Embora a imprensa burguesa continue a destacar a recuperação dos dados da economia e do emprego, um olhar mais atento mostra que não há uma melhora real na vida dos trabalhadores, expressa no arrocho salarial e no endividamento. Segundo os dados mais recentes divulgados pelo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente ao mês de novembro de 2022, a taxa de desemprego recuou para 8,1% no trimestre até novembro de 2022, atingindo cerca de 8,7 milhões de pessoas. A pesquisa anterior mostrou que havia 9,7 milhões de desempregados até agosto de 2022. Contudo, esses dados devem ser analisados em comparação a outros indicadores, e que mostram que não há melhoria real nas condições da classe trabalhadora.
Os dados apontam que a população fora da força de trabalho (sem ocupação e que não buscam novas oportunidades, mas com potencial para se transformar em força de trabalho) estava em 65,3 milhões em novembro, cerca de 1% acima do trimestre anterior, ou seja, 660 mil pessoas. Os desalentados, mesmo com a queda de 203 mil pessoas se comparado aos dados anteriores, ainda somam cerca de 4,1 milhões de pessoas. Portanto, um significativo segmento da classe trabalhadora segue sem emprego ou mesmo sem esperança de vir a conseguir alguma ocupação.
Outro elemento de destaque passa pela precarização, em grande medida como consequência da reforma trabalhista aprovada no governo Temer. Em 2022, os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) mostram que, das vagas criadas, 301.464 foram de contratos intermitentes e 237.894 de trabalho em regime de tempo parcial. Em 2021, comparativamente, foram, respectivamente, 270.204 e 235.048 novas vagas nessas modalidades. Outro dado sobre a precarização mostra que, dos cerca de 1,7 milhões de entregadores e motoristas “autônomos”, somente 23% paga contribuição ao INSS, ou seja, tem algum tipo de cobertura em caso de adoecimento ou mesmo tem alguma garantia no que se refere a uma possível aposentadoria.
O rendimento médio real dos ocupados foi de R$ 2.787, o que significou uma melhora de 3% em relação ao trimestre anterior, mas ainda 1,5% abaixo da renda de novembro de 2019, que era de R$ 2.830. Além disso, os dados do CAGED mostram que o salário inicial médio acumulado das contratações entre janeiro e dezembro de 2022 foi de R$ R$1.944,17, uma redução, comparado ao ano anterior, de R$ -47,34, ou seja, por volta de e -2,38%. Cabe lembrar que a inflação acumulada de 12 meses ficou em 5,79%, observando-se uma alta de 0,62% em dezembro de 2022. Por outro lado, o salário mínimo continua completamente desvalorizado, sendo reajustado para R$1.302, muito abaixo do valor proposto pelo DIEESE, cujo cálculo referente a dezembro estava em R$ 6.647,63.
Outro dado que influencia na vida concreta dos trabalhadores passa pelo endividamento. Os dados divulgados neste mês de janeiro mostram que 77,9% das famílias estavam endividadas em 2022. Esse dado significa uma alta de 7% em relação a 2021 e de 14,3% se comparado com 2019. Os dados mostram que cerca de 70% das famílias comprometeram pelo menos 10% da renda com essa finalidade. Observa-se nos dados também que mais de 1/5 das pessoas endividadas tiveram de gastar, no mínimo, metade do salário para pagar dívidas. Os dados mostram que 86,6% das dívidas são do cartão de crédito, ou seja, parte do salário dos trabalhadores acaba sendo abocanhado pelo capital financeiro.
Consequência do achatamento da renda e do crescimento do endividamento passa pelo fato de as dívidas se transformarem em inadimplência. Em 2022, a parcela dos consumidores que atrasaram algum pagamento atingiu 28,9% da população. Essa proporção representa um crescimento de 3,7% em relação a 2021. Ou seja, diante do achatamento salarial, a classe trabalhadora contrai dívidas para comprar itens básicos para sua sobrevivência e, sem condição de pagar, acaba acumulando atrasos e caindo na inadimplência.
Para os trabalhadores coloca-se como central a luta por emprego e renda. A situação expressa por esses e outros dados é consequência direta das reformas e ataques dos diferentes governos, em especial das reformas da previdência e trabalhista, desde o governo FHC, passando por Lula e Dilma e chegando a Temer e Bolsonaro. Essas medidas sempre visaram garantir o lucro da burguesia e salvar os interesses privados diante das crises do próprio capitalismo. Nesse sentido, as lutas imediatas, pela manutenção do emprego ou por reajustes salariais, precisam estar conectadas ao combate pela revogação das reformas que retiraram direitos dos trabalhadores.