No próximo dia 23 de Novembro fará 1 ano desde que a catástrofe das cheias atingiu mais de 100 mil pessoas em Santa Catarina, principalmente moradores do Vale do Itajaí e Norte do Estado. Pouco ou nada foi feito para evitar que novas tragédias aconteçam.
“Socorro! Aí vem chuva!”
São essas as palavras que primeiro vêm à mente das pessoas atingidas pelas enchentes de Novembro de 2008, assim que vislumbram a possibilidade de novas chuvas no horizonte. Muitos ainda hoje se encontram nas chamadas áreas de risco que, apesar de interditadas pelas autoridades por representarem riscos às vidas dessas famílias, por falta de alternativa, voltaram para suas casas. O pavor toma conta dessas pessoas, a ponto de alguns tomarem remédios controlados para suportar a agonia de ver aproximarem-se as chuvas.
As chuvas de Setembro deste ano voltaram a aterrorizar essas famílias, atingindo suas casas – muitas delas pela segunda vez. Em Joinville, Blumenau, Jaraguá do Sul, Itajaí e Ilhota, novamente as chuvas fizeram suas vítimas.
Meses de agonia e governos inapetentes
De Novembro passado a Setembro deste ano o poder público nada fez para solucionar o problema dessas famílias. Destinou recursos públicos para obras de infra-estrutura, como o conserto de estradas e ruas nos centros das cidades. Milhões de reais foram usados para esse fim, favorecendo as empreiteiras com as horas-máquina. No entanto, para acabar de vez com o sofrimento dos que ficaram sem moradia, nenhum recurso público foi destinado. Se foi, foi tão pouco que mal se noticia.
Em Itapoá, segundo o Vereador Nilson Vieira (PT), o município recebeu milhares de horas-máquina para obras reparadoras da cheias. No entanto, a Prefeitura tem avidez de recurso para obras de prevenção e contenção, bem como para construir moradias aos desabrigados. O mesmo ocorre com outros municípios da região. Recursos para as horas-máquina chegam com facilidade, porém os desalojados ficam reféns da vontade do poder público e da burocracia sem limites, sempre utilizada contra os trabalhadores.
O governo do estado de Santa Catarina alardeou uma Parceria Pública Privada (PPP) com o Instituto Ressoar, da Rede Record, ligado à Igreja Universal. A PPP só serviu para dar audiência e livrar o Governador Luiz Henrique (PMDB) de maior pressão da população.
A COHAB (Companhia de Habitação Estadual) divulgou diversos projetos de moradias para os atingidos, entretanto ficaram só no papel. Em Itajaí, segundo Vilson, mobilizador do Projeto SOS Comunidade pelo Centro de Direitos Humanos, a PPP com o Instituto Ressoar entregou somente 5 casas de maneira suspeita. As famílias não eram conhecidas e eram todas fiéis da Igreja Universal.
Ações paliativas
As prefeituras dos municípios atingidos tiveram que abrigar os desalojados durante a tragédia. Passadas as chuvas, foram destinados recursos para aluguel de moradias, tanto para os atingidos quanto para os que tiveram suas casas interditadas, posteriormente, pela Defesa Civil. As ações deveriam acontecer até que os moradores voltassem às suas residências, porém, pela falta de políticas públicas eficientes, eles vivem ainda no desespero.
Em Dezembro terminará o auxílio aluguel. Muitos deles não conseguiram esse auxílio e para outros os valores pagos não cobrem o aluguel de uma casa no bairro onde moram. Os preços dos aluguéis tiveram alta desproporcional devido à procura e, para não ficarem na rua, os atingidos se conformaram em viver no perigo.
Verba do Governo Federal financia abrigos desumanos em Blumenau
O prefeito de Blumenau, João Paulo Kleinübing (DEM), abriu mão dos aluguéis e optou por colocar os desabrigados em locais alugados para esse fim. Atualmente, cerca de 370 famílias vivem nesses locais. O que não se esperava era que esses abrigos, ditos temporários, se tornariam verdadeiros “campos de concentração” no melhor estilo nazista.
“… Os moradores são marcados com pulseiras, não podem receber visitas. Os banheiros são containers e fora dos abrigos ninguém pode falar mal da situação, senão é perseguido, podendo até perder o emprego. Brigas, estupros, roubos… nem os presidiários morariam aqui. (…) Ontem, um dos containers – são 6, mas só 2 funcionam – pegou fogo e por pouco não matou três crianças. Sendo uma delas minha filha. Em pleno século 21 somos tratados como animais.” (Depoimento de João, morador de um desses abrigos).
Na entrada dos abrigos há uma placa avisando que aquele local é mantido com verbas do Governo Federal. Leonilso, mobilizador do Projeto SOS Comunidade, desabafa: “como petista é duro ver o nosso governo participar desses absurdos, deixando trabalhadores que perderam tudo em situação de humilhação. Isso aqui é a barbárie”.
Organização popular
Muitos dos trabalhadores atingidos e desalojados de suas moradias não aceitaram a imposição do Prefeito. Fundaram então o MAD (Movimento dos Atingidos por Desastres). No início, 100 famílias aderiram ao movimento.
Num primeiro ato, se deslocaram em passeata para a prefeitura e cobraram do Prefeito uma ação mais digna. Durante quatro dias ficaram acampadas na marquise do órgão, o alcaide não os atendeu. Sem resposta do poder público e sob pressão da burguesia da cidade, inclusive dos seus patrões, muitos desistiram e aceitaram a situação. Entretanto, 24 famílias, com o apoio dos movimentos sociais, indignadas com esta situação resolveram ocupar um terreno público e ali construíram suas casinhas e se instalaram até que a prefeitura lhes dê suas moradias.
Os poderosos da cidade não os deixaram em paz e exigiram por vias judiciais que eles saíssem do local. Embora o Poder Judiciário local desse a reintegração de posse, os moradores resistiram e continuam lá, abrigados em condições mais humanas, unidos e organizados. Garantem que só sairão de lá quando a prefeitura lhes der um lugar digno para morar. Segundo Pradalino, membro do MAD, “… temos consciência dos nossos direitos e da luta que enfrentaremos contra os poderosos desta cidade, porém estamos dispostos a lutar para conseguir a vitória, somos trabalhadores e sabemos que esta é uma luta entre classes…”.
O lucro acima de tudo
No Morro do Baú, em Ilhota, a região mais atingida por desmoronamento, onde ocorreram 37 mortes e centenas de famílias foram atingidas pelas tragédias, há de uma série de madeireiras que pouco sofreram com as cheias e continuam funcionando, explorando os reflorestamentos de pinos e eucaliptos na região. Quinze minutos antes dos desmoronamentos dos morros, em 2008, houve uma grande explosão aos arredores. Logo depois, começou tudo a desmoronar. Mais tarde constatou-se que a explosão tinha vindo do gasoduto que passava pelo morro. Todas as atenções foram desviadas e as conclusões das perícias nunca vieram a público. Mas, os moradores da região afirmam que foi esse o grande estopim dos desastres, aliado ao desmatamento feito pelas madeiras da região. Técnicos da iniciativa privada, pagos pelos interessados (governo e empresários), vieram a público dizer que a tragédia era culpa do solo instável e da natureza.
Em Joinville, na região do Morro do Meio, Willy Tilpp e Nova Brasília, 170 famílias estão com suas casas interditadas. Elas foram proibidas de permanecerem nelas por correrem risco de vida. Marcelo, um dos desabrigados, relata:
“… minha casa foi destruída por completo. Vivo do auxílio aluguel. Meus vizinhos não tiveram a mesma ‘sorte’ e vivem nas suas moradias interditadas, correndo risco de vida. E o prefeito Carlito Merrs (PT) nada faz para solucionar o nosso problema. Mas, as imobiliárias e os loteadores nos fazem insistentes propostas para que devolvamos as casas, sem nada a receber. Próximo tem um terreno na área interditada, porém a imobiliária colocou à venda. Quer dizer: nós não podemos mais construir aqui, mas as imobiliárias podem vender e enganar outros trabalhadores. É o lucro acima de tudo”.
A única saída é o socialismo!
Segundo declaração das autoridades, a culpa de toda essa tragédia é da natureza. Representantes da burguesia fazem questão de colocar a culpa na natureza, pois assim se desvia as atenções sobre o verdadeiro motivo causador dessas e de outras tragédias acometidas à humanidade: o capitalismo e sua busca incessante pelo lucro acima de tudo e de todos.
Adilson Mariano, Vereador do PT de Joinville, disse aos desalojados em audiência na Câmara de Vereadores, após muitos desses relatarem em comoção suas tragédias vividas por causa do descaso dos governos:
“Infelizmente, não existe saída para vocês, nem para nenhum trabalhador nesse país e no mundo, enquanto vivermos sob o sistema capitalista. A única saída é a organização e luta para pôr fim a este sistema e caminharmos para o socialismo”.
Mariano foi preciso. Outras chuvas e tragédias como as de Novembro passado vão acontecer novamente e os trabalhadores sofrerão tudo mais uma, duas, três vezes… e os governos que defendem os interesses da burguesia e de seu sistema, o capitalismo, de novo colocarão a culpa na natureza e os trabalhadores ficarão à míngua, à beira da barbárie.
Enquanto isso, o Governo Lula, pautado pelo governo de coalizão com a burguesia, entrega bilhões de dólares para salvar os capitalistas e não dá nenhum centavo para resolver os problemas dos trabalhadores atingidos pelas cheias. Pelo contrário, ajuda a manter os “abrigos” em Blumenau, assim os trabalhadores são os que acabam pagando a conta da crise resultante da exploração do homem pelo próprio homem. É preciso que o Governo Lula rompa as alianças com os partidos da burguesia, como o PMDB de Luiz Henrique, e atenda as reivindicações da população trabalhadora! Essa atitude poderia abrir o caminho para construir o socialismo!