Editorial da edição nº 18 do Jornal Luta de Classes (29/01/2009 a 01/03/2009)
Poucas vezes foi tão claro que Engels tinha razão ao afirmar que o Estado é o Comitê Central dos negócios da burguesia.
A festa de fim de ano em 2008 prosseguiu no início de 2009. Ao menos para certos capitalistas. O mundo viu os ultra-liberais Bush, Gordon Brown, Merkel, Sarkozy protagonizarem um escandaloso festival de intervenção do Estado na economia, transferindo trilhões de dólares dos cofres públicos para os maiores bancos e empresas do mundo. A maior empresa do mundo, a GM, e o maior Banco do mundo , o Bank of América, estão à beira da bancarrota total. Países inteiros que viviam no cassino internacional, como a Islândia, quebraram. A “marolinha” virou crise e se prepara para virar depressão econômica mundial.
Mais de 2 milhões e meio de empregos perdidos nos EUA em 2008. No Brasil, só em dezembro, foram 654 mil. Um milhão de trabalhadores perderam suas casas nos EUA. E esperam de Obama um milagre que ele não pode fazer – mesmo se reza todo dia e é presidente do mais potente país imperialista do planeta.
A monstruosa crise de superprodução que ameaça o mundo foi gestada pelos próprios mecanismos internos do capitalismo, como sempre. E empurrada com a barriga e inflada com a pirâmide de papéis financeiros que nada valem e por bolhas de crédito assopradas até a exaustão pelos adoradores do “livre mercado”. Agora, a conta está sendo apresentada ao povo e aos cofres públicos.
Mas, não há solução que não seja dolorosa para a classe trabalhadora. O Manifesto Comunista explica as maneiras que tem a burguesia para sair das crises econômicas: com a destruição massiva de forças produtivas (destruindo setores inteiros da economia, fusionando empresas e demitindo trabalhadores), com a conquista de novos mercados (acentuação da disputa inter-imperialista pelos mercados, onde a guerra é mera consequência) e a ampliação da exploração (contra-reformas, retirada de direitos, repressão e arrocho).
Esta é a música da FIESP, da Vale do Rio Doce, das Montadoras do ABC e de todos os empresários que estão pegando bilhões do BNDES para pagar demissões. Enquanto o governo “reclama” que estes malvados não deveriam demitir, mas não adota nenhuma medida real, milhões de trabalhadores já estão na rua da amargura. Tem razão a CUT de recusar discutir redução salarial e exigir medidas do governo. Mas, é preciso agir de fato e mobilizar.
O capitalismo não vai acabar sozinho. E se não acaba, ao final de um tempo ele se reconstrói sobre o sangue e o suor da classe trabalhadora. É preciso que milhões de proletários o derrubem e de um partido socialista revolucionário que o enterre. E nos momentos de crise econômica todas as mentiras dos capitalistas se desfazem no ar, tudo o que está escondido aparece.
O oxigênio do crescimento econômico desaparece e falta ar aos reformistas. Sua política que parecia “dar certo”, ser a “mais prudente e realista” se desmancha como um trapo e os operários se interrogam para onde estão sendo conduzidos por estes senhores, que cada vez mais se parecem com seus próprios patrões. Os sindicatos se reativam, as lutas de rua reaparecem e as lutas econômicas se transformam em luta política de classe. A Greve Geral se insinua e se apresentará. É com seus métodos de classe que os operários vão se defender.
É nestas épocas tumultuosas que se constróem as correntes revolucionárias que vão mudar o mundo. Estudando, organizando e mobilizando. Explicando pacientemente aos operários e à juventude o significado da crise, suas origens e consequências, a saída dos capitalistas e a nossa, expropriação do capital e planificação da economia segundo os interesses do povo trabalhador e de toda a humanidade. É nestas épocas que, como dizia Karl Marx em carta a Friedrich Engels, comentando a crise de 1857, que “Nós finalmente temos a chance!”.
Feliz 2009!