Em maio de 1968, o mundo assistiu a uma série de eventos onde a classe operária e a juventude perturbaram a ordem capitalista. Essas mobilizações se gestaram abaixo do nariz de toda a burguesia, dos stalinistas e também dos sectários da esquerda. Quando se assustaram, milhões de trabalhadores e estudantes colocaram a burguesia de joelhos e pela força de seu movimento foram capazes de arrancar conquistas históricas, a principal delas, a consciência de que a classe operária pode controlar a economia, a sociedade e todos os aspectos da vida.
Passados 50 anos desse poderoso movimento, a aparência de um capitalismo próspero já se desfez completamente e se abriu uma época de ataques diretos às conquistas trabalhistas daquela época. Atualmente a economia francesa encontra-se com taxas de desemprego a beira dos dois dígitos (previsão de 9,1% para maio de 2018, segundo dados da Trading Economics); um crescimento pífio do PIB de 0,3% e com níveis de dívida pública em crescimento vertiginoso desde 2008.
Na pessoa de Emmanuel Macron, a classe dominante francesa busca atacar os trabalhadores com medidas muito semelhantes àquelas que Temer impulsionou aqui no Brasil, como a reforma trabalhista, a lei da terceirização e a reforma do ensino médio.
Neste momento, as lutas contra a política de Macron ganharam uma nova qualidade com a greve dos ferroviários. O governo busca implementar uma reforma na Companhia Nacional de Ferrovias Francesas (SNCF), entregando-a para a iniciativa privada.
Os ferroviários, uma categoria importantíssima por transportar não só mercadorias comuns, mas também a principal, os trabalhadores, têm feito uma greve esplêndida, perturbando todo o sistema ferroviário.
O jornal explica : ‘‘Em Ile-de-France, para as linhas Transilien e para as linhas Intercités, a SNCF aconselha os viajantes ‘a favorecer rotas alternativas ou adiar sua viagem o máximo possível’”.
Hoje (14/05), enquanto escrevemos este artigo para a edição 116 do F&M, a greve alcança seu 18º dia e ocorre o que os sindicatos da SNCF apelidaram de “Journée sans cheminots” ou ‘‘Dia sem ferroviários’’. O jornal Le Monde de hoje mostra a adesão à greve: ‘‘Especificamente, 74,4% dos motoristas estão em greve, 74,3% dos controladores e quase 37% dos manobristas. ‘Há uma enorme mobilização de motoristas e controladores, mais de 70% da greve’, disse Erik Meyer, porta-voz da SUD-Rail.’’
Mas o que o Le Monde não mostra é que a greve dos ferroviários tem desencadeado greves em outras categorias.
Em artigo de 12/04, nossos camaradas da seção francesa da CMI, Révolution, informaram: ‘‘Coletores de lixo, trabalhadores da Air France, servidores públicos, advogados, trabalhadores dos correios, trabalhadores de hospitais e trabalhadores de cuidados aos idosos (entre outros) estão se preparando para a ação, e a cada dia novas camadas de trabalhadores estão se juntando à luta. A ‘convergência das lutas’ não é mais só uma palavra de ordem, está se tornando um fato.’’
Os estudantes também se mobilizam
No dia 18 de abril, quatro das maiores universidades francesas estavam totalmente paralisadas contra a lei.
E nove dias antes, a Universidade de Nanterre – palco importantíssimo do Maio Francês em 1968 – mandou chamar a Polícia Nacional Francesa contra os estudantes que estavam em assembleia geral contra a Lei de Orientação e Sucesso dos Estudantes (ORE), popularmente conhecida como ‘‘Lei Vidal’’, devido ao nome da Ministra do Ensino Superior, Frédérique Vidal.
A ‘‘Lei Vidal’’ é uma espécie de reforma do ensino superior que busca implementar pré-requisitos para que os estudantes acessem as universidades. Para os estudantes mais pobres, a realidade é a mesma na França e no Brasil: qual a chance de manter boas notas tendo que trabalhar o dia inteiro?
O convite à greve 50 anos depois está na pauta do dia para todos os jovens e trabalhadores franceses. A luta de classes está se expressando em cada canto do mundo, inclusive nas principais potências imperialistas. E lá, assim como aqui, para enterrar o governo Macron-Temer e todas as suas contrarreformas trabalhistas e educacionais, é preciso unificar as greves locais em um poderoso movimento geral com base na aliança operário-estudantil e passar por cima das direções pelegas, assim como há 50 anos.