Novo acordo entre as FARC e o governo colombiano. O que significa?

Para entender o acordo, além de levar em consideração a vontade da classe dominante, deve ser observado o total fracasso da tática de guerrilha rural empregada pelas FARC.

Representantes do governo colombiano e das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, mais conhecidas como as FARC, assinaram a segunda versão do acordo que foi rejeitado em um plesbicito popular no mês passado. O presidente Juan Manuel Santos assegurou que a nova versão atende a todas as exigências da oposição que votou por rejeitar a primeira proposta de paz.

Mas a quais “exigências” este senhor se refere? E qual é a oposição que Santos quis agradar? Certamente, não se trata dos líderes sindicais, partidos de esquerda e movimentos sociais que, desde o início, eram contra um tratado que anistiava membros das forças armadas e paramilitares de direita que são responsáveis por mais de 100 mil mortes durante o conflito. Não é a toa que a abstenção chegou a 63% dos eleitores, e o acordo tenha sido derrotado em todas as grandes cidades do país, exceto Bogotá.

A ampla rejeição popular ao perdão aos assassinos da direita manifesta-se também na decisão do governo de não levar o acordo ao voto popular, a fim de evitar mais uma derrota nas urnas. A cerimônia de assinatura se deu no congresso nacional, em uma festa bastante discreta se comparada ao estardalhaço feito no mês passado, quando até o secretário geral da ONU, Ban Ki-Moon, marcou presença.

A única oposição com que Santos esta preocupado é composta pelo ex-presidente Álvaro Uribe e seus aliados, que também rejeitaram o acordo, mas por considera-lo pouco rígido com os rebeldes. Para agradá-los, a nova versão inclui termos como a entrega de todas as posses da organização guerrilheira, sem qualquer indenização, e pena de prisão a rebeldes que tenham cometido irregularidades. Ainda assim, os aliados de Uribe já prometeram barrar mais esta tentativa de acordo, alegando que os termos continuam pouco rígidos.

Contudo, Uribe e o atual presidente do país, Juan Manuel Santos, pertencem à mesma elite. E a burguesia colombiana e o imperialismo já deixaram claro: a paz não pode esperar. A especulação quer apossar-se rapidamente das terras hoje sob o domínio das FARC, o governo quer aumentar os investimentos externos para diminuir os efeitos da crise. Nada disso será possível enquanto continuar esse conflito.

Mas além da vontade da classe dominante, deve ser levado em conta o total fracasso da tática de guerrilha rural empregada pelas FARC. Em mais de 52 anos de conflito, hoje a organização é forçada a baixar as armas sem ter alcançado a reforma agrária ou o fim da ingerência do imperialismo na Colômbia, e hoje é alvo da rejeição de parte considerável dos próprios trabalhadores. Mais uma vez, a luta armada é reprovada no teste da história.

Com o fim do conflito, a burguesia conseguirá tudo, menos a paz social. Assim como no resto do mundo, a crise econômica polariza cada vez mais a sociedade colombiana, e mesmo um acordo de paz e o desarme do que resta das forças das FARC não vão servir para aliviar toda a tensão social existente. Cabe agora aos trabalhadores colombianos se organizarem e criarem suas próprias organizações, com os métodos da classe operária. Somente eles podem dar combate à opressão do capitalismo, no campo e nas cidades.