou indiretamente (com familiares e assessores próximos), governantes e políticos de mais de 40 países. O primeiro-ministro da Islândia caiu por conta desse escândalo.
No entanto, curiosamente, nenhum político ou empresário norte-americano apareceu nos documentos. Pistas do real motivo desse fato surgem quando sabemos que o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (CIJI), que conduziu as análises dos documentos, é financiado pelas fundações Ford, Kellogg, Carnegie e Rockefeller, todas elas defensoras dos interesses da classe dominante dos EUA. Além disso, o CIJI recebe apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), órgão do governo norte-americano que trabalha em estreita colaboração com a CIA. Aqui no Brasil, a agência ficou conhecida pelos acordos com o governo militar durante a Ditadura.
Os organismos capitalistas não estão interessados em combater, de fato, toda a corrupção, pois ela é parte da engrenagem do sistema, envolvendo grandes corporações e governos de países imperialistas.
Marx e Engels já analisavam no Manifesto Comunista que “o estado moderno não passa de um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa”. Contrariando, dessa forma, a mística visão do estado como algo neutro, acima da luta de classes, que teria como função regular as relações sociais e econômicas.
Os recursos do estado vêm da apropriação, via impostos, da riqueza produzida pela classe trabalhadora. Uma fatia desse valor é utilizada para custear direitos e conquistas sociais arrancados pela luta de classe. Porém, majoritariamente, o dinheiro público, assim como o conjunto do aparelho estatal, está a serviço dos capitalistas.
Por um lado, a apropriação privada do dinheiro público pode se dar por meios ilícitos, incluindo a sonegação de impostos, propinas, superfaturamento de obras, desvios, etc. Por outro lado, mas não menos odioso, do ponto de vista dos explorados pelo sistema, é o dinheiro que deveria ir para saúde, educação, transporte, moradia, etc., e é desviado “legalmente” para salvar empresas “grandes demais para quebrar”, ou para o pagamento de uma fraudulenta dívida pública que alimenta banqueiros e especuladores, e que, no Brasil, consome quase 50% do orçamento da União.
Os analistas burgueses tentam apresentar a corrupção como a raiz de todo o mal. Extirpar ela faria com que os problemas sociais, a fome, o desemprego, a crise, fossem superadas. Contudo, isto é uma falácia. A corrupção é um ramo do problema, a raiz é outra, mais profunda, é o conjunto do atual sistema.
Não passa de ilusões, ou tentativa de iludir as massas, as propostas dos reformistas de controlar a corrupção, sem demolir os fundamentos da atual sociedade, defendendo que o centro é a luta pela “ética na política”.
O estado capitalista e suas instituições estão a serviço da preservação do roubo, pela classe dominante, da riqueza produzida pela classe trabalhadora. Isso já começa na origem, na produção dessa riqueza, com a apropriação da mais-valia pela burguesia, base do funcionamento do capitalismo, como Marx revelou.
No anárquico mercado, todos os meios são utilizados para superar a concorrência. Este é um sistema que explora, oprime e sacrifica vidas humanas para garantir e elevar o lucro de um punhado de parasitas.
A corrupção só pode ser combatida, verdadeiramente, expropriando a propriedade privada dos meios de produção da burguesia, colocando as indústrias e toda a economia nas mãos da classe trabalhadora. Como Marx disse, nossa tarefa é “quebrar a máquina burocrática e militar do Estado”. Varrer as velhas instituições, os políticos tradicionais, e instituir em seu lugar um estado operário, verdadeiramente democrático, baseado em conselhos compostos por deputados com mandatos revogáveis por quem os elegeu, ou seja, controlados pela base. Esses não podem receber mais do que o salário de um operário especializado, assim como todos os funcionários do novo estado, seguindo os ensinamentos da Comuna de Paris e da Rússia soviética antes da degeneração stalinista.
Esta é a sociedade que pode acabar com a corrupção, os privilégios, organizar a produção e a distribuição da riqueza para o bem comum e libertar a humanidade da podridão capitalista.
Artigo publicado na edição 92 do jornal Foice&Martelo, de 20 julho de 2016.