Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Inflação e desemprego em meio à crise do capitalismo

Os recentes dados sobre queda da inflação foram motivos de comemoração pelo governo federal em meio à provável derrota da candidatura de Jair Bolsonaro. No final de agosto, a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial do país, registrou queda de 0,73%. De acordo com os dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em agosto o IPCA-15 registrou a menor taxa da série histórica, iniciada em novembro de 1991, por causa da queda nos preços dos combustíveis, em particular da gasolina e do etanol, e da energia elétrica. Com o resultado de agosto, o IPCA-15 acumulava alta de 9,60% em 12 meses e de 5,02% no ano.

Contudo, em comparação com outros aspectos, esses dados mostram que pouco impacta na vida dos trabalhadores. Os preços dos alimentos continuaram a subir. O leite, por exemplo, apresentou, em agosto, alta de 14,21%, tendo acumulado 79,79% no ano. Dos preços que mais contribuíram para a queda do IPCA-15 em agosto, apenas o da energia elétrica teve impacto sobre o orçamento da maioria da população. Dos nove grupos que compõem o IPCA, seis tiveram alta de preço. Os gastos com Alimentação e Bebida subiram 1,12%. A alimentação no domicílio ficou 1,24% mais cara.

O cenário de inflação é expressão da crise que assola o capitalismo nos últimos anos, ampliando a exploração dos trabalhadores e o ataque a direitos. Os dados sobre os elevados índices de inflação não se limitam ao cenário do Brasil. Nos Estados Unidos, a inflação chegou a 8,3%. Na zona do euro, o índice de preços ao consumidor chegou a 9,1% em agosto, no acumulado em 12 meses. Isso se dá num cenário de parco crescimento da economia, que, no caso do Brasil e de outros países, tem um baixo crescimento do PIB e de uma economia cujo maior crescimento de empregos está no setor de serviços.

O impacto da crise na vida dos trabalhadores se expressa também na questão da renda. Os dados mais recentes do IBGE sobre emprego e renda poderiam ser motivo de comemoração, mas, neste caso, também as contradições ficam evidentes. No trimestre encerrado em julho, a taxa de desemprego recuou para 9,1% e o rendimento da população ocupada com trabalho registrou crescimento, atingindo o valor de R$ 2.693. Embora superior 2,9% ao trimestre anterior (quando era de R$ 2.618), esse valor está abaixo, por exemplo, do mesmo período em 2021, quando era de R$ 2.773.

Ou seja, em um ano, a renda média caiu, enquanto a inflação continuou a crescer. Isso para não falar dos trabalhadores em contratos parciais ou da população sem emprego formal que sequer aparece nas estatísticas de desemprego. Isso fica ainda mais claro quando se identifica os setores que puxaram o parco crescimento da renda média: empregadores (6,1%, ou mais R$ 369), militares e funcionários públicos estatutários (3,8%, ou mais R$ 176) e trabalhadores por conta própria (3%, ou mais R$ 63). Portanto, não está nos setores mais pauperizados da população aqueles que conseguiram algum incremento, ainda que modesto, em suas rendas.

Os dados sobre reajustes podem ser ainda mais bem precisados. Em julho deste ano, dos reajustes salariais registrados, 47,3% tiveram ganhos abaixo da inflação acumulada nos últimos 12 meses. O cálculo, realizado pelo Dieese, indicou também que em 20,8% dos casos o índice foi igual ao da inflação. Somente 31,8% dos brasileiros tiveram aumento salarial acima da inflação. Considerando os dados de 2022, apenas 20,7% dos reajustes negociados ficaram acima da variação do INPC, 35,4% tiveram valores iguais a esse índice e 43,9% não repuseram nem a inflação.

Essa perda salarial é ainda maior, se considerado o acúmulo ao longo dos últimos anos. No trimestre de maio a julho de 2019, a renda média dos empregados do setor público era de R$ 4.468 (em valores atualizados). Neste ano, no mesmo trimestre, o rendimento baixou para R$ 4.086, o que significa uma queda de 8,5%. No mesmo período de comparação, a renda média dos empregados do setor privado, exceto os trabalhadores domésticos, recuou de R$ 2.421 para R$ 2.350, significando uma queda de 2,9%. Por sua vez, os empregados domésticos tiveram contração de 5,1%, passando de uma média de R$ 1.106 para R$ 1.050.

Observa-se, portanto, um aprofundamento na exploração dos trabalhadores, onde a piora nas condições de trabalho e salário é ainda mais agravada por uma inflação que afeta até mesmo os itens mais básicos da alimentação. O traço fundamental do processo inflacionário se expressa na redução do valor da força de trabalho, afetando salário e direitos. Nesse sentido, os trabalhadores devem lutar por emprego e renda, inserindo sua mobilização no combate para derrotar o capitalismo.