Trabalhadores de tecnologia lutam contra os patrões

As grandes empresas de tecnologia, as Big Tech, estiveram nos holofotes durante a pandemia enquanto os patrões bilionários ficavam mais ricos e os trabalhadores explorados ainda mais duramente. Mas, agora, os trabalhadores do setor da tecnologia – nos EUA e no Reino Unido – estão começando a se organizar, a se sindicalizar e a reagir.

A pandemia da Covid-19 deixa muitos legados. Mas um dos mais notáveis foi o rápido crescimento do mundo online, e da indústria de tecnologia em particular. À medida que as vidas das pessoas mudavam online – das compras pela Internet ao trabalho doméstico – os lucros da Big Tech aumentavam.

O fundador da Amazon, Jeff Bezos, acrescentou mais de US$ 72 bilhões à sua fortuna pessoal desde o início da pandemia. Por outro lado, o CEO da Tesla, Elon Musk, recentemente se tornou a pessoa mais rica do mundo (e também um objeto de memes), com sua fortuna pessoal subindo para US$ 185 bilhões. Mais uma vez, vemos como o capitalismo lucra com a miséria humana.

Organizando-se

É claro que esses lucros foram obtidos às custas dos trabalhadores: sejam eles funcionários de colarinho branco forçados a trabalhar horas cada vez mais longas; sejam a equipe do depósito e os motoristas de entrega suando para cumprir metas sem controle.

Alguns comentaristas tentaram retratar isso como uma “nova era” do capitalismo. Na verdade, essas são as mesmas práticas de exploração que foram vistas ao longo da história do capitalismo.

Por sua vez, os trabalhadores de tecnologia de hoje estão procurando métodos testados e comprovados para se defenderem dos ataques dos patrões – ou seja, organização e sindicalização.

No ano passado, os trabalhadores do Google formaram o primeiro sindicato interno da empresa, chamado Alphabet Workers Union (AWU). No início deste mês, a AWU lançou uma acusação contra a empresa, depois que um trabalhador foi demitido por protestar sobre as condições de tabalho.

Esforços semelhantes estão em andamento para sindicalizar a vasta força de trabalho em um armazém da Amazon. Os funcionários do “centro de distribuição” BHM1, no Alabama, estão atualmente lutando para criar o primeiro sindicato em um depósito da Amazon.

Como era de se esperar, os chefes da Amazon estão lutando com unhas e dentes contra isso. No processo, eles estão implantando táticas clássicas de combate aos sindicatos, como o envio de mensagens ameaçadoras aos trabalhadores.

Mitos e realidade

Este movimento também encontrou base na Grã-Bretanha, com o primeiro sindicato de trabalhadores de tecnologia do país – o United Tech and Allied Workers (UTAW) – lançado no final de 2020.

O UTAW é oficialmente filiado como um braço do CWU – o Sindicato dos Trabalhadores em Comunicação, que também representa os trabalhadores do setor de correios e telecomunicações.

A nova organização sindical visa lutar pelos trabalhadores e representar os seus interesses na indústria de tecnologia. Trabalhadores do Google, Microsoft, ASOS, Monzo e Deliveroo já se juntaram à filial. Isso acompanha movimentos semelhantes para sindicalizar trabalhadores na indústria de videogames.

John Chadfield, um dos membros fundadores da UTAW, disse à Wired Magazine que “a necessidade de organização sindical é tão aguda no setor de tecnologia quanto em qualquer outro lugar”.

Por trás do mito das redes de escritório e das máquinas de digitar está uma indústria onde implacavelmente se trabalha demais e se paga muito mal aos funcionários, contratando e demitindo à vontade para atender aos caprichos de investidores corporativos anônimos.

Unir-se e lutar

De minhas próprias experiências, tenho visto padrões semelhantes em várias empresas de tecnologia.

Um fundador aparentemente “benevolente” lança uma novidade com uma “perspectiva” de transformar [inserir a indústria aqui] e “mudar o mundo”. Os trabalhadores são pressionados cada vez mais para cumprir metas ridículas.

O fundador então lucra, vendendo tudo para um fundo de hedge sem rosto ou empresa de investimento. O negócio é, então, “simplificado” – ou seja, os trabalhadores são demitidos. E o restante da equipe é pressionado ainda mais, até que as pessoas se cansem ou saiam.

Esse sempre será o caso no capitalismo, onde a indústria é de propriedade e controle dos patrões e acionistas, e a produção é exclusivamente para o lucro.

A única resposta a esta exploração é que os trabalhadores se unam e lutem.

Propriedade pública

No entanto, essa organização e luta no terreno devem ser apoiadas por apelos políticos para que os monopólios de tecnologia sejam tornados públicos, sob o controle dos trabalhadores, para que possam ser administrados como serviços que atendam às necessidades da sociedade.

Tal demanda nunca foi tão importante, considerando o controle que a Big Tech cada vez mais exerce sobre nossas vidas. Com o Twitter banindo Donald Trump de sua plataforma, e o Facebook igualmente reprimindo grupos “extremistas” (incluindo muitas organizações de esquerda), o poder inexplicável detido pelos gigantes da tecnologia é visível.

Na verdade, empresas como Apple e Google injetaram milhões de dólares na campanha presidencial de Joe Biden. E eles esperam ver um retorno político de seu investimento em breve.

Os patrões do Vale do Silício vão querer valorizar seu dinheiro e vão esperar que os democratas “progressistas” ignorem a regulamentação da internet e da tecnologia – e, é claro, que fiquem do lado dos bilionários contra os trabalhadores em qualquer disputa sindical.

Acumulando poder

Um primeiro vislumbre disso pode ser visto na recente batalha sobre a “Proposição 22” na Califórnia. Antes da votação do ano passado, alguns dos maiores nomes da tecnologia gastaram mais de US$ 200 milhões para persuadir os eleitores a aprovar uma medida que permitiria que empresas como Uber e Lyft evitassem pagar salário-mínimo e benefícios básicos a seus funcionários.

Enquanto isso, em Nevada, foi apresentado recentemente um projeto de lei que permitiria às empresas de tecnologia estabelecer efetivamente seus próprios governos locais separados.

Essas novas zonas industriais são projetadas para atrair as Big Tech, permitindo que as empresas “formem governos com a mesma autoridade dos condados, incluindo a capacidade de cobrar impostos, formar distritos escolares e tribunais e fornecer serviços governamentais”.

Tais desenvolvimentos são uma reminiscência do poder desfrutado pelas firmas licenciadas nos primeiros dias do capitalismo, quando monopólios, como a Companhia Holandesa das Índias Orientais, basicamente recebiam poderes estatais para governar as populações locais.

Capitalismo monopolista

Considerando o tamanho e o poder de que gozam essas empresas de gatos gordos, a sindicalização na indústria de tecnologia está no cerne da democratização e do planejamento de toda a economia segundo linhas socialistas.

Uma empresa como a Amazon já faz planos internos e internacionais em grande escala, a fim de lucrar com a venda de hardware, software, serviços da Web, produtos de varejo e praticamente tudo o mais que você possa imaginar. Sim, e livros também.

Este é um exemplo perfeito da tendência do capitalismo para o monopólio. Como Lenin argumentou em “Imperialismo, fase superior do capitalismo”: “A transformação da competição em monopólio é um dos mais importantes – senão o mais importante – fenômeno da economia capitalista moderna.

Trazer os grandes monopólios de tecnologia à propriedade pública, sob o controle democrático dos trabalhadores, permitiria que essas empresas e seus enormes recursos fossem usados para o benefício dos trabalhadores e da sociedade em geral, em vez de encher os bolsos de Bezos, Musk, Zuckerberg e cia.

O próprio Bezos comentou que “a única maneira que vejo para distribuir tantos recursos financeiros é convertendo meus ganhos na Amazon em viagens espaciais”. Estou convencido de que seus funcionários podem pensar em outras opções!

Controle dos trabalhadores

Sindicalizar-se na era da Covid-19 pode parecer um pouco diferente dos dias de outrora. O UTAW, por exemplo, usa plataformas de mensagens sociais como o Discord para organizar. Mas os princípios são fundamentalmente os mesmos.

Qualquer que seja a indústria, apenas a organização coletiva e a ação militante da classe trabalhadora podem acabar com a tirania dos patrões – expropriando seus lucros e nacionalizando a produção sob o controle democrático dos trabalhadores e sob um plano socialista racional.

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.
PUBLICADO EM SOCIALIST.NET