Os trabalhadores são as principais vítimas da Covid-19, eles são duplamente atingidos. Por um lado, é a classe trabalhadora que está mais exposta à contaminação, em especial os que atuam nos serviços considerados essenciais. Por outro, o Governo Federal mantém sua agenda de ataques, utilizando a pandemia como desculpa para autorizar, entre outras coisas, a suspensão de contratos e redução de salários. Isso sem falar nas condições de trabalho, como limitação de equipamentos de proteção individual. Ainda tem aqueles que seguem trabalhando em casa, utilizando seus próprios recursos ou sem estrutura adequada ou mesmo sem horário definido.
Para a burguesia e seus representantes, a vida dos trabalhadores pouco importa e eles são encarados como mera peça em engrenagens de produção. Isso fica mais claro quando aprofundamos a análise mais ampla dos dados e buscamos identificar o impacto das contaminações e óbitos entre os trabalhadores. Os dados oficiais, além das fortes suspeitas de subnotificação e do uso de eufemismos como “infecção respiratória”, não dão conta de mostrar a realidade a que os trabalhadores estão submetidos.
Os trabalhadores da saúde certamente são os mais afetados. Segundo dados divulgados em 23/04 a partir de levantamento do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), pelo menos 38 profissionais da área tinham morrido por causa da Covid-19 no Brasil e havia outros 11 óbitos que ainda não tinham diagnóstico confirmado por teste. O mesmo levantamento apontava que havia 6.269 casos suspeitos ou confirmados da doença entre profissionais de enfermagem, dos quais 1.404 em São Paulo, com 417 confirmados. O Cofen relatou também que, até o dia 13/04, havia recebido 5,3 mil denúncias de falta de equipamentos de proteção individual, proibição do uso de materiais disponíveis na unidade, reutilização de materiais descartáveis e exigência para que profissionais comprassem os próprios equipamentos. Em fiscalizações a 3,2 mil instituições durante a pandemia, o Cofen identificou problemas relacionados à segurança dos profissionais em 90% dos locais.
Segundo levantamento do Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo (Sindsep), em dado divulgado em 31/03, ao menos 190 funcionários do sistema público municipal tinham sido afastados desde o dia 15 em razão de suspeita do novo coronavírus. No Hospital Municipal Doutor Carmino Caricchio, Zona Leste de São Paulo, foram 45 afastamentos. Na rede privada, o Hospital Sírio-Libanês afastou 104 funcionários e o Hospital Albert Einstein, 348 profissionais.
Em levantamento divulgado também pelo Sindsep no dia 13/04 havia o registro de pelo menos 16 trabalhadores do setor mortos pela Covid-19. Essas mortes se deram num cenário de constantes denúncias sobre a falta de EPIs para os trabalhadores da saúde, que, entre outros problemas, atuavam reaproveitando parte dos equipamentos, utilizavam sacos de lixo como avental e atuavam sem máscara de proteção no atendimento a pacientes suspeitos ou confirmados de coronavírus, colocando suas próprias vidas em risco. Em levantamento feito pelo mesmo sindicato, 52% dos profissionais afirmavam enfrentar falta de máscaras cirúrgicas e 70% disseram que não havia álcool.
Entre os operários a situação não é muito diferente. No dia 23/04 a imprensa noticiou que um frigorífico da JBS em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, registrou um surto de coronavírus entre os funcionários. Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), 19 funcionários da empresa na cidade tiveram diagnóstico positivo para coronavírus e outros 15 eram considerados casos suspeitos. Além disso, dois familiares de funcionários da empresa tinham morrido pela doença. Havia ainda mais 78 empregados afastados por sintomas gripais.
Outro grave caso de contaminação, divulgado no dia 18/04, se deu em uma plataforma petrolífera no litoral do Espírito Santo, onde 61 trabalhadores foram contaminados pelo coronavírus. Segundo o MPT, foram testados um total de 77 funcionários, dos quais nove deram negativo e seis foram inconclusivos. Neste caso, como no do frigorífico gaúcho, havia indícios ou mesmo denúncias de falta de condições adequadas de trabalho.
Os capitalistas, usando a pandemia como justificativa, vão buscando dar respostas à crise atacando direitos ou mesmo a vida dos trabalhadores. Para os patrões, basta que os trabalhadores estejam vivos e não atrapalhem seus lucros, pouco importando a quantidade de trabalhadores doentes ou mesmo os mortos, bastando que haja pessoas aceitando empregos com baixos salários e sem direitos. Para os trabalhadores, diante das consequências da crise do capitalismo, coloca-se de imediato a luta para se manter vivo, garantindo não apenas sua saúde e de sua família, mas também salário e emprego. Para os revolucionários, defendendo o programa emergencial, cabe explicar pacientemente a necessidade de derrubar o governo e destruir o capitalismo.