A Terceira Internacional e a luta das mulheres

No quinto dia da Escola Mundial de Verão da CMI tomou lugar a discussão sobre a Terceira Internacional e a luta das mulheres, uma discussão fundamental que demonstra a importância que os comunistas sempre deram à luta das mulheres trabalhadoras por sua emancipação.

A camarada Marie, da seção Dinamarquesa, responsável pelo informe, explicou que a Terceira Internacional apresentava uma abordagem diferente da segunda Internacional sobre a questão da mulher. Essa diferença estava baseada em dois aspectos teóricos e históricos. O primeiro está no livro de Engels, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, que é a base da abordagem que herdamos da Terceira Internacional. A partir dos estudos de Engels, demonstra-se que a família nem sempre foi monogâmica e que a mulher nem sempre foi oprimida. Que foi a partir do desenvolvimento da agricultura e da produção de excedente que ocorreu a formação das classes sociais e a mudança de direito hereditário, tirando-o da mãe e concedendo-o ao pai. Essa foi, segundo Engels, a derrota histórica do sexo feminino, pois a partir daí, as mulheres passaram a ser escravas do marido e do lar por milênios.


É só a partir do desenvolvimento da produção capitalista, que se apresentam novamente as condições para a emancipação das mulheres e de toda a humanidade. E esse é o segundo aspecto teórico e histórico fundamental na formulação da Terceira Internacional. Compreendemos que a história, desde o surgimento da propriedade privada, é a história da luta de classes e que, no seio da sociedade antiga, emergiu a classe que, por meio de revoluções, se libertava da exploração e opressão da classe dominante. A classe operária, criada pelo capitalismo, não tem nada além de sua força de trabalho e, portanto, ao se libertar, tem a vocação de libertar toda a humanidade da opressão e exploração.

O capitalismo, contraditoriamente, também permitiu que se desenvolvessem os meios necessários para libertar a mulher de sua escravização material, inserindo-a na produção social e a retirando da esfera privada do lar.

Conclui-se, portanto, que a mulher nem sempre foi oprimida e que, logo, não existe um opressor natural. A opressão da mulher tem base na sociedade de classes e por isso a sua luta pelo comunismo é a única forma de emancipação real, pois só o comunismo é capaz de destruir as classes sociais.

A partir dessa abordagem teórica, a Terceira Internacional organiza comissões para iniciar o trabalho com as mulheres. É organizado em 1919, no mesmo ano de fundação da Comintern, um Congresso das Mulheres Soviéticas que reúne 1200 mulheres. É a partir desse congresso que se estabelecem os princípios para o trabalho de propaganda e a agitação entre as mulheres. Em 1920, estabelece-se um secretariado para organizar esse trabalho e inicia-se a produção teórica em revistas voltadas à educação das mulheres operárias sobre o comunismo, sobre questões específicas das mulheres e sobre a URSS. Em 1921, aprovam-se as resoluções sobre as formas e métodos de trabalho entre as mulheres nos países capitalistas e na URSS.

Esse trabalho se iniciou porque o Partido Bolchevique e a Terceira Internacional reconheciam a influência de uma opressão de milênios na psicologia das mulheres e homens, sem abrir mão da certeza de que era necessário unir todos os trabalhadores na luta pelo comunismo. Compreendia-se que era preciso enfrentar e combater os aspectos específicos ligados à exploração do proletariado feminino. Foi a partir da compreensão dessa especificidade que elaborou-se planos de organização e construção de lavanderias coletivas, restaurantes e creches públicas e gratuitas para todas as crianças. Foram essas concepções que levaram a URSS a ser o primeiro país a elaborar leis que tornavam iguais homens e mulheres, ter uma primeira ministra, garantir o direito ao divórcio, o direito ao aborto e descriminalizar a homossexualidade.

A degeneração estalinista foi responsável por desmontar toda essa estrutura, pondo abaixo seus fundamentos teóricos. A razão para isso é que o estalinismo se apoiava nas camadas mais atrasadas da sociedade e, portanto, entre outras políticas, precisava fortalecer as instituições como a família nos moldes tradicionais. Por isso, o divórcio passou a custar muito caro, impedindo o acesso das mulheres pobres à esse direito; a homossexualidade foi recriminalizada, a partir do argumento de que era uma expressão da degeneração capitalista e da influência do fascismo e também aboliu-se o departamento de trabalho entre as mulheres.

Essas são lições importantes sobre como o marxismo genuíno nunca secundarizou a questão da mulher e como a degeneração estalinista foi reacionária, inclusive nesta questão.


Durante a discussão foram apresentadas as questões da diferença salarial entre homens e mulheres – que permanece em muitos lugares do mundo -, cotas de gênero e participação na política, individualismo pequeno-burguês, a necessidade do estado operário para a emancipação das mulheres e a revolução sudanesa e o papel das mulheres.

No encerramento, tratou-se sobre o cuidado que devemos ter aos nos comunicarmos com as novas camadas da juventude que se radicalizam contra a opressão da mulher, tendo paciência e explicando nossas posições, com orgulho da teoria e das experiências que temos. Essas são as ideias que vão nos permitir derrubar o capitalismo e começar a erguer a sociedade que terá como tarefa libertar a humanidade de toda exploração e opressão para se relacionarem como seres humanos.