Assassinado um membro do Comitê Central do Partido Comunista da Venezuela

O dirigente do Partido Comunista da Venezuela, Luís Fajardo, foi assassinado na noite de quarta-feira (31/10) quando voltava para casa com seu cunhado, Javier Aldana, que também faleceu no ataque. Ambos seguiam em uma motocicleta às 9 horas da manhã quando receberam uma rajada de tiros de um veículo em movimento. Os dois homens eram ativistas camponeses e militantes comunistas envolvidos na luta pela reforma agrária na região sul do Lago Maracaibo e já haviam solicitado proteção porque tinham recebido ameaças de morte.

Fajardo, de 49 anos, nasceu em Portuguesa, mas viveu na região Panamericana entre Mérida e Zulia, a oeste do país, durante muitos anos, onde se tornou um dos principais líderes camponeses. Em 2001 jogou um papel dirigente na luta pela expropriação da fazenda Fundo Santa Ana pertencente a uma das principais famílias da oligarquia zuliana. Luís Fajardo desempenhou um papel destacado na recuperação da fazenda de Caño Rico, que possui mais de 500 hectares, cujos proprietários mantinham improdutiva. Cerca de 250 famílias de camponeses sem terra decidiram ocupar a fazenda e estavam lutando para obter o reconhecimento legal do Instituto de Reforma Agrária (INTI). O Partido Comunista denunciou várias vezes as ameaças de morte contra Fajardo, fornecendo informação detalhada sobre de seus autores. Em junho deste ano, o partido havia denunciado “intimidação e ameaças de morte” contra seu membro “por funcionários da Guarda Nacional (GNB), liderados pelo capitão José Villasmil Toro, comandante do Posto de Fronteira nº 32 de El Batey, município de Sucre (Zulia) e pelo sargento-ajudante Freddy Ojeda”. Em julho, o PCV denunciou novamente as ameaças de morte e nomeou especificamente o “diretor regional do INTI, o legislador (do PSUV) Guly Bert Antúnez, o capitão (GNB) José Villasmil Toro e a juíza da 4ª Vara Agrária” por sua responsabilidade por “assédio ao movimento agrário e ameaçando a vida de Luís Fajardo, líder camponês e membro do Comitê Central do PCV”. O secretário-geral do PCV, Oscar Figuera, explicou como “a direção nacional do PCV denunciou por diversas vezes as ameaças à vida de nosso combativo camarada Fajardo, sem que as autoridades adotassem as medidas de proteção adequadas”.

Figuera responsabilizou pelo assassinato “aos latifundiários do Sul do Lago, a membros da Guarda Nacional e a políticos corruptos que, publicamente, ameaçaram-no”. Fajardo também foi uma figura destacada na Marcha Camponesa Admirável, em julho e agosto deste ano. Centenas de camponeses marcharam quase 450 quilômetros desde Guanare (Portuguesa) até a capital, Caracas, para exigir uma solução para os problemas que enfrentam os ativistas camponeses, entre eles as ameaças de morte e os assassinatos. Depois de inicialmente ignorar a marcha e impedir que os meios de comunicação estatais a mencionassem, o presidente Maduro se reuniu com os manifestantes em uma reunião que foi transmitida ao vivo pela emissora de televisão nacional. Vários compromissos com os camponeses foram feitos nessa reunião, mas foram rapidamente esquecidos. Os que participaram da marcha iniciaram uma greve de fome em setembro que obrigou a novos compromissos por parte do governo para cumprir com as exigências dos camponeses.

Poucas horas depois da reunião entre o presidente Maduro e os manifestantes camponeses no dia 2 de agosto, três ativistas camponeses foram assassinados em Barinas. Os três mortos haviam participado do primeiro trecho da marcha camponesa. Os camponeses foram sequestrados por homens armados, levados a outra fazenda e assassinados a tiros. Os porta-vozes da Marcha apontaram Ricardo Mora, um latifundiário regional, como autor intelectual do cruel assassinato. Duas semanas depois, três pessoas foram presas por relação com o assassinato, entre elas Ricardo Mora, que foi detido em Bogotá (Colômbia).

A região do Sul do Lago, que se estende ao longo da rodovia Panamericana através dos estados de Mérida e Zulia, é marcada por alguns dos conflitos mais violentos relacionados à reforma agrária. Esta é também uma rota para a infiltração paramilitar colombiana na Venezuela.

A direção do PCV exigiu das autoridades “uma exaustiva investigação e uma punição exemplar para os culpados”. Entretanto, a luta pela reforma agrária na Venezuela está impregnada de exemplos de ativistas camponeses impunimente assassinados.

No início do mês passado, outro ativista do PCV sofreu um atentado à vida. Em 9 de outubro, Robinson García, dirigente comunista e camponês do estado de Barinas, seguia para a capital regional da fazenda em que trabalha para denunciar ameaças contra sua vida quandofoi alcançado por um carro e três motocicletas e recebeu vários tiros. García é parte de um grupo de famílias que cultiva terras na fazenda Los Cerros, em Obispos (Barinas). Esta é uma propriedade do Estado com 400 hectares que foi recuperada há anos, mas que foi deixada improdutiva. Os camponeses estão exigindo o reconhecimento legal de seu direito a cultivar a terra. Dias antes do ataque, Robinson García tentou apresentar uma denúncia à Secretaria de Segurança do Governo Estadual, já que identificou vários carros suspeitos que o estavam seguindo e temia por sua vida. A polícia regional se negou a aceitar a denúncia. O carro que liderou o ataque contra ele era o mesmo que havia sido visto anteriormente e contra quem queria apresentar a denúncia.

Há muitos meses a situação no campo na Venezuela piorou. Como explicamos em julho:

“[…] no campo, há uma ofensiva coordenada para desmantelar os “ganhos” da reforma agrária feita por Chávez com a expropriação de grandes extensões de terra, que foram entregues às comunas camponesas. Os latifundiários capitalistas compram aos juízes locais, aos funcionários do Instituto de Reforma Agrária (INTI) e aos oficiais da Guarda Nacional para violentamente desalojar aos coletivos camponeses das terras que foram legalmente outorgadas pelo INTI. Em alguns casos, os camponeses foram presos pela Guarda Nacional, em outros ameaçados ou assassinados por matadores contratados pelos latifundiários (sanguinários) que, em alguns casos, estão ligados à burocracia estatal e, em outros, à oposição reacionária[1]”.

Uma aliança de latifundiários, juízes, funcionários regionais do INTI, oficiais do Exército e da Guarda Nacional está realizando uma contraofensiva às medidas já tomadas de reforma agrária e impedindo que se expropriem mais terras, em um momento em que a escassez de alimentos é um problema importante que afeta a Venezuela, os trabalhadores e os pobres.

A luta de classes no campo na Venezuela é parte de uma luta mais geral que enfrenta a revolução bolivariana frente aos interesses do capitalismo, dos latifundiários e do imperialismo e que demonstra a necessidade de construir uma nova liderança revolucionária que esteja firmemente comprometida com os interesses da classe trabalhadora e dos camponeses.

 

[1] MARTÍN, Jorge. ¿Venezuela al borde de um estalido social?. 31 jul. 2018.

 

Artigo publicado originalmente em espanhol no site “Lucha de Clases”, da seção venezuelana da Corrente Marxista Internacional, sob o título “Asesinado miembro del Comité Central del Partido Comunista de Venezuela”, publicado em 2 de novembro de 2018. Tradução de Nathan Belcavello de Oliveira.