Milhares de Palestinos retornam para Gaza, janeiro de 2025 / Imagem: RS, Fotos Públicas

Oriente Médio: o lugar do imperialismo, a guerra Israel e Irã e a política de dois Estados

O governo sionista confessional de Israel e o governo teocrático islâmico do Irã representam o passado e, no presente, são apenas traços da barbárie que é introduzida pela sobrevivência do regime da propriedade privada dos grandes meios de produção na época do imperialismo.

Os comunistas e os verdadeiros democratas (se é que ainda existem) estão a favor do fim do Estado sionista confessional de Israel, constituído em 1948, baseado na “Declaração de Independência”, que afirma que “a Terra de Israel é o berço do povo judeu, onde sua identidade espiritual, religiosa e nacional foi formada.” (o que é falso historicamente), destacando o movimento sionista, a Declaração Balfour (1917) e o Mandato da Liga das Nações (1948) que criava o Estado judeu. Mas, em 2018, a Lei do Estado-Nação aprofunda esta constituição reacionária, definindo Israel como o “lar nacional do povo judeu”, reafirma o hebraico como única língua oficial e retira as anteriores referências à igualdade entre cidadãos. Um exemplo importante: não existe casamento civil em Israel.

A política de dois Estados – Israel e Palestina – apresentada por reformistas e “progressistas amantes da paz” é uma política reacionária que busca conciliar os interesses imperialistas e sionistas e um “humanitarismo” de palavras e que de fato só pode levar ao massacre permanente do povo palestino. Esta política é a continuidade e reafirmação disfarçada da partilha da Palestina feita pela ONU, em 1947, como uma operação contrarrevolucionária de estabelecer uma cabeça de ponte do imperialismo na região. 

Com a derrota do Império Otomano na 1ª Guerra Mundial a região foi dividida entre as potências imperialistas europeias. Com o Acordo Sykes-Picot de 1916,a França e Reino Unido dividiram secretamente o Oriente Médio em zonas de influência. Com a Declaração Balfour, em 1917, o Reino Unido se comprometeu com a criação de um “lar nacional judeu” na Palestina, como reivindicado pelo movimento sionista, criado por Theodor Herzl com seu livro “O Estado Judeu”, em 1896. Após a guerra, com o Tratado de Sèvres de 1920, as regiões antes dominadas pelo Império Otomano, o Oriente Médio, foram entregues aos “Mandatos coloniais”,em que a França ficou com a Síria e Líbano e o Reino Unido com aPalestina, Transjordânia e Iraque. Um ótimo artigo do camarada Luiz Gustavo Assad Rupp sobre a história da Palestina pode ser lido aqui.

Ao final da 2ª Guerra Mundial o Oriente Médio estava tocado, também, pela onda revolucionária que varria o mundo. Essa onda que começou durante a guerra se estendeu por décadas e levou à independência da Índia, das colônias europeias na África e à expropriação do capital no Leste Europeu e à revolução chinesa, Vietnã e Cuba. O mundo vivia uma situação em que em algumas décadas um sexto da humanidade estava vivendo em regiões onde o capital fora expropriado.  

Desde a revolução turca, de 1919 a 1923, que enterrou o Império Otomano e declarou a República Turca secular e soberana, revolução dirigida pelo nacionalista e republicano Mustafá Kamal Atatürk, se expandiu um movimento anti-imperialista importante em toda a região.

A principal expressão deste movimento, após Atatürk, foi a tomada do poder, em 1952, por Gamal Abdel Nasser, do Egito, que se declarava “pan-arabista” e “socialista árabe” e constituiu o partido “União Árabe Socialista”. Nasser fez a reforma agrária, investiu em educação, saúde, e nacionalizou bancos e empresas das potências imperialistas. Entre elas o estratégico Canal de Suez, o que provocou uma intervenção armada da França e Reino Unido, que, entretanto, fracassou com os dois impérios obrigados a se retirar.  Essa onda revolucionária continuou com diversas expressões chegando à Síria, onde Hafez Assad, um seguidor de Nasser, tomou o poder, em 1970, após assumir o controle do Partido Baath Árabe Socialista, expulsando o imperialismo francês e nacionalizando as empresas imperialistas.

Nasser fez a reforma agrária, investiu em educação, saúde, e nacionalizou bancos e empresas das potências imperialistas / Imagem: Wikimedia Commons

Esse terremoto revolucionário, entretanto, apesar das importantes nacionalizações nunca chegou a expropriar o capital e declarar banida a propriedade privada dos meios de produção estabelecendo Estados Operários, mesmo que burocráticos desde seu nascimento, como se passou no Leste Europeu, China, Cuba, Vietnã etc. 

Mas havia uma situação que punha os imperialistas em pé de guerra, já que seus multibilionários empreendimentos estavam todos os dias em perigo nesta região onde monarquias feudais tremiam com os ventos revolucionários no mundo. Era preciso estabilizar a região a qualquer custo. Foi isto que levou à criação do Estado de Israel, o que permitiu uma cabeça de ponte do imperialismo diretamente instalada na região. E que deu um álibi para as monarquias reacionárias “unirem o mundo ‘árabe’” com o discurso demagógico e hipócrita de “defesa da Palestina” desviando a luta contra essas tiranias, sempre dominadas e submissas aos diversos imperialistas que controlavam a região.

E em 1948, a 4ª Internacional escrevia: “Os líderes da Liga Árabe reagiram à decisão da partilha com discursos cheios de ameaças e entusiasmo. De fato, um Estado sionista é para eles uma benção de Alá. Chamar o trabalhador e o fellah (camponês) para a “guerra santa para salvar a Palestina” pretende sufocar os seus lamentos por pão, terra e liberdade. É outro método honrado de desviar um povo enraivecido a ir contra os judeus e o perigo comunista.”

Na Palestina, o poder feudal começou tardiamente a perder espaço. Durante a guerra, a classe trabalhadora árabe cresceu em números e em consciência política. Trabalhadores árabes e judeus se colocaram contra o opressor estrangeiro, contra o qual eles entraram em greve de forma unida. Uma poderosa central sindical de esquerda passou a existir e a “Associação Trabalhista dos Árabes da Palestina” estava a caminho de se libertar da influência dos seguidores de Hussein. 

Havia uma situação que punha os imperialistas em pé de guerra, já que seus multibilionários empreendimentos estavam todos os dias em perigo nesta região onde monarquias feudais tremiam com os ventos revolucionários no mundo. Era preciso estabilizar a região a qualquer custo. Foi isto que levou à criação do Estado de Israel

O assassinato de seu líder, Sami Taha, cometido por mercenários do Alto Comitê Árabe, não pôde impedir esta transformação. Mas onde os seguidores de Hussein falharam, a decisão da agência imperialista, a ONU, foi bem-sucedida. A decisão sobre a partilha sufocou a luta de classes dos trabalhadores palestinos. A previsão de estarem nas mãos dos “conquistadores da terra e do trabalho” sionistas está causando medo e ansiedade entre os trabalhadores e fellah árabes. Slogans de guerra nacionalistas caem em um solo fértil. E os assassinos feudalistas veem a sua chance. Assim, a política da partilha permite aos feudalistas girar as rodas da história para trás”. (A partilha da palestina é lenha na fogueira dos reacionários árabes, 1948) Muito ao contrário do que buscam propagandear os medíocres saudosistas de Stálin, a URSS stalinizada, não votou a favor da criação do Estado de Israel na terra dos palestinos porque pensava que a criação de uma república capitalista moderna na região seria um exemplo vivo para desestabilizar as monarquias feudais regionais. Muito pelo contrário.

A decisão de criar o Estado judeu foi acordada por Stálin e Truman, em 1947 e 1948, através de decisão da predecessora da atual ONU.

Esse acordo de Stálin com Harry S. Truman, o vice de Roosevelt, o amigo de Stálin, que o sucedeu em 1945, era por um lado uma expressão da entrega de Stálin das “Zonas de Influência” decididas pelos dois nos Acordos de Yalta e Potsdam, e por outro lado muito conveniente para o próprio Stálin, que era antissemita e perseguia os judeus na URSS, e que, assim, facilitou enormemente sua “exportação” para a Palestina invadida e partilhada.

Stálin e seu partidos stalinistas no mundo, os PCs, ainda propagandeavam aos quatro ventos que em Israel se estavam “fazendo experiências socialistas” com a implantação dos Kibutzim sobre as terras e povoados palestinos destruídos. Os Kibutzim foram os predecessores e a base do que se conhecesse hoje como os “assentamentos” de Israel e já estavam sendo estabelecidos desde 1910 por imigrantes judeus sionistas  de todo tipo nas proximidades da Faixa de Gaza e do Rio Jordão, na fronteira com o Líbano e na Galileia e no Neguev.

Desde o início do massacre de palestinos em 1948 a luta, inclusive dos palestinos (OLP e todas suas correntes), se definia por um Estado democrático e laico, em todo o território histórico da Palestina, com direitos iguais para todas as nacionalidades, para todas as religiões assim como para os que se declaram não religiosos. Reivindicação esta que foi formalmente abandonada pela OLP com o Acordo de Oslo, que estabelecia a criação de dois Estados, portanto aderindo, de fato, ao que a Liga das Nações havia decidido em 1948, dividindo a Palestina e iniciando o reino do terror contra os habitantes da região.

A reivindicação original da OLP foi assim abandonada e praticamente toda a esquerda mundial se curvou a esta política, que hoje é apresentada fraudulentamente como sendo “defesa dos palestinos” quando, na verdade, não passa de uma capitulação total e que foi o que conduziu à situação de hoje.

A reivindicação original de um Estado democrático e laico, em todo o território histórico da Palestina, com direitos iguais para todas as nacionalidades, para todas as religiões e para todos que se declaram não religiosos, hoje, evidentemente só poderá ser estabelecida por uma revolução socialista, incluindo as massas exploradas de Israel, em toda a Palestina e que se estenda, num processo de revolução permanente numa federação socialista dos países do Oriente Médio.

Mas, na esquerda, de várias nuances e cores, há os que capitulam de duas formas sob a pressão imperialista. Há os que esquecem o passado de divisão da terra palestina e a implantação de Israel através do terrorismo sionista e imperialista e não se incomodam de avalizar a continuidade da existência de um Estado religioso, racista e colonial apoiando orgulhosamente a política de dois Estados.

Mas, como há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia tomamos conhecimento em setembro deste ano de um texto “teórico” sobre a questão nacional que é escandaloso e deveria envergonhar os que o escreveram. Trata-se de um texto defendendo a existência de Israel, ao mesmo tempo que reivindica a revolução socialista em toda a região, declarando que: “contudo, hoje, o Estado de Israel existe, e não há como voltar atrás. Israel é uma nação, e não podemos exigir sua abolição. A solução para o problema nacional palestino (que discutiremos mais adiante) só pode ser alcançada através da formação de uma federação socialista do Oriente Médio, na qual árabes e israelenses possam coexistir em suas respectivas pátrias autônomas, com pleno respeito a todos os direitos nacionais” (Alan Woods e Ted Grant, publicado em fevereiro de 2000). Não só “reconhecem” o direito deste Estado monstruoso existir como afirmam que ele é uma nação, a “pátria judaica” e não um ente colonial, uma excrescência histórica e política. 

Já os trotskistas, desde o início da Partilha da Palestina, têm uma posição clara: “… a proposta do comitê da ONU não é uma solução nem para os judeus nem para os árabes; é uma solução pura e exclusivamente para os países imperialistas. Os tomadores de decisão sionistas agarraram avidamente o osso que o imperialismo jogou sobre eles. E os críticos sionistas de “esquerda”, em nome de tirar a máscara do jogo dos imperialistas, atacam sem entusiasmo a proposta de partição e exigem… um estado judeu em toda a Palestina! Um estado binacional como proposto por Shomer HaTsa’ir (Jovem Guarda) é apenas uma outra vestimenta para o direito dos judeus de impor aos árabes – sem seu consentimento e contra sua vontade – a imigração judaica e as políticas sionistas” (Contra a Partilha! – Declaração da Liga Comunista Revolucionária, seção Palestina da 4ª Internacional, 1947).

Já o regime teocrático islâmico do Irã é fruto do confisco de uma verdadeira revolução popular contra o regime do Xá Reza Pahlevi, que havia sido colocado no poder por um golpe de Estado organizado pelos próprios EUA.

A derrubada do odiado Xá, em 1979, foi uma revolução popular extraordinária que, em cerca de quatro dias, enfrentou e dissolveu as forças armadas do regime, incluído o exército, considerado um dos mais poderosos do mundo, na época. Nos meses anteriores à derrubada do regime greves e manifestações se multiplicaram e em todo o Irã e começaram a se constituir as Shuras, espécie de Conselhos de Trabalhadores, embriões de Sovietes.

Mas não havia organização nacional independente dos trabalhadores. O Partido Comunista Tudeh, que tinha grande influência popular e era controlado por Moscou, apoiou os islâmicos e apoiou o regime teocrático de Khomeini, sustentado por Moscou.

A derrubada do odiado Xá, em 1979, foi uma revolução popular extraordinária que, em cerca de quatro dias, enfrentou e dissolveu as forças armadas do regime / Imagem: sajedir

A partir de 1981 os bandos armados, de tipo fascista, organizados e dirigidos pelos Aiatolás, começam a atacar diretamente todas as organizações que não fossem xiitas e os que não são mortos imediatamente são enviados para o conhecido juiz islâmico xiita Laievardi, conhecido como o “juiz enforcador”.  Em suas mãos, em 1988, morreram fuzilados cerca de 8 mil militantes do partido comunista Tudeh.

A outra única organização realmente nacional com influência era a dos Aiatolás dirigidos por Khomeini e, como tinha o apoio do Tudeh, assumiu o controle, matando e assassinando, confiscando uma grande revolução e implantando um regime de terror, onde o capitalismo foi mantido, evidentemente. Para alegria dos iluminados Aiatolás e seus amigos da classe dominante para quem, de fato, trabalham os enviados de Alá.

O ataque de Israel contra o Irã, na chamada Guerra dos 12 dias, fez parte de um jogo complexo, do imperialismo EUA e sua cabeça de ponte sionista, onde a questão dominante é lançar o Oriente Médio no caos para aprofundar a dominação imperialista na região. Neste sentido é preciso estar inteiramente solidário com o povo do Irã, suas organizações sindicais, operárias e democráticas, femininas e de juventude, todos reprimidos pelo regime dos Aiatolás, e que sabem que Israel e os EUA não são nenhum futuro para o seu povo, mas a continuidade do horror. 

Entretanto, nome do combate ao sionismo e ao imperialismo, alinhar-se com o regime de Ali Khamenei e seu governo de facínoras seria um erro enorme e teria um custo vergonhoso para os que o fazem. Combater os ataques de Israel e dos EUA é um dever para todo comunista preservando sua total independência. 

O inimigo da Humanidade é o imperialismo e seus agentes e todos os defensores do regime da propriedade privada dos meios de produção. É evidente que ninguém em sã consciência pode aceitar os ataques de Israel e nem os ataques do governo Trump, ampliando a guerra e o caos com alegações hipócritas que nada mais são que armas de propaganda imperialista.

Entretanto, o ataque dos EUA contra o Irã tem o mérito, ao menos, de esclarecer uma questão que anda tomando a mente de muitas “esquerdas” a partir do puro e simples impressionismo. Inclusive esquerdas revolucionárias difundem a ideia de que o que ocorre no Oriente Médio, a guerra genocida de Israel contra os palestinos, os ataques de bombas israelenses contra qualquer desafeto na região e assassinatos seletivos em qualquer país, decorrem das decisões e objetivos exclusivos dos sionistas que são uma entidade própria. Onde a criatura teria se emancipado de seu criador e agora, inclusive, quase que o controla. 

Isso os leva a afirmar que Israel é um país imperialista na região e que joga seu próprio jogo. Isso tem consequências políticas, obviamente. Mas o tempo e a realidade são mestres em desmontar esquemas impressionistas e afirmações onde a vontade substitui o verdadeiro conteúdo dos fatos.

Isto foi desmontado, e ficou absolutamente claro sobre quem é que manda quando Trump disciplinou Netanyahu, pública e vergonhosamente, obrigando-o a dar meia volta com os seus caças que já estavam a caminho de bombardear o Irã e depois exigindo que Netanyahu respeitasse o cessar-fogo decidido pelos EUA e comunicado à Israel e ao  Irã. Netanyahu imediatamente se perfilou ao seu amo e senhor como um bom funcionário, mesmo que tenha alguns interesses que não coincidam com os de seu patrão. Como, por exemplo, manter a guerra contra qualquer um que lhe pareça disponível para escapar da cadeia e da fúria popular em Israel. 

Esta ideia estapafúrdia de que Israel faz o que quer e os EUA o seguem e alimentam por causa do lobby judaico em Nova York é completamente desmontada agora. O ministro do Qatar declarou em coletiva de imprensa de que tinham sido avisados pelo Irã do ataque. Agora se sabe, também, que o Irã avisou os EUA que ia atacar sua principal base no Oriente Médio onde estão 10 mil norte-americanos. Assim, por milagre de Alá e de Jesus, não morreu, nem ficou ferido nem um único soldado norte-americano na base atacada.

ficou absolutamente claro sobre quem é que manda quando Trump disciplinou Netanyahu, pública e vergonhosamente, obrigando-o a dar meia volta com os seus caças que já estavam a caminho de bombardear o Irã e depois exigindo que Netanyahu respeitasse o cessar-fogo decidido pelos EUA / Imagem: Casa Branca

Ou seja, o Irã salvou a sua honra, ou ao menos a cara de seu Aiatolá Khamenei, os EUA atacaram o Irã mostrando quem é que manda e mandando o regime sionista de Israel botar os seus aviões debaixo do braço (sejamos educados) e fazê-los voltar quando já estavam voando sobre território iraniano.

Assim todos eles estão contentes com o que decidiu desde o começo o governo imperialista dos EUA. E todos sabiam de todos os passos como os fatos provam. Cada governo fez sua parte no circo. Inclusive o regime do Qatar que mesmo sendo atacado expressou seu amoroso desejo de que tudo se resolvesse pela diplomacia. E Trump, de fato, mandou Israel cuidar do que lhe importa realmente, que é o desaparecimento da Palestina com o estabelecimento do objetivo sionista de um Grande Israel, do Rio ao Mar, que desestabilize toda a região para que os EUA aprofundem a dominação na rica e estratégica região. É o que Israel está agora fazendo.

Quando desatou o massacre de palestinos em Gaza, enquanto aumentava as colônias fascistas sionistas na Cisjordânia e os ataques e mortes nesta região, Netanyahu estava enfrentando as maiores manifestações de massa da história de Israel contra seu governo. Então, providencialmente, ou ao menos para sorte do terrorista Netanyahu, o Hamas atacou em 7 de outubro. E, mesmo agora, estava numa situação cada vez mais difícil. Havia escapado por muito pouco de uma moção de desconfiança no Knesset (Parlamento), o que derrubaria seu governo e obrigaria a realização de eleições em Israel. Depois, o sanguinário terrorista Netanyahu conheceria a cadeia… então, atacou o Irã de maneira providencial para todos eles. 

Neste momento, o Irã, um regime odiado em casa apesar de ainda manter uma certa base de apoio através da religião e do terror, estava vendo se iniciar uma greve geral de todo o Irã, impulsionada pelos trabalhadores de transporte, caminhoneiros e muitos outros setores de trabalhadores: “Desde 1º de Khordad de 1404 (22 de maio de 2025), o Irã tem testemunhado uma significativa erupção da luta de classes, com caminhoneiros e transportistas iniciando uma greve nacional. Trata-se de um protesto determinado contra condições de trabalho intoleráveis ​​e uma crescente crise do custo de vida, evidenciando a crise cada vez mais profunda do capitalismo iraniano. 

Em uma semana, a greve se espalhou para 125 cidades e, no oitavo dia, o Sindicato das Associações de Caminhoneiros e Motoristas de Caminhão do Irã anunciou que ela havia se espalhado para mais de 135 centros urbanos. Greves estão ocorrendo em mais de 140 cidades. O movimento foi ainda mais fortalecido pela solidariedade dos Nisandaran (motoristas de caminhonete) na cidade de Neyshabur. 

Desde 2018, o Irã tem testemunhado protestos e greves quase constantes, incluindo uma série de greves e levantes em todo o país. Essa mobilização atual de um setor-chave da economia serve como uma nova demonstração do crescente descontentamento na sociedade iraniana, do poder duradouro da classe trabalhadora e da instabilidade inerente ao regime” (Amir Azad, militante da ICR, 12/06/2025).

O ataque de Israel interrompeu as greves e, como sempre acontece, as massas, mesmo se não apoiam, param de agir momentaneamente contra o regime assassino que mantem e amplifica a exploração capitalista enquanto o inimigo externo ataca.  Um regime onde se você necessita de cuidados de saúde deve procurar seu imã ou aiatolá mais próximo ou vai “queimar no mármore do inferno”. 

E como o incansável Netanyahu não pode parar de se ocupar de matanças e genocídio, aproveita a oportunidade e alia sua própria necessidade, de não ir parar na cadeia, com o objetivo fundamental do sionismo tomar “uma terra sem povo para um, povo sem-terra”, como declararam no passado os “democratas” sionistas Bem Gurion e Golda Meier inaugurando o terror contra os palestinos.

Esta situação de conjunto só existe porque Israel existe como um regime de Apartheid, de racismo, de colonialismo, como o batalhão avançado do imperialismo EUA na região. É ele que provoca o caos, abastecido e coordenado pelos EUA, o que é mais uma demonstração de que esse Estado sionista de Apartheid não deve existir, que só serve para oprimir os povos.

E que põe em perigo os próprios judeus que afirma defender, incentivando e provocando antissemitismo, esta ideologia ultrarreacionária que o sionismo faz brotar e rebrotar em todo o mundo. Enquanto existir Israel, Estado sionista a serviço do imperialismo e dos capitalistas israelenses, não haverá paz no Oriente Médio e os próprios judeus sofrerão uma dor sem fim causada pela arapuca que os imperialistas e os sionistas montaram para esta gente já tão sofrida.

É preciso manter na mente que a ONU, que tantos reivindicam como instrumento da paz, deu um sinal verde ao ataque ao dizer que o Irã não estava atendendo às premissas de fiscalização que haviam sido acordadas entre a ONU e o Irã. Ou seja, a ONU abriu o caminho para o ataque.

A luta dos palestinos contra o regime sionista de Israel teve seu auge com a primeira Intifada. Praticamente todas as organizações palestinas existentes, então, dedicaram-se a trabalhar para impedir outra Intifada, que eles não haviam previsto nem organizado e nem controlado.

A Autoridade Palestina (sem nenhuma autoridade) passou a ser cada vez mais um antro de ladrões de todo tipo de dinheiro ou bens que aportassem na Cisjordânia. A partir daí se transformaram na polícia de Israel reprimindo, matando e entregando palestinos para Israel. Comandada por Mahmoud Abbas, líder do Fatah, a Autoridade Palestina prendeu o principal dirigente da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP), Ahmed Sadat, e permitiu que Israel o levasse para Israel onde permanece até hoje. A razão? Ahmed Sadat, Secretário Geral da FPLP, afirma persistentemente que a solução de um Estado é a única solução possível para o conflito, que não há solução de dois Estados, e não há perspectiva para qualquer outra tentativa de solução. 

O Hamas, organização praticamente criada por Israel para combater o Fatah, do falecido nacionalista Iasser Arafat, se distancia de seu criador e se joga nos braços da Sociedade Muçulmana, do Egito, e depois envereda pela política de “luta armada” organizando atos terroristas e ataques inofensivos com foguetes que só serviam para justificar ações de Israel contra os palestinos. 

Qualquer militante solidário com a luta do povo palestino deve ter a firmeza de chamar as coisas pelo seu nome e a consciência de que uma Palestina livre, do rio ao mar, com um único Estado laico e democrático / Imagem: RS, Fotos Públicas

Mas, o Hamas é permanentemente reforçado pela adesão dos palestinos que desesperados não suportam mais décadas de assassinatos, roubos, torturas, e tutti quanti. A voz, quase unânime, dos governos condenando o Hamas por terrorismo contra o “democrático” Estado de Israel é o cúmulo da hipocrisia e da falsidade. Pode ser relacionada com a máxima de Joseph Goebbels, o chefe da propaganda do partido nazista de Hitler, que dizia que “uma mentira repetida mil vezes vira uma verdade”. Mas a verdade é que o Israel é um Estado terrorista e genocida.

O povo palestino está usando as únicas armas que lhes vêm às mãos até agora. Não é possível condená-los porque estão em desespero após a traição de todas as organizações palestinas que reconheciam, a dor que sentem porque todos os regimes árabes da região sempre lhes disseram que os defenderiam e não fazem mais que organizar a continuidade do status quo do Oriente Médio com todas as suas monarquias sangrentas, seus regimes ultrarreacionários. E, publicamente, choram lágrimas de crocodilo enquanto um genocídio ocorre sob suas vistas gordas, porque afinal, também eles têm sangue escorrendo pelos olhos, pelas bocas e nas mãos. Eles sabem que estão sentados num barril de pólvora e as massas são seu maior inimigo e para salvar suas riquezas e privilégios estão sempre dispostos a realizar quantos “Setembros Negros” forem necessários, como fez o rei da Jordânia Hussein bin Talal, da dinastia Hachemita, em 1970. 

Qualquer militante solidário com a luta do povo palestino deve ter a firmeza de chamar as coisas pelo seu nome e a consciência de que uma Palestina livre, do rio ao mar, com um único Estado laico e democrático em que convivam todos os povos, etnias e religiões existentes só será conquistado com uma revolução socialista sobre os escombros do sionismo, das organizações palestinas corruptas e degeneradas e dos regimes monárquicos e teocráticos de toda a região.

Serge Goulart
17 de novembro de 2025