Declaração de ‘Lucha de Clases’ – corrente do PSUV (Partido Socialista Unido de Venezuela) e seção venezuelana da CMI (Corrente Marxista Internacional) – explica que Khadafi nada tem a ver com um líder anti-imperialista e chama todo apoio ao povo líbio!
Seguindo os passos da Tunísia e do Egito, o povo líbio se levanta contra o regime de seu país, exigindo a saída do atual líder Muammar Khadafi. Isso tem sido visto de diferentes pontos de vista em todo o mundo. Particularmente na América Latina há muita confusão sobre o que realmente está acontecendo. Acreditamos que seja necessário explicar a nossa posição sobre esta matéria, porque alguns meios de comunicação têm abordado a questão como se o governo de Khadafi fosse um governo revolucionário e estivesse enfrentando uma rebelião orquestrada pelo imperialismo.
Devemos esclarecer que, longe de uma intervenção estrangeira, se trata de fatos que poderiam ser comparados com o Caracazo de 27 de fevereiro de 1989. O presidente Chávez fez a mesma comparação, no caso das revoltas recentes na Tunísia e no Egito:
“No Egito está acontecendo o mesmo que no Caracazo, um despertar repentino de um povo. Apenas vimos as primeiras ondas dessa maré. São acontecimentos que marcam uma nova história no mundo todo” (Hugo Chávez, 19 de fevereiro de 2011 – ler aqui).
O caráter do regime de Khadafi
Longe de ser um governo anti-imperialista, Khadafi compactuou em várias ocasiões com o imperialismo mundial, reunindo-se e assinando acordos com Berlusconi, Sarkozy, Zapatero e Blair. Ele também recebeu visitas do rei espanhol Juan Carlos, representando os empresários da Espanha.
Em 1993-94, Khadafi introduziu as primeiras leis que faziam parte de um giro econômico no sentido da abertura do mercado. Durante uma década, quase nada foi feito nesse sentido. Mas, confrontado com as dificuldades econômicas em 2003, o processo se acelera. Em troca de leis que preparavam as privatizações e uma maior abertura ao investimento de capital estrangeiro, o regime iniciou uma reconciliação com o imperialismo e logo deu resultados.
Em setembro de 2003, a ONU suspendeu todas as sanções econômicas contra a Líbia, em troca de um pacote econômico que incluía planos para privatizar 360 empresas estatais e, em 2006, a Líbia inclusive solicitou a entrada na Organização Mundial do Comércio. Em 2008, a própria Condoleezza Rice (ex-Secretária de Estado dos EUA) disse que a Líbia e os Estados Unidos compartilhavam de interesses comuns, como “a luta contra o terrorismo, o comércio, proliferação nuclear, África, direitos humanos e democracia”.
Hoje, todas as grandes multinacionais do petróleo estão operando na Líbia: a British Petroleum, Exonn Mobil, Total, Repsol, entre outras. Por outro lado, é interessante notar que Khadafi se tornou dono de 5% das ações da Fiat, como resultado da abertura do país para os capitalistas italianos.
Tudo isso deixa claro que este regime está mais próximo dos interesses capitalistas e imperialistas do que dos interesses de seu próprio povo e da revolução. Como declarou o companheiro deputado do PSUV pelo estado de Bolívar, Adel El-Zabay, que é de origem árabe: “Khadafi já não é mais o líder anti-imperialista do passado e enfrenta com massacres um verdadeiro clamor popular”.
O caráter da revolta na Líbia
Essa revolta tem as mesmas causas que a da Tunísia e do Egito. O resultado da abertura de acordos de Khadafi com o imperialismo foi um desastre econômico para a maioria da população, apesar da riqueza petrolífera do país. A Líbia é um país com 30% de desemprego e um custo de vida cada vez mais elevado. Alimentos básicos, como arroz, farinha e açúcar encareceram cerca de 85% nos últimos 3 anos. Este é o motivo real que levou à revolta popular que existe na Líbia. Por esta razão Khadafi apoiou Ben Ali e Mubarak contra a insurreição revolucionária do povo da Tunísia e do Egito.
Inspirado por seus irmãos no resto do mundo árabe, trabalhadores, jovens e pobres na Líbia se levantaram contra uma ditadura que revela seu verdadeiro caráter. O levante que começou em Benghazi, a segunda maior cidade do país, tem se espalhado para muitas regiões do território nacional.
Khadafi respondeu com violência brutal, e assim como durante a revolta popular do “Caracazo”, usou o exército contra a população civil desarmada. Além disso, também tem utilizado mercenários contra o povo. O fato de que Khadafi foi forçado a pagar mercenários é a prova de que não confiava em seus próprios soldados. Em Benghazi, o exército passou para o lado do povo e isso tem se repetido em outras cidades. É difícil estimar o número de mortos, mas sabemos que só em Benghazi já foram mortas mais de 230 pessoas. A repressão atingiu um nível tão cruel que foi utilizada a força aérea para bombardear os manifestantes.
Sem dúvida, o imperialismo nessa situação vai tentar fazer valer os seus interesses. Somos contra qualquer intervenção imperialista na Líbia. São justamente os imperialistas que venderam armas a Khadafi, fizeram acordos de negócios para explorar a riqueza petrolífera do país e o utilizaram como uma barreira de contenção contra a “imigração clandestina” na Europa. O imperialismo não está interessado no destino do povo da Líbia, mas apenas nos recursos naturais do país.
Solidariedade com a revolução árabe!
Lucha de Clases, coletivo de trabalhadores e jovens marxistas no PSUV, declara:
1. Solidariedade com as revoluções no mundo árabe!
2. Condenamos a repressão contra o povo trabalhador da Líbia!
3. Rechaçamos qualquer tentativa de desviar a atenção do povo revolucionário venezuelano em relação ao caráter revolucionário da insurreição líbia!
4. Como na América Latina, anos de pilhagem imperialista, exploração e privatizações levaram a uma revolução social.
5. Contra qualquer tentativa do imperialismo de intervir na Líbia!
6. É tarefa dos revolucionários de todo o mundo – e particularmente na Venezuela – apoiar a Revolução Árabe, explicando que a única maneira de sair da miséria capitalista que engolfa o nosso povo é a luta pelo socialismo. A revolução é internacional ou não é revolução!
• Nunca mais um Caracazo!
• Abaixo a repressão!
• Viva a revolução na Tunísia, Egito e Líbia!
Caracas, 24 de fevereiro de 2011.