Começa a Universidade Marxista Internacional

Iniciou hoje (25/07) por meio de transmissão online, a Universidade Marxista Internacional. São mais de 6 mil inscritos de 100 países que buscam nas ideias revolucionárias do marxismo uma saída para a atual situação. Dentre os países com o maior número de inscritos está o Brasil, onde  a classe trabalhadora e a juventude sentem na pele diariamente as consequências de um governo que não se importa com o número de mortos pelo coronavírus e que busca intensificar ainda mais os ataques contra a classe trabalhadora em nome dos interesses do capital financeiro. 

O mundo em chamas

A fala de abertura da universidade foi realizada por Alan Woods, dirigente da Corrente Marxista Internacional (CMI), com o tema “O mundo em chamas”, em que apresentou panorama da crise do capitalismo e da luta de classes em nível mundial.

Há momentos na história mundial, explicou Alan, que são momentos de grande mudança e as pessoas sempre buscam paralelos com a história. Alguns comparam com a Grande Depressão de 1929 ou com o período da Revolução Russa de 1917 etc. Mas, para encontrarmos um período que permite um paralelo, precisamos voltar pelo menos 700 anos na história, durante o período da peste negra na Europa em que muitos acreditavam que o fim do mundo estava chegando. Entretanto, aquele não era o fim  do mundo, mas sim o fim de um sistema econômico, o feudalismo, que seria varrido pelas revoluções burguesas no período posterior. Ele explica esse paralelo da seguinte maneira: 

“A peste negra teve um papel material que ajudou a acelerar esse processo [de destruição do feudalismo]. Então, podemos dizer que existe um paralelo aí. É verdade que não chegamos nem perto aos números de mortos causados pela peste negra, mas a pandemia do coronavírus é maior que a peste negra em amplitude mundial. E, na verdade, ninguém sabe quantos morreram dessa doença até hoje, os governos mentem e escondem os números. Podemos ter a certeza que os números de mortos irá passar de um milhão até o final do ano e a pandemia continua sem controle na África, Ásia, América Latina e nos EUA, o país mais poderoso do planeta.

De acordo com Alan, nós estamos vivendo um desses momentos de grandes mudanças. A crise econômica atinge todos os países do mundo. Desemprego recorde, despejos, sistemas de saúde em colapso são as consequências mais imediatas desse processo. A pandemia, que se tornou um catalisador dessa crise, já ceifou a vida de mais de 600 mil pessoas e não parece que existe um prazo para que termine.  

Para o dirigente da CMI, não possui paralelo na história a velocidade com que ocorrem esses eventos hoje. 

Em algumas semanas após o estouro da crise cerca de 40 milhões perderam seus empregos só nos EUA. A classe dominante não enxerga uma luz no fim do túnel e para tentar amenizar o impacto da crise, utilizou milhões dos cofres do públicos. Agora, uma nova pergunta se coloca na ordem do dia: quem pagará essa conta? A burguesia fará de tudo para fazer a classe trabalhadora pagar por meio de austeridade, sucateamento e destruição de serviços públicos, desemprego em massa, precarização dos postos de trabalho etc. e os mais mais vulneráveis – pobres, idosos, jovens, desempregados – serão os mais afetados.

Entretanto, dialeticamente, essa situação abre uma nova perspectiva: a possibilidade de uma revolução mundial. E o maior exemplo dessa possibilidade pudemos acompanhar mesmo durante a pandemia nos Estados Unidos, onde milhares saíram às ruas para expressar a sua raiva contra a violência policial, contra o racismo e contra o próprio capitalismo. 

Alan Woods explicou que o que ocorreu não foi um raio em céu azul, mas o resultado de anos de opressão, exploração e de violência contra os trabalhadores. Entretanto, é preciso considerar, como explica a dialética, que eventualmente a quantidade se converte em qualidade e o assassinato de George Floyd pela polícia foi o último evento desta etapa. Se as manifestações que explodiram a partir de junho não podem ser caracterizadas como uma revolução, pode-se dizer que são fruto de uma mudança profunda na sociedade norte-americana, um ponto de virada em sua história.

Além disso, a onda revolucionária que varreu o mundo em 2019, percorrendo Sudão, Líbano, Iraque, Hong Kong, Chile, Equador etc. e as manifestações massivas de 2020 dos EUA, Grã-Bretanha, França, Israel, entre outros, são a demonstração que há uma força maior do que qualquer Exército, que qualquer polícia, a força das massas. 

A crise da direção

Retomando o que o revolucionário Leon Trotsky afirmou em 1938 no Programa de Transição que a crise da humanidade pode se resumir pela crise da direção do proletariado, Alan afirmou: 

Os reformistas e os stalinistas que são a pior forma de traidores, controlavam as massas até pouco tempo. Mas a crise do capitalismo é também a sua crise, a crise do reformismo. Em todo lugar do mundo o povo está desesperadamente procurando uma solução fora dessa situação e olham por todas as opções. Temos que estar preparados para isso e entender o que significa. São mudanças violentas eleitorais para esquerda e para a direita. Isso é uma expressão do povo tentando achar uma saída para a crise. Não se pode culpá-los por isso. Todas as direções e alternativas estão sendo testadas, de direita ou de esquerda. Os de esquerda são os piores. Sob pressão podem adotar um tom mais radical, mas não podemos ser enganados por isso. 

“A esquerda reformista tem muito em comum com a direita reformista. Nenhum dos dois tem a perspectiva de abolir o capitalismo. Ambos acreditam que é possível mudar o capitalismo, dar uma face humana. E agem com a audácia de nos acusar de sermos utópicos. Quando o marxismo é a única tendência que olha para os fatos e diz a verdade. Os reformistas olham para as coisas e tentam enganar os outros, porém a realidade vai desmascarando. Como o Syriza, na Grécia, ou Jeremy Corbyn, na Inglaterra.

A espontaneidade das massas também foi abordado por Alan ao explicar que este foi um fator que deu grande vantagem para a explosão das manifestações tanto dos EUA quanto no resto do mundo, impedindo as direções tradicionais de agirem como uma força de controle da situação, porém, agora essa é a maior debilidade do movimento e é o que o impede de ir adiante.

Relembrando a histórica frase de Lenin, o capitalismo é horror sem fim, Alan afirmou: “isso foi provado por algo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) falou: 255 milhões de pessoas devem sofrer por fome até o fim deste ano. Infelizmente é verdade. É a realidade do nosso mundo em 2020.

Dando sequência, explicou que a incapacidade da burguesia de lidar com a pandemia, com a crise do seu regime é a prova de que é necessário que o capitalismo morra para que a humanidade possa sobreviver. Não se trata apenas da destruição da civilização, mas da possibilidade da destruição da vida na terra se o regime da propriedade privada dos grandes meios de produção continuar seu processo de destruição do homem e da natureza. A classe trabalhadora está testando as direções tradicionais, as novas que surgem e vai forjar nas lutas de agora – na verdade, está forjando – os novos quadros que irão se tornar a vanguarda do movimento. Acima de tudo, a classe trabalhadora precisa se organizar preparando seus quadros e construindo o seu partido revolucionário 

Apenas o início

A atividade contou ainda com a participação de camaradas dos Estados Unidos, Paquistão, Itália, Reino Unido e Alemanha. 

Serge Goulart, dirigente da Esquerda Marxista, seção brasileira da CMI, tratou da situação convulsiva no planeta. Explicou que há uma guerra declarada da burguesia contra a classe trabalhadora. Uma guerra que busca arrancar as conquistas democráticas dos trabalhadores e conta com o apoio dos reformistas para isso, na tentativa de fazer a situação dos trabalhadores retornarem ao século 19. Afirmou ainda que essa situação dará espaço para a retomada do que foram as onda revolucionária de 2019:

A onda revolucionária de 2019 não desapareceu, foi represada e voltará em escala maior. É nesta situação que a CMI realiza a Universidade Marxista mostrando que é possível lutar em defesa das ideias do marxismo. Mais de 5 mil trabalhadores e jovens de mais de 100 países é a expressão desse momento histórico e demonstra a necessidade de construir uma verdadeira internacional de massas que ajudará a construir os partidos proletários em todo o mundo.

O último ponto do dia foi a coleta financeira, realizada por Fred Westoo. O Camarada retomou as tradições operárias de manter a independência financeira para garantir a independência política da CMI e, ao final, informou que fizemos a maior arrecadação da história.

Esse foi apenas o começo de quatro dias de debates que irão ocorrer até o dia 28 de julho. Acompanhe os relatos das discussões em marxismo.org.br e junte-se à Esquerda Marxista e à Corrente Marxista Internacional na luta pelo socialismo no Brasil e no mundo.