Em todo o mundo a luta contra a volta às aulas presenciais se acirra. Interrompidas por conta da pandemia ocasionada pela disseminação do novo coronavírus, vemos debates intensos sobre essa questão.
A mídia burguesa segue em ampla campanha a favor do retorno internacionalmente. Trabalhadores da educação e estudantes, por sua vez, organizam-se contra mais esse ataque.
Nos EUA vimos greves e piquetes unificando pais, mães e professores combatendo o retorno às aulas presenciais em vários estados e em várias localidades. Na Espanha, vimos greves de estudantes e professores contra o retorno às aulas presenciais. Na África do Sul o governo está em um “vai e vem” quanto ao retorno às aulas presenciais, pois a cada reabertura os casos e mortes aumentam.
No geral, novos surtos de contágio têm ocorrido como consequência direta da reabertura das escolas em todo o mundo. Um deles a salientar é que, entre julho e agosto deste ano, a Academia Americana de Pediatras dos EUA constatou aumento de 100% no número de casos em crianças nos EUA (dados de 44 estados) num contexto de reabertura de escolas em alguns estados.
No Brasil, a situação não é diferente. Se em países com índice de contágio e morte pelo novo coronavírus muito inferior aos brasileiros a discussão está acirrada, aqui o debate segue sendo de absoluta primazia na comunidade escolar. Por isso a mídia burguesa não mede esforços em sua campanha pela reabertura.
Da mesma forma que BBC, CNN, NY Times e tantos outros, os principais jornais e redes de TV em todo o país seguem pressionando pelo retorno.
É preciso compreender que o último grande obstáculo para a reabertura completa da sociedade são as escolas. A classe capitalista pouco se importa com centenas de milhares de vidas proletárias perdidas em todo o mundo. Ou mesmo as sequelas que essa doença deixa aos sobreviventes, às vezes demorando meses a mais de recuperação por falta de um serviço público gratuito e de qualidade de assistência aos trabalhadores. Assim, a palavra de ordem da burguesia é retomada dos lucros, desconsiderando completamente as vidas proletárias.
O Brasil segue sem conseguir reduzir o número de casos e morte de modo significativo. Apesar disso, as mídias se apegam a quaisquer impressões para validarem suas políticas de ataque à classe trabalhadora. Afirmam a “estabilidade” no estado de São Paulo, por exemplo, para justificar a política de reabertura de Dória para 7 de outubro. Isso num quadro de 200 mortes por dia! Além disso, o Rio Grande do Sul, onde as aulas já retornaram, está, de acordo com a própria Folha de São Paulo, classificado em situação de aceleração da taxa de contágio. Nem em nível estatístico a burguesia consegue amparar seu cínico discurso.
A situação no país segue em disputa. Dez estados brasileiros já têm data para o retorno: São Paulo, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Sergipe planejam o retorno para outubro e Rondônia para novembro. Treze estados têm possibilidade de retorno em 2021, embora sem previsão: Alagoas, Amapá, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Piauí, Roraima e Tocantins. Dois já retornaram parcialmente às aulas presenciais: Amazonas e Rio Grande do Sul. Somente Rio Grande do Norte e Acre já anunciaram que a chance é muito alta de retorno somente em 2021.
Como vemos, a maior parte dos estados tem situação indefinida. Mesmo aqueles com previsão ainda estão em situação de disputa, como é o caso de São Paulo. Mas e as direções?
Após analisar as páginas e redes sociais dos principais sindicatos dos trabalhadores da educação e de professores em todo o país, em nível estadual, constatamos que o maior aliado a favor da volta às aulas presenciais são as próprias burocracias sindicais.
A situação é trágica: nos estados com retorno já em vigor, somente um sindicato minoritário do Amazonas chamou greve, a Asprom. Ficou isolado frente ao principal sindicato da categoria (Sinteam), sendo a greve derrotada. No Rio Grande do Sul, o principal sindicato (CPERS) nem sequer convoca uma assembleia para pensar a luta efetiva em defesa da vida dos trabalhadores.
Nos estados da Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rio Grande do Norte, os principais sindicatos dos trabalhadores da educação manifestam grande apatia em relação ao retorno às aulas presenciais. Com exceção do Rio Grande do Norte, que já anunciou retorno para 2021, e do SINTEP (MT), que até organizou de modo tímido algumas reuniões sobre o tema, os outros mencionam como destaque, quando muito, campanhas salariais, FUNDEB, mas nada da principal luta da educação brasileira no momento.
No Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Pará, Paraíba, Piauí, São Paulo e Rio de Janeiro vemos que os sindicatos, estadualmente, promovem campanhas e notas contra o retorno às aulas presenciais, mas nada de assembleia e muito menos greve. Uma única cidade do interior do Rio de Janeiro onde voltaram as aulas presenciais, Cabo Frio, organizou uma greve.
Destes, o exemplo mais notório é o da APEOESP: provavelmente campeão de notas contra o retorno às aulas presenciais, mas que se recusa a convocar uma assembleia para organizar a categoria e ainda negocia com o governo Dória termos de retorno às aulas presenciais.
Somente a APP-SINDICATO no Paraná anuncia em seu site que fará greve em caso de proposta de retorno por parte do governo.
O fato mais expressivo é que a maior parte dos sindicatos aqui destacados são ligados à CUT e à CNTE, que só existem para a centralização nacional das lutas e nada fazem para impulsionar ou unificar as mobilizações em defesa da vida. Quanto ao movimento estudantil, a situação não é menos trágica. A UNE mal comenta a luta contra o retorno e a UBES luta por um “retorno seguro”.
Como Leon Trotsky explicou em seu texto clássico, o Programa de Transição, hoje a crise da humanidade se resume à crise de direção do proletariado. A situação da educação reflete isso de maneira transparente. Embora exista disposição de luta na base das categorias contra o retorno às aulas presenciais, há um bloqueio violento contra esse ânimo.
Mas como disse Trotsky no mesmo texto: “As leis da História são mais poderosas que os aparelhos burocráticos”.
Independente das direções traidoras, cabe a nós continuar a luta. Devemos trabalhar para construir um forte movimento de base contra o retorno às aulas presenciais, pressionar a CUT, CNTE, UNE e UBES a unificar as lutas em todos os estados, construir a greve geral da educação contra o retorno às aulas presenciais e promover uma derrota expressiva ao governo Bolsonaro nacionalmente.
Esse é o combate da Esquerda Marxista! Junte-se a nós!
Sem vacina, sem aula!
Fora Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais!