O Diretório Nacional do PT realizado em Fortaleza, dias 1º e 2 de março, se instalou com todos os jornais do país dando na capa a entrevista de Joaquim Barbosa em que declara que pretende que Zé Dirceu, Genoíno e todos os outros condenados estejam presos antes de 1º de julho.
O Diretório Nacional do PT realizado em Fortaleza, dias 1º e 2 de março, se instalou com todos os jornais do país dando na capa a entrevista de Joaquim Barbosa em que declara que pretende que Zé Dirceu, Genoíno e todos os outros condenados estejam presos antes de 1º de julho. Uma declaração tão brutal que provocou uma imediata declaração de repúdio das três maiores associações de magistrados do Brasil. Ver mais em: (http://blogdofred.blogfolha.uol.com.br/2013/03/02/juizes-criticam-declaracoes-de-barbosa/).
O DNPT, infelizmente, não foi capaz nem disso.
A reunião foi aberta por um discurso de Lula marcando a agenda do partido e sua orientação política para 2013. Um pequeno resumo: “A mídia conservadora continua atacando. A oposição não tem discurso porque nestes 10 anos de governo foi feito tudo o que eles pensavam, mas muito mais e melhor. O objetivo de reeleger Dilma deve subordinar as alianças nos estados e tudo o mais. A aliança prioritária nacional continua com sendo com o PMDB, mas devemos tentar ampliar o arco de alianças. Queremos todo mundo no nosso projeto. Não queremos romper com ninguém.”
“É preciso responder se alguém nos acusa de corrupção (referindo-se ao julgamento do STF), mas se alguns companheiros cometem erros devem ser punidos.”
Lula continua: “O PT deve reorganizar sua própria mídia com centro na internet. A economia deve ter como centro o consumo interno e distribuição de renda. Primeiro produzir para consumir aqui e exportar o excedente.”
Isso foi dito sem corar o criador do PAC, que é um pacote de 600 bilhões de reais para modernizar portos, aeroportos, ferrovias e polos de exportação. Aliás, como se a economia brasileira não fosse dominada por multinacionais e centrada na exportação.
Contou que durante oito anos de governo não conseguiu “dar nenhuma concessão de rádio ou TV para os sindicatos, exceto uma cujo sinal que não chega nem a São Paulo”. E que esta dificuldade continua atualmente com Dilma. Entenda quem quiser, pois durante seu governo todas as igrejas evangélicas e políticos corruptos, burgueses reacionários se encheram de concessões de rádios e TVs.
Lula não prega prego sem estopa
Uma pequena crônica da fala de Lula e seu diálogo com a Esquerda Marxista, ou seja, comigo, Serge Goulart. Lula entrou pelo lado direito do salão e foi em direção ao palco cumprimentando os companheiros, abraçando, etc. Quando já se aproximava do palco me viu na terceira fila e voltou em minha direção, me abraçando e entabulando uma conversa pessoal.
Bem, nada de muito esquisito entre velhos companheiros fundadores do PT. Mas, a coisa continuou.
Quando começou a falar dos problemas econômicos, desonerações, etc., sem motivo aparente ou explicação, começou a contar a história da Cipla, da ocupação e nossas audiências com ele em Brasília, referindo-se diretamente a mim e aos companheiros das fábricas ocupadas. E explicou que nós lhe pedíamos que estatizasse as fábricas e que ele não queria estatizar (porque não achava estratégico, segundo disse), mas ofereceu fazer cooperativa e colocar dinheiro do BNDS, mas que eu e os companheiros recusamos respondendo “Lula, nós não queremos virar patrão. Queremos estatização.”
Depois perguntou como acabou “aquilo” e eu lhe disse que a polícia federal tomou a fábrica a pau. Então, ele disse que peão não quer ser peão e eu devia entender isso. Respondi do plenário que sou comunista. Ele sacudiu a cabeça rindo dizendo “não tem jeito!”
Quando se retirou do palco uma multidão de dirigentes o cercava para fotos, dizer algo etc. Devagar foi passando por todos e saindo. De repente, vem novamente em minha direção extremamente efusivo, me abraça falando de que é bom se reencontrar, perguntando coisas familiares, etc.
De fato, Lula é extremamente simpático, divertido e envolvente. Uma pena sua política ser pró-capitalista, de sustentação da exploração dos trabalhadores pelos capitalistas e uma permanente demagogia em direção aos trabalhadores. Uma pena e um desserviço à classe trabalhadora e ao socialismo.
Obviamente que tanta deferência pessoal tem um objetivo político de paralisar a Esquerda Marxista, de buscar integrar no quadro atual do parlamento de tendências a única corrente que mantém total independência da política de colaboração de classes.
Erraram o pulo outra vez. Uma vez mandaram a polícia federal nos atacar na Cipla e tomaram a fábrica, nos acusam em juízo de todo tipo de falsidade. Depois, abraços. Bem, continuaremos abraçando Lula e dizendo aos trabalhadores e à juventude o que significa sua política e organizando contra ela. Também somos um pouco simpáticos.
O debate no Diretório
Após Lula falar se inicia o ponto de conjuntura em que a CEN distribui um projeto de resolução para discussão. No texto nem uma palavra sobre a AP 470 ou as ameaças de prisão dos dirigentes do PT.
Fui o primeiro a falar reapresentando a proposta de luta pela anulação da sentença do STF, assinada por centenas de sindicalistas, parlamentares e jovens petistas.
Wagner, presidente da CUT falou em seguida sobre a marcha da CUT, dia 6 de março, e de que “melhorou muito o diálogo com Dilma”. Só que as reivindicações continuam sem ser atendidas. A CUT precisa parar de jogar no tapetão e organizar nas ruas a luta, parar de se fingir da morta e unificar de fato as lutas. Só que para isso tem que romper com sua política de colaboração de classes, com o tripartismo. Wagner nem tocou na questão das condenações.
Valter Pomar (AE) falou da situação internacional. Não tocou na questão das condenações e se concentrou na resolução sobre regulamentação da mídia.
Markus Sokol, (O Trabalho) defendeu uma “Reforma Política necessária” através de plebiscito ou Constituinte. Criticou medidas da Dilma como a MP dos portos e sobre a questão do STF disse que é necessário lutar em defesa das organizações e das liberdades democráticas. Nem uma palavra sobre nossa proposta de luta pela anulação da AP470. Mais tarde, Markus Sokol faria uma emenda pedindo a anulação. Claro que escreveu que “A democracia, um julgamento justo, exigem a anulação da AP 470”. Na linguagem dúbia que o caracteriza expos sua linha de “defesa da democracia” onde abandona o socialismo e se afunda na revolução por etapas. Julgamento justo?! Com este STF?! Julgamento de uma fraude política do MP e do STF?!!
Mas, a mais escandalosa intervenção foi a do deputado André Vargas (PR), que explicou que “lamentamos as condenações, mas temos que ser pragmáticos (usou estas palavras!), e devemos seguir adiante com a outra agenda”. Pegou a linha de Lula e com sua mediocridade e brutalidade peculiares desfraldou a bandeira de abandonar os companheiros no cárcere.
Uma intervenção incompreensível e patética foi a da companheira Monica Valente, companheira de Delúbio, que falou explicitamente contra nossa proposta de luta pela anulação. Segundo ela não precisamos de Encontros e mobilizações, o que precisamos é, “… como o presidente Rui Falcão está fazendo, construir uma narrativa para os militantes”.
A Resolução Política da Executiva Nacional louva o governo e sua política, reafirma as alianças com os partidos burgueses, e se pronuncia por uma reforma política. Mas, “realista”, acabou assumindo a “reforma política possível”, que se resume ao pedido de financiamento público das campanhas eleitorais. O que vai atrelar de fato os partidos diretamente ao Estado burguês, etc. Votei contra esta resolução de financiamento estatal das atividades partidárias, obviamente.
Um passo muito pequeno, mas a discussão continua
É evidente a tensão na reunião por causa de nossa proposta. Alguns membros do DNPT intervêm dizendo que é preciso fazer alguma coisa, etc. Pressionados pela situação Rui Falcão apresenta uma “emenda” ao texto que, pela primeira vez, dá um pequeno passo, bem pequeno, mas significa que a coisa se mexe e começa a destravar. O texto original não tocava no assunto.
A emenda está no terreno da legalidade do STF, mas recoloca a questão da luta contra a sentença mesmo que nos marcos dos encaminhamentos jurídicos ainda possíveis. Obviamente vai dar em nada, pois o STF vai reafirmar a barbaridade que cometeu.
Eis a emenda: “Com a retomada do julgamento da Ação Penal 470 pelo STF, que deverá publicar os acórdãos e abrir prazos para a apresentação dos Embargos – que pleiteamos sejam acolhidos no mérito – o Diretório Nacional reafirma os termos da Nota da Comissão Executiva Nacional aprovada em 14 de novembro de 2012.”
Obviamente esta “emenda” tinha como objetivo também de cortar o caminho para a votação de nossa proposta dando uma saída ou válvula de escape para os incomodados e descontentes.
Frente a essa situação, fiz um acordo. Rui me dá a palavra e retiro de votação nossa resolução apoiando a emenda do Rui com a condicionante de que continuaremos a recolher assinaturas e que no próximo DNPT a Resolução será representada e que se os companheiros forem presos a questão automaticamente se recoloca a qualquer hora.
A DN teve que colocar a questão na resolução, não houve bloqueio da nossa iniciativa que prossegue, e creio que estamos levando a questão num crescendo até o momento em que os dirigentes estarão confrontados a sua própria base inapelavelmente. Ninguém pode nos acusar de impaciência, de atropelar, mas sim de firmeza inabalável sobre a linha que é de luta contra a criminalização, de defesa das organizações dos trabalhadores e de defesa dos companheiros do movimento operário contra os ataques da burguesia, independente de suas posições políticas e seu programa. Que, aliás, combatemos abertamente no movimento.
Explicar isso aos trabalhadores e à juventude, essa é nossa tarefa.