Entrevista com Glauber Braga: Mobilizar, organizar e pressionar pela revogação do Novo Ensino Médio

A Liberdade e Luta e a Esquerda Marxista estão em campanha de frente única junto ao mandato do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) pela revogação do Novo Ensino Médio (NEM). Em entrevista exclusiva para o Tempo de Revolução, o parlamentar discute com nossa militância, apoiadores e assinantes pontos fundamentais sobre o enfrentamento a essa reforma, a defesa da educação pública e suas perspectivas para a educação brasileira.

A partir do abaixo-assinado impulsionado pelo seu mandato, com mais de 100 mil assinaturas, a presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Jade Beatriz, e o ministro da Educação, Camilo Santana, tiveram que se pronunciar através de matéria publicada no jornal O Globo, onde apresentam uma posição de “aperfeiçoar” a reforma ao invés de revogá-la. Por que você considera necessária uma campanha para revogar o Novo Ensino Médio?

A necessidade de revogar é porque o que veio com a reforma, o Novo Ensino Médio, é pior do que o que se tinha até então. Porque você vai continuar estruturalmente com algo que é ruim, que é excludente, que precariza a vida de estudantes, professores e professoras? Que amplia o grau de desigualdade… não tem o menor cabimento. Esse discurso do aperfeiçoamento, é aquele que a linha Lemann faz, porque eles compreendem o tamanho das reclamações que existem, ou seja, há uma revolta generalizada por parte de estudantes e professores, então simplesmente eles não podem dizer que nada vai ser alterado. Mas aí, eles falam num aperfeiçoamento, mantendo estruturalmente aquilo que é uma reforma de natureza excludente, que caça o pensamento crítico e que, repito, precariza ainda mais a vida de estudantes e professores. Por isso que tem que ser revogada.

A luta pela revogação do Novo Ensino Médio abre o debate sobre o tipo de escola que queremos e precisamos. O modelo anterior, ainda que sucateado, conservava a escola com os pilares republicanos da gratuidade, laicidade, obrigatoriedade, universalidade e de propriedade pública. Esses pilares são derrubados com o Novo Ensino Médio. Qual o modelo de escola que você considera o melhor para a juventude?

O melhor modelo para a juventude é aquele em que ela decida o seu destino. Onde ela exerça um papel fundamental na escola, na construção, inclusive, do projeto pedagógico; que tenha capacidade de ser um instrumento da análise, do pensamento crítico. E que dê a esse jovem a possibilidade de enfrentar e vencer a desigualdade estrutural que existe no nosso país. E aí, o que nós defendemos objetivamente para que isso seja alcançado? Que seja feita uma nova conferência nacional de educação. Revogou o novo ensino médio, faz-se uma nova conferência. Porque essa última conferência foi a do Bolsonaro. Você tem um amplo diálogo com estudantes, professores, professoras, profissionais de educação e comunidade escolar como um todo. E aí você propõe modificações para o conjunto da educação brasileira, incluindo o Ensino Médio, mas com amplo processo de discussão social. O que evidentemente não aconteceu com essa reforma do Ensino Médio, que foi realizada por Temer e implementada por Bolsonaro, tendo como base a necessidade de excluir a discussão e a avaliação crítica do próprio processo educacional. Nós temos que fazer o contrário disso.

Quais são as táticas para a campanha pela revogação do Novo Ensino Médio e qual a perspectiva que você apresenta para a escola pública?

Olha, a campanha ganhou mais de 100 mil assinaturas em pouquíssimo tempo. Isso ainda vai aumentar muito. Nós vamos conversar agora com todas as entidades, movimentos sociais para adensar esse abaixo-assinado. Na primeira reunião da comissão de educação, com a presença do ministro de Estado, na Câmara dos Deputados, a gente pretende entregar o abaixo-assinado denso com a presença dos movimentos, um grande ato pra cobrar a revogação desse Novo Ensino Médio. E como eu disse, que se faça uma nova conferência nacional de educação, até porque vai ter que se renovar nessa nova legislatura, o Plano Nacional de Educação. Como é que vai se fazer isso numa conversa de gabinete? Ou só com um grupo pequeno de entidades?  Não. Precisa fazer um processo amplo de discussão sobre a educação pública no Brasil. E a minha perspectiva é de uma escola que consiga, evidentemente, trabalhar a consciência de classe, que consiga vencer, não individualmente, não inocular no estudante a ideia de que ele vai ser um vencedor por si só, mas que vencer é enfrentar e derrubar as estruturas históricas de exclusão. “Ah isso é difícil.” Evidentemente que não é uma tarefa fácil. Mas como eu acredito no poder de organização da educação pública e das juventudes, eu acredito que a gente vai conseguir sim ultrapassar essa etapa e fortalecer a educação pública. Lembremos que a maior manifestação popular durante todo o governo Bolsonaro, que fez inclusive com que o governo recuasse com os cortes na educação, foi de estudantes, quando o Weintraub ainda era o ministro da Educação. Eu acredito muito nessa força de organização, mobilização, em defesa do que é público para enfrentar os desmandos do setor privado.

***

Agradecemos a entrevista com o deputado e companheiro Glauber Braga e convidamos todos os nossos apoiadores a se engajar na luta pela Revogação do Novo Ensino Médio. Assine você também o abaixo-assinado clicando aqui.

Como Glauber explicou, é preciso mobilização e organização para enfrentar a privatização da educação básica e para revogar o Novo Ensino Médio. Nesse sentido, a Liberdade e Luta está organizando atividades, panfletagens e comitês para agrupar pessoas pela revogação dessa contrarreforma que destrói a educação pública, gratuita e para todos tal como a conhecemos.

A Liberdade e Luta está chamando uma live para um bate-papo com Glauber Braga que deve acontecer em março e novos artigos de polêmica com as posições de “manutenção do NEM com ajustes” para as próximas edições do jornal Tempo de Revolução e para o nosso site.

A partir do Editorial da edição 26 do Tempo de Revolução, vamos organizar discussões para aprofundar o entendimento sobre essa reforma e os impactos cotidianos dela na vida dos estudantes e trabalhadores da educação.

Outra iniciativa é a sistematização de relatos, em vídeos, áudio ou texto, de estudantes e jovens professores em suas experiências de sala a partir da implantação do Novo Ensino Médio. Esses relatos vivos nos ajudarão a desfazer qualquer ilusão de que o NEM tenha algo de positivo em sua concepção e aplicação para a juventude. Se você quer enviar um relato de sua experiência com o NEM, por favor, envie para souliberdadeeluta@gmail.com ou pelo What’s App: +55 61 9304-6340.

É muito importante agrupar as pessoas para discutir e agir na campanha pela revogação. Por isso, estamos impulsionando atividades locais, rodas de conversa e panfletagens para agrupar os jovens secundaristas, jovens professores, estudantes universitários para debater e formar comitês pela revogação do NEM. Você pode ajudar acessando clicando aqui, preenchendo o formulário, vamos organizar juntos panfletagens, debates e atividades nas escolas, nos bairros e nas ruas.