Após decreto do governo do Estado, Trabalhadores aglomeraram nos terminais de ônibus Foto: Bruna Bechtold, Arquivo pessoal

Joinville: ônibus vazios e terminais lotados enquanto o governo finge combater a pandemia

Entrou em vigor hoje (25) em todo o estado de Santa Catarina o decreto que apresenta novas medidas de restrição para o suposto combate à Covid-19. Entre elas, está a redução na lotação máxima dos ônibus de 70% da capacidade total para 50% da capacidade de passageiros sentados. Em Joinville, isso significou a redução para cerca de 18 pessoas por ônibus, porém as empresas de transporte coletivo (Transtusa e Gidion) não tomaram nenhuma medida para suprir a demanda já existente e o resultado foi a aglomeração de trabalhadores e estudantes nas filas e terminais da cidade, além dos atrasos ocasionados.

Mas essa situação não foi simplesmente aceita como um inconveniente por aqueles que dependem do transporte para trabalhar e estudar. Relatos de pessoas barrando ou apedrejando as janelas dos ônibus que não paravam começaram a se espalhar pelas redes sociais. Há relatos, como no caso do bairro Morro do Meio, em que simplesmente pararam de circular ônibus por horas e, quando passava algum, não parava por estar com a capacidade máxima permitida. Logo os próprios moradores começaram a barrar esses ônibus exigindo que se permitisse mais pessoas.

A indignação em relação ao próprio decreto também tomou conta das discussões. Desde comentários irônicos “parabenizando” o governados Carlos Moisés (PSL) até alguns que foram direto ao problema em questão: “É fácil emitir decretos enquanto não vive a realidade de quem realmente precisa”, comentou um trabalhador. Na mesma postagem, um jovem escreveu: “Pensa no ódio desse decreto! Não ajuda em nada se não tiver mais ônibus”.

E o que explica essa situação? Desde que se iniciou a pandemia, os trabalhadores estão sob enorme pressão pelo fato de serem obrigados a se arriscar diariamente porque a burguesia decidiu que não fechará os serviços e indústrias não essenciais. Agora, o governo e as empresas de transporte criam um obstáculo para que essas pessoas cheguem aos seus locais de trabalho, criando aglomerações e aumentando ainda mais o risco de contaminação.

Um decreto para inglês ver

No Brasil, já são 250 mil mortos por Covid-19. Santa Catarina tem 7 mil vítimas da doença, mas só em Joinville são 700 mortos até o momento, isto é, 10% dos casos do estado. Como explicamos em outro artigo, no dia 19 de fevereiro, 15 das 16 regiões do estado apresentaram a matriz de risco potencial gravíssimo. O decreto do governo foi uma tentativa de apresentar uma resposta à indignação generalizada após divulgação dos dados.

Entre as medias apresentadas estão: a autorização para funcionamento de bares e restaurantes entre 6h e 23h59 com lotação máxima de 25% para bares e 30% para restaurantes; cinemas, parques temáticos, circos, teatros, museus e igrejas podem ter lotação máxima de 25%; eventos sociais, congressos, palestras, feiras e exposições só podem funcionar entre 6h e 23h59 e com limite de ocupação de 25% dos espaços.

Como podemos observar, chamar essas medidas de insuficientes pode ser considerado um elogio. O fato é que as medidas tomadas pelo governo do estado apenas mascaram o problema real: a burguesia não quer sacrificar seus lucros, nem que para isso morram milhares. Por que não fecharam as indústrias e comércios não essenciais? Por que as empresas de transporte não contratam mais e aumentam a frota? Por que retomam as aulas presenciais e não investem em recursos para a garantia do ensino remoto durante a pandemia? São essas questões que nos levam a compreender a raiz do problema.

O decreto se torna ainda mais hipócrita quando consideramos a retomada do ensino presencial nas escolas do estado e do município. Não há, por exemplo, distribuição de máscaras para os estudantes ou Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) para os professores. As cantinas nas escolas funcionam normalmente e são inúmeros os relatos de estudantes, que simplesmente por serem crianças e não entenderem a gravidade da situação, não respeitam as regras de distanciamento social.

O papel das direções e a organização dos trabalhadores

Obviamente, quebrar o terminal ou ônibus em nada resolve a situação, mas antes de tudo é preciso compreender o que foi a causa dessa reação: a indignação diante das medidas contraditórias e insuficientes para conter a contaminação. O que devemos compreender é que os trabalhadores arriscam suas vidas diariamente para garantir a própria sobrevivência e a de seus filhos enquanto a burguesia simplesmente não arrisca perder um centavo de seus lucros.

O prefeito de Joinville, Adriano Silva (Novo), é um defensor ávido da privatização e do capitalismo por sua “eficiência”. Bom, o que talvez ele não consiga explicar agora é como as empresas privadas de transporte coletivo não conseguiram impedir essa situação na cidade. Mas nós podemos: o problema é justamente o regime que Adriano e o Novo defendem, o capitalismo. Trata-se de uma questão mundial, de um sistema moribundo, em crise e que é incapaz de apresentar uma saída para a humanidade.

O que falta é canalizar essa ira que se expressa em explosões em ações organizadas da classe trabalhadora e da juventude contra a burguesia e seus representantes (prefeitos, governadores, presidente etc.), por medidas que realmente protejam os trabalhadores do risco da contaminação até que se tenha vacina para todos.

Se existe em Joinville um sindicato de luta, ele deve organizar imediatamente a paralisação nos locais de trabalho, seja na saúde, na educação, no transporte ou em qualquer outra categoria. Uma greve em uma categoria ou mais poderia rapidamente se espalhar por toda a cidade e criar um movimento capaz de enfrentar os patrões e proteger realmente a vida dos que trabalham. Está na hora dos trabalhadores se organizarem e tomarem em suas mãos os rumos da sociedade.