Navio Negreiro, Johann Moritz Rugendas (1830)

As origens do racismo e a luta contra a criminalização dos negros

No dia 12 de agosto, o Movimento Negro Socialista (MNS) de SP irá realizar a atividade online ” Origens do racismo e a história do Movimento Negro no Brasil”, uma iniciativa da campanha nacional impulsionada pelo MNS, “Ser negro não é crime!”. Inscreva-se aqui e participe.

Para combater o racismo é fundamental entender as suas origens. Para nós, marxistas, a história da humanidade é a história da luta de classes. O racismo é uma ideologia criada para justificar a exploração de uma classe sobre outras, tal como outras ideologias foram criadas, como a xenofobia, o machismo e as discriminações religiosas.

Acontece que o racismo surge junto ao nascimento do capitalismo. Com o advento da Revolução Francesa de 1789, os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade pressupunham que todos os seres humanos eram iguais. Assim, para manter o regime de exploração escrava pela burguesia, que surgia como classe dominante, foi criada a Teoria das Raças, que justificaria o fato de que alguns seres humanos poderiam ser escravizados e tratados de forma sub-humana, afinal, seriam de “raças” inferiores. Mas, na base dessa ideologia estavam os interesses econômicos de uma classe dominante em explorar mão de obra barata em escala global, a ponto de até traficar seres humanos de um continente ao outro, tudo legitimado pela lei. Ou seja, as bases materiais é que estruturam as bases ideológicas. Foram os interesses econômicos que obrigaram a burguesia a inventar uma ideologia para justificar a exploração. E não o contrário, como afirmam muitos ativistas do movimento negro.

A sociedade de classes necessita de uma base ideológica para manter os oprimidos nessa condição de servidão, de escravidão. Ao mesmo tempo em que divide a classe trabalhadora, pois, ao acreditar na mentira de que nossas diferenças nos separam, isso nos impede de nos organizarmos e lutarmos enquanto classe. Assim, se propaga o racialismo e as teorias das “lutas de raças”, para enterrar a luta de classes.

Como dizia Steve Biko, “racismo e capitalismo são duas faces de uma mesma moeda”. Ou seja, o racismo hoje é essencial para a sobrevivência do capitalismo. Um não vive sem o outro, sobretudo em países semicoloniais como o Brasil, em que a exploração da classe trabalhadora se deu através da escravidão racista, fazendo com que se confundam os instrumentos de opressão racistas e classistas. Como aqui a maioria da classe trabalhadora é negra, isso quer dizer que reprimir os negros é necessariamente reprimir a classe trabalhadora, e vice-versa.

Então, as leis do passado que criminalizavam os “vadios”, os capoeiras, os sambistas estavam na verdade reprimindo a classe trabalhadora. Da mesma forma que hoje a atuação da polícia nos bairros operários, com a justificativa de que está combatendo a criminalidade, serve como aparelho de repressão aos trabalhadores, de modo que eles vivam um clima de medo.

No Brasil, ser negro é ser tratado como criminoso de antemão. Ou seja, a cor de nossa pele garante que os direitos mais básicos possam ser arrancados, pois seríamos criminosos. Até a pena de morte pode ser aplicada pela polícia, bastando ela afirmar que o suspeito estava armado.

Contudo, não basta chegar à conclusão de que o racismo deve apenas ser denunciado. É necessário, portanto, combater o regime econômico que permite que essa ideologia se propague e atue.

Por isso, para nós, marxistas revolucionários, para combater o racismo é necessário combater o próprio capitalismo, é preciso pôr fim à sociedade de classes. Para nós, “classe” não é só mais um “marcador social de opressão” (ao lado de gênero, religião, idade etc.), como afirmam muitos ativistas e acadêmicos hoje. Lutar contra o racismo exige lutar contra o capitalismo, que só sobrevive assentado nessa teoria covarde que esmaga, encarcera e mata, a nós negros, diariamente.

Não é possível qualquer ilusão em reformas deste sistema podre, precisamos derrubá-lo e erguer uma nova sociedade, sem classes e sem racismo.