Foto: Severino Silva/O Dia

A situação política no Rio de Janeiro e os erros do Psol

Este artigo foi originalmente publicado no Foice&Martelo, publicação que analisa a situação política nacional e internacional de um ponto de vista marxista e das tarefas revolucionárias. Conheça o jornal, assine e tenha acesso exclusivo ao conteúdo completo do número vigente e ao acervo de edições. Confira a edição em vigor.

No Rio de Janeiro as pessoas estão convivendo com a violência na porta de casa. Relatórios de entidades de Direitos Humanos mostram que a intervenção das forças armadas fez o Estado matar mais.

Os homicídios em decorrência de intervenção policial mais do que dobraram em cinco anos. Entre janeiro e julho de 2013, 236 pessoas morreram em ações da polícia. Já nos sete primeiros meses de 2018, foram 895 mortes, um aumento de 279%. A média mensal, que era de 33 mortes em 2013, passou para 127 em 2018, ou seja, quatro civis por dia (ISP/USP). Relatos recolhidos pela Ouvidoria Externa sobre abusos praticados pelos militares revelam roubos, invasões de casas, agressões, xingamentos e outros 30 tipos de violações nas abordagens, como consta em relatório de pesquisadores que visitaram 15 favelas.

No caso do PM que matou o garçom negro com três tiros, alegando que confundiu o guarda-chuva com uma arma, nenhum dos oito policiais que acompanhavam confirmaram que escutaram tiros ou que era possível fazer tamanha confusão. Denúncias feitas na televisão por pessoas que tiveram suas casas invadidas por policiais sem mandatos afirmam que familiares foram arrastados para fora e fuzilados a sangue frio.

Militares uniformizados e fortemente armados transitam na cidade principalmente próximo a favelas e bairros operários. Todos sentem que a repressão aumentou, mas ninguém acredita que a violência diminuiu. A sensação não é de segurança e sim que a vida humana está perdendo valor a cada episódio.

O “combate ao tráfico” virou uma desculpa para ataques generalizados aos moradores dos bairros operários. Esse tipo de “ação” leva ao aumento do “arrego” (propina paga pelos traficantes a policiais) e ao avanço das milícias, formadas por policiais e ex-policiais.

Nas eleições do Rio, a ascensão de Bolsonaro levou o desconhecido juiz Witzel (PSC) ao primeiro lugar com 41,28% dos votos válidos. Em segundo ficou Eduardo Paes (DEM), com 19,56%. Tarcísio (Psol) ficou em terceiro, com 10,72%. Mas esses são apenas os votos válidos. Precisamos analisar a totalidade (12.401.199 eleitores). Os números totais mostram uma enorme insatisfação com o sistema. Witzel recebeu 3.154.771 votos, enquanto nulos, brancos e abstenções somaram 4.671.974 votos. Uma diferença de mais de um milhão e meio de votos.

A pergunta é: por que o Psol não conseguiu canalizar esse sentimento de revolta, ficando Tarcísio apenas com 819 mil votos, menos do que Freixo recebeu quando foi candidato a Prefeito (1.163.662 votos)? Esse resultado negativo se deve à política que o Psol aplicou nessas eleições.

No 2º turno do RJ disputam dois candidatos burgueses, Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM). Os trabalhadores e a juventude não têm em quem votar, por isso chamamos o voto nulo.

A direção do Psol se rendeu à pequena-burguesia – um programa capitalista, sem nenhum combate pelo socialismo e permeado pelo identitarismo. Isso impediu o partido de se credenciar como um partido da classe trabalhadora. Esse oportunismo eleitoral bloqueou o Psol como uma alternativa revolucionária contra o sistema, um partido que organize a classe trabalhadora e que lute através da única forma de se conquistar a igualdade para todos, a única forma de colocar fim às opressões: a luta pela revolução socialista.

Além disso, no Rio, parte da direção do Psol, incluindo Freixo, golpeou duramente a própria militância rompendo a coligação com o PCB e fazendo campanha diretamente para Lindbergh (PT) ao Senado. Essa traição desanimou ainda mais a militância e ajudou a anular o Psol nas urnas.

O maior sucesso do Psol foram as três assessoras da vereadora Mairielle, assassinada em março. Elas se candidataram para o mesmo cargo e foram eleitas deputadas estaduais na Alerj. Isso mostra a grande combatividade dos trabalhadores contra a política repressora do Estado e as máfias policiais e suas milícias. Isso é bastante positivo porque os trabalhadores organizados podem colocar um fim à violência. O partido deveria ter colocado no seu programa o que as manifestações gritavam: o fim da PM.

Em vez disso, Tarcísio, como candidato, repetia a política burguesa de “melhorar a polícia”, “planejar melhor”, “ter inteligência na política de segurança”. Repetimos: a única política capaz de garantir a segurança dos proletários no Rio é a política de organização popular, de comissões de auto-defesa nos bairros e fábricas operárias, que organizem a sua própria defesa contra traficantes e as ações repressoras do aparato policialesco. A conciliação com a burguesia tem consequências trágicas e a perda de votação nos candidatos majoritários do partido é apenas o reflexo disso.