A melhor forma de combater Bolsonaro (Parte 2)

Este artigo foi originalmente publicado no Foice&Martelo, publicação que analisa a situação política nacional e internacional de um ponto de vista marxista e das tarefas revolucionárias. Conheça o jornal, assine e tenha acesso exclusivo ao conteúdo completo do número vigente e ao acervo de edições. Confira a edição em vigor.

Leia a Parte 1

Regredir ao Século 19

Paulo Guedes, economista de Bolsonaro, defende o que juntos chamam de uma agenda liberal-democrática para o Brasil, o que envolve, em termos bem claros, entregar as empresas estatais como meio rápido de gerar divisas para o pagamento da dívida pública; aumentar a exploração direta da força de trabalho, reduzindo direitos trabalhistas e previdenciários e o alcance das convenções coletivas de trabalho. A proposta da Carteira Verde-Amarela significa fazer prevalecer o negociado sobre o legislado em toda a regra, com os patrões “negociando diretamente” com os trabalhadores. O que ele pretende é nos fazer retornar às condições descritas por Engels em 1845:

‘‘Em muitas regiões, nomeadamente no norte de Inglaterra, há o costume de contratar os trabalhadores por um ano. Comprometem-se a não trabalhar para mais ninguém durante este período, mas o patrão, esse não se compromete a dar-lhes trabalho; ficam muitas vezes sem trabalho durante meses, e se procuram trabalho noutro lado mandam-nos para a prisão durante 6 semanas por abandono do posto (…)’’ (A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra)

Bolsonaro quer se eleger para atacar o conjunto da classe operária e sua juventude.  E por isso nos contrapomos à ele, explicando que o nosso combate é pelos interesses da classe trabalhadora em seu conjunto.

O grupo “Mulheres Contra Bolsonaro” arrastou vários outros movimentos e categorias à luta nas ruas, o que é, sem dúvida, a expressão da resistência e da disposição de luta. Nós explicamos que a luta é contra Bolsonaro e todos os outros candidatos burgueses. A emancipação dos trabalhadores será obra deles próprios e para isto precisamos nos organizar para combater o capitalismo.

E a educação das nossas crianças?

Bolsonaro afirmou, quando perguntado por jornalistas, que todos os níveis de ensino poderiam ser à distância. Ele é a favor do projeto “Escola Sem Partido” e expressa com essa intenção: a) o sucateamento da educação básica, onde o convívio social e a interação são extremamente importantes para o desenvolvimento da criança em sociedade; b) um completo ataque à existência de todos os professores como categoria; c) o aprofundamento do sucateamento da educação pública, laica e para todos. E não nos esqueçamos, se ele usa a fraseologia antimarxista para sustentar essa intenção, o que está por trás é uma sinalização aos tubarões do ensino sobre sua intenção de redução de custos e de mais um mercado para explorarem.

Bolsonaro é fascista?

Desde 2013 a tese da chamada “onda conservadora” vem sendo desenvolvida pelo PT e outros que se proclamam socialistas no Brasil. Essa tese, por um lado, covardemente responsabiliza os trabalhadores pela eleição do “congresso mais reacionário da história”; pelo impeachment de Dilma e agora pela posição de Bolsonaro nas pesquisas, ou seja, o avanço do fascismo e das forças conservadoras. Por outro lado, busca exercer uma pressão sobre as organizações de esquerda em torno da defesa da política de colaboração de classes do PT e de Lula. Fomos contra o impeachment de Dilma e a prisão de Lula sem provas, mas não nos rendemos a essa tese.

Chamá-lo de fascista é uma qualificação incorreta no estágio atual; ele não dirige uma organização militarizada voltada para destruir, moral e fisicamente, a classe operária, não tem base organizada e incitada com esse fim; Se a burguesia tem incômodos com relação a Bolsonaro, o maior deles é exatamente a lembrança do que acometeu Collor, também eleito ao arrepio dos políticos tradicionais burgueses. Mais do que a “incompetência” ou “incoerência” de Bolsonaro, o que mais incomoda a burguesia é a lembrança do “Fora Collor”, com milhões nas ruas. Por isso a burguesia teme aderir a ele e setores importantes dela tendem a fazer campanha para o PT.

Para combater Bolsonaro precisamos chamá-lo pelo que ele é: um candidato de ataque aos trabalhadores, um defensor da tortura e um defensor das desigualdades criadas ou aprofundadas pelo capitalismo. Um demagogo de direita que se utiliza do sentimento antissistema do povo para reforçar as ilusões no próprio sistema. Chamá-lo de machista, racista e homofóbico (o que ele é) nada resolve (a maioria dos candidatos burgueses também o são). A facada em Bolsonaro só o deixou na posição de “coitadinho” e o afastou dos debates, impedindo que suas declarações antioperárias fossem mais disseminadas.

Para combatê-lo, temos que estar organizados antes e depois das eleições, fazendo a propaganda contra o capitalismo e pelo socialismo, trabalhando ativamente pela construção da direção revolucionária, que é a única chave para abrir as portas do reino da liberdade e jogar de vez tipos como Bolsonaro para a lata do lixo da história.