O que há por trás do “marketing sustentável” e a demagogia nas gôndolas do mercado

Os inúmeros eventos ambientais marcantes ocorridos nos últimos anos que ameaçam o meio ambiente, incluindo a fauna e flora, têm trazido a reflexão sobre a necessidade de novas práticas sociais e um novo modo de produção. Com isso, a população ativa financeiramente vê-se na obrigação de alterar seu comportamento em relação a esse problema e buscar alternativas de mitigá-lo com suas próprias mãos, enquanto as grandes indústrias, verdadeiras responsáveis pela destruição ambiental, veem nessa obrigação uma gigantesca oportunidade de mercado e aproveitam o cenário catastrófico para oferecer falsas promessas e soluções.

Quando vemos as empresas aplicando políticas sociais de sustentabilidade, a preocupação delas, é acima de tudo, criar uma relação de fidelidade com seus consumidores, ao mesmo tempo que imprimem conceitos e disseminam a ideia de que cada um, individualmente, tem uma considerável parcela de responsabilidade na degradação ambiental que está em voga, e que, portanto, seria possível desacelerar esse processo por meio do consumo “consciente”. Ora, será que basta adotarmos novas práticas de compras de produtos e serviços para que a dissolução do meio ambiente seja, finalmente, retardada? A resposta é simples e direta: não.

O que não é exposto nas propagandas é que esse novo comportamento de consumo concebido pelas marcas não cria um novo contexto, melhor e mais agradável, aos animais ou ao meio ambiente. Apenas quem desfruta dessas novas práticas são elas, as indústrias (bilionárias), enquanto criam o sentimento de guerra ao “consumismo desordenado” ou colocam a população contra ela mesma, retirando a burguesia do escopo do problema.

Nesse sentido, colocar a culpa nos consumidores torna-se, para as marcas, favorável em muitos aspectos. Entre eles, uma grande oportunidade de mercado, que se liga às promessas de ações “sustentáveis” como uma estratégia de marketing (nem um pouco inovadora). Sua verdadeira intenção é de conduzir o consumidor a criar uma identificação positiva com relação à marca, ao mesmo tempo que proporciona satisfação e manifesta valor humano, já que assim ela demonstra se importar com as mudanças voltadas à comunidade e ao meio ambiente.

O Instituto Ethos realizou uma pesquisa que revelou que 50% dos consumidores brasileiros preferem apoiar empresas que possuam políticas sociais aplicadas e, por consequência, reprovar, a partir da prática de consumo, aquelas cuja participação social é ineficiente. A mesma pesquisa ainda indicou que mais de 20% dos consumidores totais são adeptos à responsabilidade social na hora da compra de produtos e serviços, priorizando marcas que adotam ações supostamente sustentáveis e de bem-estar social.

Contudo, esse hábito de consumo “sustentável” ou crueltyfree/vegan não atinge ainda a massa da população, mas sim aqueles cujo poder aquisitivo permite escolher a dedo o que comprar, de acordo com o bem-estar que acreditam estar concedendo aos animais quando da aquisição de um produto, além da “compra” da própria “consciência limpa”, já que este indivíduo deixaria de ser conivente com a tortura animal e prejuízos ambientais. Fato é que se não há demanda, não há escala de fabricação, diminuindo o volume de produtos, aumentando os custos de produção e, consequentemente, elevando o preço do produto final.

Além disso, é preciso ter em mente que, sob essa “perspectiva consciente” propagada pelas marcas, a compra de um produto transmitiria o sentido de conquista de um estilo de vida, que muitas vezes não é refletida pelo próprio consumidor, mas que é impregnada pela imprensa burguesa ao induzir a culpa e a obrigação de atuação individual perante os problemas ambientais, o que explicaria, por exemplo, o porquê dos consumidores adeptos a essa tendência optarem por pagar até 35% a mais no valor inicial de um produto na gôndola do mercado (Fonte: IBM).

À medida que o marketing digital se desenvolve, muitas companhias, no intuito de aumentar seus números e encantar seus clientes, buscam maneiras de implementar “ações cidadãs”. Essas ações aproximam os usuários e criam uma conexão entre a marca e os seus consumidores, elevando também sua popularização, já que gera maior engajamento dos usuários.

Posto esse problema, devemos então ignorar a tortura animal que ocorre nos laboratórios das grandes indústrias e comprar produtos sem levar em conta a sua forma de produção? Obviamente que não, mas pensar que mudaremos o rumo do planeta com a compra de produtos que se dizem “livres de crueldade animal” é, no mínimo, ingenuidade.

Esse perfil de venda a partir da estratégia de marketing social não passa de uma ação empresarial com o objetivo de transmitir maturidade e modernidade a uma determinada marca. Nesse sentido, a experiência de compra se volta não só ao objeto ou serviço adquirido, mas também a todo o caminho trilhado até a sua efetiva aquisição, ou seja, à experiência de compra como um todo.

Enquanto as grandes marcas de cosméticos entre outros produtos imprimem essa ideia fantasiosa nas mentes de seus consumidores, nenhum dos líderes imperialistas parecem estar comprometidos com a preservação ambiental e do planeta. Suas forças estão direcionadas a defender o capitalismo, a propriedade privada dos grandes meios de produção, além de dificultar qualquer tipo de implementação de novas tecnologias capazes de introduzir novas fórmulas para desenvolvimento de produtos realmente sustentáveis e que satisfaçam as necessidades humanas.

Ao invés disso, esses líderes, em união às grandes companhias, preocupam-se com escalonar seus lucros no menor tempo e da maneira mais barata possível, desconsiderando friamente os riscos ao meio ambiente.

Nessa linha vemos que, embora ações individuais sejam tratadas pelas diversas mídias como fundamentais para a redução dos prejuízos à natureza, sabemos que elas são insuficientes e de baixo impacto sustentável, já que conduzem o consumidor à uma necessidade de compra seletiva,  desenvolvendo nele a falsa impressão de ser o agente transformador do planeta, enquanto seu maior objetivo é, na prática, tirar a atenção dos que realmente são responsáveis pela degeneração ambiental do planeta: o sistema capitalista.