No editorial do jornal Foice&Martelo 95, analisamos o discurso de submissão de Lula na coletiva sobre a denúncia apresentada contra ele “por convicção”.
Em coletiva de imprensa convocada pelo Ministério Público Federal no dia 14/9, o procurador da República Deltan Dellagnol falou por pouco mais de uma hora sobre os motivos que o levam a crer que Lula é o comandante do esquema de corrupção investigado pela operação Lava Jato.
No dia seguinte, Lula convoca uma coletiva e apresenta a sua defesa. A denúncia do MPF carece de embasamento e recorre à “convicção” de que Lula é o “chefe”, “comandante máximo”, “maestro” de uma “propinocracia”. O espetáculo montado e a falta de provas são alvos de críticas, inclusive, de comentaristas burgueses.
A verdade que se esconde por trás do “show” promovido pelo MPF é que o objetivo dessa operação não é combater a corrupção, mas sim mirar em Lula e no PT para atingir o conjunto da esquerda, desmoralizar e criminalizar os movimentos sociais, o movimento sindical, a luta da classe trabalhadora e da juventude. Esse é o real sentido do cerco a Lula, assim como foi o julgamento do chamando “mensalão”, pelo STF, com condenações sem provas.
A lógica de que “não temos prova, mas temos convicção”, cabe perfeitamente para inúmeros casos de prisão e condenação de militantes e manifestantes. O que avança é um totalitarismo do Judiciário para coibir, junto com a repressão policial, as mobilizações populares.
Não se trata de defender a inocência de Lula. Ele e o PT se adaptaram ao jogo do poder das podres instituições burguesas. Mas quem tem o direito de condenar Lula e os dirigentes pelegos é a classe trabalhadora, não essa justiça burguesa.
Reformismo, doença mortal
Mesmo diante de todos os ataques, Lula e o PT seguem defendendo as instituições, seguem tentando se apresentar como melhores servidores do capital do que Temer ou qualquer um dos pretendentes ao posto.
Lula, inclusive, defende os políticos corruptos e ataca os servidores públicos ao dizer: “… a profissão mais honesta é a do político, sabe por quê? Por que todo ano por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para a rua encarar o povo e pedir voto. O concursado não, se forma na universidade, faz um concurso e está com emprego garantido para o resto da vida”. O sentido desse “deslize” é a adaptação de Lula ao sistema e seu desprezo pelos servidores, usando uma esdrúxula comparação a políticos aos moldes do jargão usado pelos cabos eleitorais de Ademar de Barros “rouba, mas faz”.
A repressão nas ruas
Se nos tribunais segue a caça a Lula e ao PT, nas ruas os manifestantes têm sentido na pele a repressão nas manifestações pelo “Fora Temer”. Embora a polícia tenha contido suas ações por medo de uma revolta generalizada contra a brutalidade policial.
Tudo que foi possível utilizar como argumento foi usado ao limite. Mesmo em manifestações sem a presença de Black Blocs, como a de 4 de setembro em São Paulo, a PM deliberadamente decidiu dispersar os manifestantes. A covardia foi tamanha que, mesmo quando os participantes se retiravam no Largo da Batata, receberam bombas em suas costas.
A violência e o Estado
Lenin em sua obra “Estado e a Revolução” descreve o Estado como uma força com poder coercitivo. “Esse poder público existe em todos os Estados. Compreende não só homens armados, como também elementos materiais, prisões e instituições coercitivas de toda espécie…”.
O Estado e seus braços (Executivo, Legislativo, Judiciário, Forças Armadas, polícias, etc.) estão a serviço de uma classe, a burguesia.
Na atual situação, a credibilidade desses poderes está abalada. Reprimir as manifestações duramente, por exemplo, pode ter um efeito contrário e, como em 2013, ser a gota d’água para explodir uma revolta de massas.
Apesar da traição das direções tradicionais e dos ataques do atual governo, a classe trabalhadora e a juventude não estão derrotadas e mantém muita disposição de luta. É preciso construir uma saída para a nossa classe. É preciso construir a unidade em defesa de nossos direitos e conquistas, derrubar Temer e o Congresso Nacional, construir uma assembleia popular nacional constituinte e um governo dos trabalhadores.