A importância da imprensa operária na luta dos trabalhadores

No mês de maio, a Esquerda Marxista lançou a primeira edição do jornal Tempo de Revolução, em substituição ao Foice & Martelo, publicado entre 2013 e 2020. Os dois jornais se inserem em uma longa tradição de publicações de organizações operárias, associadas às lutas dos trabalhadores. Nessa tradição, os jornais mais emblemáticos possivelmente são aqueles produzidos pelos bolcheviques, na Rússia, como o Pravda. No Brasil, nessa tradição, se inserem publicações diversas, como os jornais A Plebe, difundido na Primeira República, com um viés sindicalista revolucionário; Spártacus, produzido por militantes operários sob a influência da Revolução Russa e que viria a ser um dos núcleos a convergir na fundação do PCB; e Homem Livre, publicação antifascista da qual participou a primeira geração de trotskistas do Brasil. Entre as publicações produzidas nas décadas mais recentes, um dos mais importantes certamente é o jornal O Trabalho, que foi a principal voz da tradição trotskista nos últimos anos da brutal ditadura derrotada pela luta dos trabalhadores na década de 1980.

Entende-se por imprensa operária as publicações ligadas a alguma forma de organização da classe trabalhadora, sejam partidos, sindicatos ou quaisquer outras agremiações. Ela se distingue da grande imprensa por sua forma de circulação, ligada diretamente à militância cotidiana, caracterizando-se como um meio de informação, conscientização e mobilização dos trabalhadores aos quais se dirige. Essa imprensa também se diferencia pelo fato de seu conteúdo ser resultado do conjunto de informações, preocupações e propostas produzidas por certa coletividade e serem a ela dirigidas. Um traço marcante passa pelo fato de que essa imprensa é financiada pela contribuição dos membros e apoiadores da organização. Essa imprensa é parte constitutiva do movimento operário e de suas lutas, sendo “o resultado de uma participação efetiva do individual e do coletivo no processo histórico”.1

Um desdobramento da imprensa operária é aquele produzido pelos partidos e organizações de esquerda, especialmente os que reivindicam a tradição marxista. O PCB, fundado em 1922, logo iniciou a publicação de seus materiais, como os jornais A Classe Operária (1925) e A Nação (1926) e revistas como Movimento Comunista (1922). Os trotskistas publicaram jornais como A Luta de Classes, principal ferramenta política da corrente ao longo da década de 1930.

Para além da prática de publicação desses materiais, a imprensa operária também passou pela reflexão teórica de alguns de seus principais dirigentes. Lenin, no período de consolidação do partido operário russo, fez uma árdua batalha para demonstrar a importância do jornal como forma de síntese política, organização e propaganda das posições revolucionárias.

“Antes de mais nada, precisamos de um jornal; sem ele não será possível realizar de maneira sistemática um trabalho de propaganda e agitação múltiplo, baseado em princípios sólidos, que em geral constitui a tarefa principal e permanente da socialdemocracia e que é particularmente vital no momento atual, quando o interesse pela política, pelos problemas do socialismo, vem crescendo nas mais amplas camadas da população”.2

Trotsky também se debruçou sobre a questão da imprensa operária. Em um período posterior à vitória de 1917, Trotsky procurou demonstrar a importância do jornal no próprio processo de construção da nova sociedade.

“Um jornal, como já dissemos, deve antes de tudo informar corretamente. Não poderá ser um instrumento de educação se a informação não for correta, interessante e exposta judiciosamente. Um dado acontecimento deve primeiro ser apresentado de forma clara e inteligível: deve precisar onde o fato se passa e como se passa”.3

O tema foi também debatido no processo de organização dos partidos que faziam parte da Internacional Comunista (IC), fundada em 1919. Em suas resoluções, a IC apontava que nenhum jornal poderia ser reconhecido como “órgão comunista” se não se submetesse às diretrizes do partido. Essa compreensão se estende a outras publicações, como livros e demais tipos de publicações, ainda que o jornal esteja no centro da propaganda das organizações comunistas. O jornal, para os comunistas, deve tornar-se

“uma organização proletária de combate, uma associação de operários revolucionários, de todos os que escrevem regularmente para o jornal, que o compõem, imprimem, administram, distribuem, reúnem o material informativo, discutem e elaboram nas células, enfim, que trabalham cotidianamente para distribuí-lo”.4

Portanto, na tradição política e teórica que reivindicamos, o jornal é encarado como uma construção coletiva dos membros do partido, sendo parte orgânica da classe, tendo como principal tarefa difundir análises políticas e orientações para as lutas dos trabalhadores. Os temas passam pela difusão de discussões sobre a conjuntura nacional e internacional, as ações políticas das classes sociais, a situação e a condição de vida dos trabalhadores, as diversas lutas sociais, bem como análises e notícias sobre a luta de classes em outros países. O que acontece de relevante no partido, no país e no mundo deve ser noticiado e analisado criticamente nas páginas do jornal da organização revolucionária.

Esses são alguns dos elementos históricos e teóricos que motivam a publicação do Tempo de Revolução, como antes o Foice & Martelo, procurando mostrar uma análise marxista da situação concreta e, da mesma forma, ser parte das lutas dos trabalhadores. Isso faz com que ele seja o principal instrumento na organização dos militantes revolucionários e expressão de seu nível teórico. Lenin, em defesa da importância da teoria, afirmava que

todo culto da espontaneidade do movimento de massa, todo rebaixamento da política socialdemocrata ao nível da política trade-unionista se resume justamente em preparar o terreno para transformar o movimento operário em um instrumento da democracia burguesa”.[5]

Nesse sentido, convidamos todos a conhecer o Tempo de Revolução, assinando o jornal e, dessa forma, apoiando a continuidade da imprensa operária independente e revolucionária.

Notas e referências:

1 Maria Nazareth Ferreira. Imprensa operaria no Brasil. São Paulo: Ática, 1988, p. 13.

2 Vladimir Lenin. Que fazer? São Paulo: Martins, 2006, p. 100.

3 Leon Trotsky. O jornal e seu leitor. In: Questões do modo de vida. A moral deles e a nossa. São Paulo: Sunderman, 2009, p. 21.

4 Tesis sobre la estructura, los métodos y la acción de los Partidos Comunistas. In: Internacional Comunista. Los Cuatro Primeros Congresos de la Internacional Comunista. 2ª ed. México: Pasado y Presente, 1977, v. 2, p. 90.

5 Vladimir Lenin. Que fazer? São Paulo: Martins, 2006, p. 211.

Para saber mais:

O bolchevismo e a imprensa operária

Imprensa livre e de classe: a importância das tradições operárias

Um novo jornal, para um tempo de revolução