Foto: SindMetalsjc

Conlutas: a organização dos trabalhadores e a falência do sectarismo

Em congresso realizado entre os dias 14 e 17 de novembro, em Brasília, o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) deliberou, por ampla maioria dos delegados presentes, pela desfiliação da CSP-Conlutas, central à qual estava vinculado desde 2006. O Sinasefe é o sindicato nacional que representa os servidores docentes e técnico-administrativos dos institutos federais, CEFETs e Colégio Pedro II. Fundado em 1988, o sindicato conta com cerca de 100 seções sindicais, em todo o Brasil, representando aproximadamente 30 mil trabalhadores.

Na discussão realizada no congresso, os argumentos a favor da desfiliação apontavam que a CSP-Conlutas teria se afastado das bases, que vinha se burocratizando e defendendo posições sectárias. Apontava-se também que a conjuntura coloca a necessidade de reorganização dos trabalhadores, o que passa pelo fortalecimento de outros espaços e organizações. A posição foi apoiada por um amplo arco de setores, formado pelo Partico Comunista Brasileiro (PCB), pela ASS/Intersindical, pelo PT (tendência O Trabalho e independentes) e pela Resistência (PSOL). Essa pluralidade de agrupamentos acaba levando a uma confusão generalizada sobre o rumo que deve tomar de agora em diante o Sinasefe.

Os grupos que foram contra a desfiliação (o PSTU, setores do PSOL, como a APS, além de outras seitas) destacavam a importância da CSP-Conlutas desde a sua fundação e apontavam que se deveria construir e disputar as posições da central por dentro dela. Esses setores destacavam que seria equivocada a ruptura em uma conjuntura de fragmentação e que nos últimos anos a CSP-Conlutas teria tomado a frente das lutas dos trabalhadores. Sem dúvida um balanço irreal e delirante.

O Sinasefe acerta em deixar a CSP-Conlutas para buscar construir a unidade mais ampla com outras organizações de trabalhadores e de juventude. Embora com uma verborragia esquerdista, a direção majoritária da CSP-Conlutas, no embate por manter seu aparato, sempre reproduziu muitos dos métodos burocráticos do campo majoritário da CUT. Contudo, há uma diferença gigantesca entre a CUT, que é uma central de massas, e a CSP-Conlutas, que se limita a ser um ajuntamento de grupelhos sectários sem base social, fazendo com que o embate pelo aparato se torne uma disputa retórica deslocada completamente da luta de classes. Além disso, em sua incapacidade de analisar a realidade concreta, a CSP-Conlutas assumiu posturas sectárias desastrosas, sendo as mais criminosas a de apoiar o impeachment de Dilma e ser o avalista das ações imperialistas contra a Venezuela e outros países.

Os métodos burocráticos de construção da central têm feito com que, ano após anos, várias das poucas entidades que compõem a CSP-Conlutas abandonem suas fileiras, seja rompendo, como o fez o Sinasefe, seja não participando de suas instâncias e interrompendo a contribuição financeira. Congresso após congresso, a CSP-Conlutas foi diminuindo o número de delegados (passou de 1.953 em 2017 para 1.591 em 2019) e de entidades filiadas (passou de 373 em 2015 para 308 em 2017, não tendo divulgado o número no congresso mais recente). Os poucos setores que se dispunham a compor a central foram abandonando suas fileiras à medida que a direção majoritária, formada pelo PSTU e por agrupamentos minúsculos irrelevantes, avançava com seus métodos burocráticos e sua retórica sectária. Uma entidade que já era minúscula em sua origem foi ficando cada vez menor ano após ano.

Além disso, conforme alertava uma circular interna da própria CSP-Conlutas publicada às vésperas do congresso realizado neste ano, as dificuldades financeiras advindas da interrupção de contribuições por parte de entidades filiados poderiam vir a prejudicar o seu funcionamento. Possivelmente a ruptura do Sinasefe trará ainda mais dificuldades.

Portanto, a CSP-Conlutas, um pequeno agrupamento dirigido por sectários, se enfraquece paulatinamente, mostrando pelo menos duas coisas. Primeiro, que a tática de rachar sindicatos por conta de disputa de aparatos é algo que os próprios trabalhadores entendem como nociva, em sua maioria optando por não aderir a esse tipo de aventura. Em segundo lugar, que a experiência de rachar a principal central sindical brasileira se constituiu em uma grande derrota dos grupos sectários que seguiram por esse caminho, não tendo alcançado nenhuma audiência na luta de classes. Pelo contrário, ao longo de sua existência, a CSP-Conlutas oscilou basicamente entre duas posições, sendo de um lado o elogio do completo isolamento e, por outro, não ter outra escolha a não ser se adaptar ao calendário e ações da CUT, única central com efetivo potencial para mobilizar os trabalhadores no Brasil. Na prática, apesar do discurso crítico e “revolucionário”, a CSP-Conlutas se tornou um apêndice da burocracia que dirige a CUT.

O processo de reorganização dos trabalhadores em curso coloca a necessidade urgente da frente única das organizações operárias. Por isso, posturas sectárias como as que assume a CSP-Conlutas, cada vez mais devem ser rechaçadas pelos próprios trabalhadores. Esse processo de reorganização deve levar a novas rupturas na própria CSP-Conlutas, como talvez aconteça em fevereiro, no congresso do outro sindicato nacional filiado à central, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES). Para os trabalhadores que assumem a postura de tirar seus sindicatos do isolamento coloca-se a necessidade de buscar a unidade com as demais categorias, o que passa pela construção do Encontro Nacional da Classe Trabalhadora (ENCLAT), já aprovada em congresso pelo Sinasefe. Neste momento é fundamental iniciar a discussão sobre o retorno à CUT, somando-se aos trabalhadores que permanecem dentro da central e lutam por varrer do seu comando os burocratas que a controlam.