Foto: Sintrasem

Os trabalhadores avançam, as direções recuam

A vitória dos candidatos apoiados por Bolsonaro nas eleições para a presidência da Câmara e do Senado pode ser vista como mais uma expressão da falência da esquerda reformista. PT, PCdoB e a direção do PSOL passaram as últimas semanas articulando um bloco com setores da burguesia conjunturalmente insatisfeitos com Bolsonaro. O PT e os demais partidos de esquerda alegaram articular uma base parlamentar que pudesse garantir a abertura do pedido de impeachment, limitando suas ações à tentativa de acordos com políticos fisiológicos e oportunistas de todo o tipo. No Senado o cenário foi ainda pior, afinal o candidato defendido por Bolsonaro foi o mesmo apoiado pelo PT.

Embora houvesse 9 candidaturas inscritas, estavam de fato na disputa pela presidência da Câmara os deputados Artur Lira (PP), apoiado por Bolsonaro, e Baleia Rossi (MDB), apoiado pela oposição. Nessa disputa Bolsonaro fez a lição de casa. Por um lado, apoiou um candidato do “centrão”, um setor bastante heterogêneo de parlamentares, oriundos de vários partidos (PP, DEM, entre outros), que têm em comum apenas a voracidade por conseguir cargos e por manter seus currais eleitorais. Por outro, Bolsonaro prometeu a liberação de recursos em emendas aos parlamentares que apoiassem Lira. O resultado disso foi a debandada de uma parcela significativa de parlamentares para o bloco de Lira e sua esmagadora vitória na votação em primeiro turno (conseguiu 302 votos, contra 145 de seu oponente).

Com isso, Bolsonaro ganhou tempo para aplicar as medidas que a burguesia espera de seu governo, afastando temporariamente o fantasma do impeachment. Para tanto, precisa rapidamente priorizar o avanço nas privatizações e na reforma administrativa. Para a burguesia, diante do aprofundamento da crise econômica nos últimos meses, é fundamental que uma fatia ainda maior do orçamento público esteja voltada para o apoio aos seus interesses.

Nesse cenário, os trabalhadores vêm mostrando uma grande disposição de luta. Nos últimos dias foram realizados diversos atos contra o governo Bolsonaro. Na maioria desses atos se confundiu a derrubada do governo com o pedido de impeachment, que é uma manobra dos reformistas e de setores da burguesia para evitar a derrubada do governo pela ação dos trabalhadores. Contudo, os trabalhadores mostraram claramente não apenas a indignação da população em relação ao governo, mas também a disposição de luta dos trabalhadores.

Outro exemplo da disposição de luta foi demonstrado pelos trabalhadores da Comcap, empresa de coleta de lixo e limpeza urbana de Florianópolis, SC. No começo do mês a prefeitura enviou à Câmara de Vereadores uma série de projetos de lei que se constituíam em ataques brutais contra os trabalhadores, em especial da Comcap, retirando direitos historicamente conquistados e reorganizando a administração de tal forma a abrir as portas para a privatização dos serviços. Diante dos ataques os trabalhadores iniciaram uma massiva greve, logo considerada ilegal pelo Judiciário, que seguiu com força mesmo depois da aprovação do projeto de lei na Câmara de Vereadores. Em resposta à greve, a prefeitura ameaçou o emprego dos trabalhadores, por meio da abertura de processos administrativos e demissões em massa. Contudo, a luta dos trabalhadores da Comcap e uma campanha internacional, impulsionada pela Corrente Marxista Internacional (CMI), fizeram a prefeitura recuar nas ameaças.

Essa disposição de luta dos trabalhadores não se reflete nas direções, que procuram construir alternativas que não coloquem em risco a democracia burguesa. Por isso, o “Fora Bolsonaro” é igualado a uma articulação parlamentar para garantir a abertura do pedido de impeachment e não há qualquer ação das centrais sindicais no sentido de construir uma ampla luta para pôr abaixo o governo pelas mãos dos trabalhadores mobilizados. Para os reformistas, a principal tarefa está na ação parlamentar, devendo as lutas dos trabalhadores se constituir apenas em um mecanismo para pressionar deputados e senadores. Caso não se consiga isso, a aposta é de que se consiga construir, em unidade com setores da burguesia, uma candidatura para derrotar Bolsonaro em 2022.

Contudo, para os trabalhadores, não existe aliança possível com a burguesia. Uma frente com esses setores, como o querem os reformistas, é o caminho para acumular derrotas e mais derrotas. Os trabalhadores precisam construir suas lutas de forma independente, sem qualquer ilusão nas disputas conjunturais entre seus inimigos de classe. Somente com a luta e organização da classe trabalhadora e da juventude é que vamos pôr abaixo o governo Bolsonaro e construir um governo dos trabalhadores sem patrões nem generais.