Independente do resultado das urnas, cada vez mais os trabalhadores e a juventude só podem contar com sua própria capacidade de organização e de luta / Imagem: Sinsej, 2017

Nas eleições municipais de Joinville, a única alternativa é a organização

As eleições municipais de 2024 possuem entre suas principais características a apatia e a desilusão da classe trabalhadora. Nacionalmente o que se vê, por um lado, são os partidos e políticos da direita que governam para aumentar a exploração sobre os trabalhadores e, por outro, aqueles que pretendem representar a classe trabalhadora (PT, PSOL, PCdoB etc.) traindo as esperanças de alguma mudança fundamental ao aliar-se com os inimigos de nossa classe.

Durante os últimos 20 anos, a Organização Comunista Internacionalista (OCI), então Esquerda Marxista, teve candidatos em Joinville, Santa Catarina, disputou prévias e, inclusive, concorreu à prefeitura da cidade com a candidatura de Mayara Colzani, em 2020. Além disso, durante 16 anos, contou com o mandato histórico do vereador Adilson Mariano no parlamento.

Como linha geral, nacionalmente, a OCI chama voto, “com todas as críticas necessárias, nos candidatos à prefeitura que de alguma forma expressem a luta da classe trabalhadora contra a burguesia, candidatos de partidos que reivindicam a classe trabalhadora e que estejam em melhores condições de derrotar os candidatos da burguesia”. No entanto, em Joinville, analisando-se a história, o programa e os números da eleição, este cenário não existe. Assim, compreendendo-se que não é possível defender um “mal menor”, nossa classe encontra-se hoje sem uma alternativa eleitoral na cidade.

Desde já, é tarefa dos comunistas explicar que, independente do resultado das urnas, cada vez mais os trabalhadores e a juventude só podem contar com sua própria capacidade de organização e de luta.

Carlito Merss (PT), a oposição à “esquerda” contra Adriano Silva (Novo), ressurgiu no cenário eleitoral uma década após sua derrota para reeleição à prefeitura de Joinville. Durante esse período, Carlito praticamente desapareceu do cenário político joinvilense. Agora, ele prepara o cenário para sua derrota, ao buscar aparecer como mais um candidato da ordem.

O petista recicla a tática da última campanha eleitoral de Lula ao buscar relembrar um passado supostamente “glorioso” durante o seu mandato. No entanto, ao tratar das questões que mais afetam os trabalhadores (transporte urbano, privatização dos serviços públicos, habitação etc.), ele apresenta mais do mesmo. Esquece que durante seu mandato se negou a garantir as conquistas mais básicas dos servidores públicos, que precisaram lutar em greves históricas por seus direitos. Tudo isso faz com que as promessas vãs da atual campanha não inspirem confiança nos trabalhadores e que Carlito não seja capaz de aparecer como uma opção viável.

Porém, não é apenas por isso que defendemos que não há uma alternativa para os trabalhadores nestas eleições. Carlito foi ao longo de sua história um inimigo dos trabalhadores. Combateu o Movimento das Fábricas Ocupadas e apoiou a intervenção federal em 2007, que expulsou a direção eleita pelos trabalhadores da Cipla e enterrou o movimento pela estatização das fábricas (movimento que preservou mais de mil empregos enquanto a fábrica estava sob controle dos operários). À época, em sua “Nota do Deputado Carlito Merss sobre a Cipla”, afirmou que o motivo da intervenção foi provocado pela falta de um ambiente de negociação e, no mesmo ano, o Diretório Municipal do PT de Joinville lançou uma nota condenando as posições do então deputado.

Quando foi prefeito de Joinville, de 2009 a 2012, Carlito governou para os exploradores e não para os explorados. Religiosamente, concedeu os aumentos na tarifa exigidos pelas empresas de transporte (reajustando 12,2% já em 2009) e reprimiu os movimentos sociais que se mobilizaram contra. Quando questionado sobre a necessidade de uma empresa pública de transporte em Joinville, afirmou que essa proposta estava descartada durante o seu governo e que o modelo era e continuaria privado. Em 2013, no final do seu mandato, reconheceu dívidas milionárias da prefeitura com as concessionárias.

Em 2011, o então prefeito também articulou com cargos comissionados do seu governo uma tentativa de expulsão do vereador Adilson Mariano, militante da OCI e vereador pelo PT à época, acusando-o de ter “sido ‘infiel’ ao partido por ter apoiado a greve dos servidores, ter criticado aumentos das tarifas de transporte coletivo e água, além de ter sido contra projetos do Executivo”. Mariano, que foi vereador de 2001 a 2016, sempre esteve ao lado dos trabalhadores, manteve-se fiel a sua classe mesmo durante um governo de seu partido e, por isso, foi constantemente perseguido. As tentativas de expulsão do PT, de cassação do seu mandato, de condenação na justiça e tantos outros ataques sempre foram apoiados por Carlito e só não obtiveram sucesso porque Mariano contou com a força dos trabalhadores em sua defesa.

Traindo a esperança de milhares de trabalhadores, o governo de Carlito manteve tudo como estava antes: quadros da direita foram mantidos em postos estratégicos da administração municipal (como na Conurb, Águas de Joinville e Gestão de Pessoas), a pavimentação da cidade passou definitivamente às mãos das empreiteiras, a coleta seletiva urbana permaneceu privada e teve sua concessão renovada sem licitação.

Se para os empresários Carlito foi um importante aliado, para os trabalhadores foi o completo oposto. Ainda no seu mandato, negou-se a conceder reajustes salariais, a atender às diversas reivindicações dos servidores públicos do município e a negociar com o Sinsej (à época dirigido pela Esquerda Marxista, atual OCI), o que resultou em uma das maiores greves de servidores da história de Joinville, que arrancou conquistas apesar do governo Carlito.

Em 2014, ele concedeu uma série de entrevistas em diversos órgãos de imprensa atacando a direção do Sinsej e alegando que o sindicato realizou uma “greve violenta” em 2011, durante o seu governo. Para se defender, demonstrou toda sua subserviência à classe dominante alegando que não podia conceder o aumento porque naquele ano a Lei de Responsabilidade Fiscal poderia “estourar”.

Como comunistas, buscamos utilizar as táticas que fortalecem os trabalhadores e avancem a luta pelo comunismo. Nas últimas eleições presidenciais no Brasil, defendemos a candidatura de Lula por compreender que a derrota de Bolsonaro significaria uma vitória para os trabalhadores e para a juventude, tratava-se de uma expressão da luta da classe trabalhadora contra a burguesia. O mesmo não acontece neste momento nas eleições em Joinville. A classe trabalhadora não enxerga Carlito como uma alternativa ao governo atual, a juventude mal o conhece, sua campanha não o diferencia em nada dos demais candidatos e sua atuação ao longo da história sempre o colocou no lado oposto ao dos trabalhadores.

Todos os demais candidatos à prefeitura de Joinville encontram-se abertamente no campo da direita e, portanto, defendem declaradamente os interesses da burguesia e não dos trabalhadores da cidade.

Em relação ao atual prefeito Adriano Silva (Novo), que aparece favorito nas pesquisas, nunca é demais lembrar que ele fez um governo de enormes ataques a nossa classe, principalmente pela entrega violenta dos serviços públicos à iniciativa privada e por um descaso com necessidades básicas da população que têm custado vidas.

Vejamos alguns exemplos:

  • Preparação do repasse do Hospital Municipal São José e da UPA Sul a Organizações Sociais (OSs);
  • Preparação da PPP da Vertente Leste para obras de expansão de esgoto na Águas de Joinville;
  • Avanço da terceirização em todas as áreas do serviço público direto e da Companhia Águas de Joinville;
  • Unidades de saúde deterioradas;
  • Falta de medicamentos quimioterápicos, por exemplo;
  • Filas nas Unidades Básicas de Saúde;
  • Reforma da previdência dos servidores;
  • Cerca de 130 mortes por dengue em seu mandato e Joinville campeã nacional de óbitos pela doença;
  • Um concurso público com apenas 223 vagas, número que não cobre sequer a necessidade dos agentes de endemias faltantes, após mais de 10 anos sem concurso;
  • Ausência de obras e manutenções para mitigar enchentes;
  • Desvalorização salarial dos servidores;
  • Programa de Desligamento Voluntário (PDV) no serviço público;
  • Entrega de Centro de Educação Infantil para OS;
  • Entre outros.

Não guardamos qualquer ilusão no parlamento burguês e no seu papel, mas é importante para os trabalhadores possuírem um ponto de apoio para suas lutas dentro do parlamento.

Durante 16 anos, os trabalhadores de Joinville encontraram no mandato de Adilson Mariano (militante da OCI) esse apoio para todos os seus combates. Apoio ao Movimento das Fábricas Ocupadas Cipla e Interfibra, combates travados pelas associações de moradores, em defesa da moradia e das ocupações, em defesa de uma empresa pública de transporte e pela tarifa zero, em todas as greves, seja da iniciativa privada ou dos servidores públicos.

Defendemos nesta eleição o voto em candidatos que em seus programas contenham defesas do serviço público, gratuito e para todos, que combatam as terceirizações, as privatizações e que coloquem seu mandato como um ponto de apoio aos trabalhadores e à juventude em todos os seus combates.

Mais do que nunca, nossos sonhos não cabem nas urnas. É preciso tomar o destino em nossas mãos, retomar entidades estudantis e sindicatos (lembremos que o sindicato dos servidores municipais, Sinsej, é atualmente dirigido pelo PT e completamente imóvel). É preciso construir um verdadeiro partido revolucionário.

Diante disso, chamamos todos os jovens e trabalhadores que se sentem indignados com a situação atual, mas que não veem nas eleições deste ano uma saída, a se organizarem. Participe da Organização Comunista Internacionalista, seção brasileira da ICR, para construirmos juntos uma sociedade sem explorados nem exploradores, uma sociedade comunista.