A crise grega: o declínio da produtividade é a chave (Parte 4)

Análise de Fred Weston sobre a crise da Grécia, a mais dramática do capitalismo europeu.

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21 de julho de 2016

A Grécia se juntou à União Europeia em 1981 e adotou o euro em 2001. Que impacto estes dois acontecimentos produziram na economia grega? Nas condições de auge geral por toda a Europa pré-2007, a Grécia também cresceu, mas isto escondeu as reais debilidades subjacentes da economia grega, particularmente sua declinante produtividade.

Desde 1980, mais ou menos o período em que a Grécia se juntou à UE, a economia grega estagnou, com o seu PIB em 1987 aproximadamente do mesmo tamanho que tinha em 1979. Nas décadas de 1960 e 1970, o PIB grego per capita em relação aos níveis do restante da UE estava se recuperando, mas em meados dos anos 1980 voltou aos níveis anteriores dos anos 1960. No mesmo período, a produtividade do trabalho também estagnou.

A perda de competitividade da economia grega continuou nas décadas de 1990 e 2000. Antes de adotar o euro em 2001, a Grécia podia periodicamente compensar sua produtividade mais baixa, e, dessa forma, sua fraca competitividade, através da desvalorização do Dracma e tornando seus produtos mais baratos nos mercados externos. A entrada no euro pôs fim a isto.

É importante entender esta questão, uma vez que a adesão ao euro fez com que as debilidades da indústria grega em particular ficassem expostas, tendo de competir com economias muito mais competitivas, como a da Alemanha. O significado disto foi que, quando a crise mundial irrompeu em 2008, a Grécia ficou muito mais exposta e sofreu muito mais do que seus parceiros da União Europeia.

Nos primeiros dez anos depois de se juntar ao euro a competitividade da economia grega caiu de forma significativa. Uma forma de se medir a competitividade é olhar para a evolução dos “Custos unitários do Trabalho”, que está em linha com o conceito Marxista do “tempo de trabalho socialmente necessário” para se produzir bens. Quanto menos tempo se toma para se produzir uma unidade de produção, menos salários são gastos nesta unidade. A rentabilidade, naturalmente, também depende dos níveis salariais. Uma combinação de redução do tempo necessário de trabalho e salários produz significativos aumentos nos lucros.

Tem havido cálculos diferentes para se calcular a perda de produtividade da economia grega e estes variam muito. De acordo com os indicadores do Banco da Grécia, a economia grega entre 2000 e 2009 sofreu uma queda de 27% em sua competitividade, enquanto o FMI calcula que ela foi de 9%. Se nos fixarmos nas cifras da OCDE, Eurostat, Banco Central Europeu, Banco da Grécia e FMI, obtemos a cifra de 19%. Esta é uma estatística significativa para se compreender o que aconteceu à Grécia nos últimos quinze anos.

Se nos fixarmos em Eurostat e em outras fontes para os “Custos nominais unitários do Trabalho” na Grécia, quando comparados aos 35 principais parceiros comerciais da Grécia, vemos que entre 2000 e 2009 houve um aumento de 20% – mais ou menos em linha com sua perda na competitividade. Isto explica os problemas da economia grega em termos de sua capacidade de exportar para a UE.

Os custos unitários do trabalho na Grécia aumentaram significativamente no setor agrícola, tornando-o extremamente não competitivo, e isto também explica os sérios problemas enfrentados pelos agricultores gregos, que no início deste ano lançaram um movimento de caráter insurrecional que invadiu Atenas com tratores e outras máquinas agrícolas. Na indústria, os custos unitários do trabalho aumentaram menos, mas ainda subiram pelo menos uns 10%. Nestas condições, no mesmo período (2000-2009), os preços dos bens agrícolas e industriais gregos subiram em 30% quando comparados aos principais parceiros comerciais da Grécia.

Compare-se isto à posição da Alemanha. No período 1997-2010, os salários reais na Alemanha na verdade caíram em 10%, enquanto a produtividade horária aumentou aproximadamente 8%. Isto resultou em uma redução de 25% no custo unitário do trabalho [fonte: Comissão da EU], tornando os produtos alemães altamente competitivos.

Os analistas burgueses que estudam a situação grega veem uma solução vindo da continuada depressão da economia – e do alto desemprego que a acompanha, que, por sua vez, pressiona os salários – combinada com o que é eufemisticamente descrito como “reforma do mercado de trabalho”, isto é, leis que na verdade reduzem salários, flexibiliza as condições de trabalho, tornando mais fácil demitir trabalhadores e assim por diante. Assim, o que é um pesadelo para os trabalhadores gregos é visto como uma “solução” para os capitalistas.

Como vimos, no passado, em condições similares, o governo grego poderia ter desvalorizado o Dracma, o que diminui o preço das exportações gregas no mercado mundial. Mas como não podem desvalorizar externamente, agora toda a conversa é sobre uma “desvalorização interna”.

O que é uma “desvalorização interna”? Sua definição é: recuperar a competitividade através da redução dos custos salariais e aumentando a produtividade, sem mudar a taxa de câmbio. Para se aumentar a produtividade se requer investimentos por parte dos capitalistas. Em um mercado inativo, os capitalistas tendem a reduzir os investimentos ou não investem em absoluto. Isto significa que tudo tem que ser logrado cortando os custos do trabalho por meio de cortes salariais.

O tipo de desvalorização interna necessária para trazer a Grécia de volta aos níveis de competitividade que tinha antes de se juntar ao euro é da ordem de 30%. Em linguagem clara isto significa um corte geral nos salários reais de 30%, e isto somente para se voltar ao nível pré-2001. No ambiente econômico atual, onde todos os países capitalistas estão tentando realizar desvalorizações internas, o corte nos salários teria que ser muito maior.

Os cortes salariais na Grécia são reais e estão produzindo o efeito de empurrar a economia ainda mais na depressão. Em um de meus artigos anteriores, vimos as acentuadas quedas nas vendas dos supermercados, com uma queda em todos os setores. Quanto mais eles cortam os salários, mais o mercado interno cai. Isto explica por que a Grécia viu uma queda de 25% em seu PIB desde 2007.

A solução que todos os economistas burgueses preveem para a Grécia é que o país “exporte sua saída da crise”. Para compensar a queda de 25% em seu PIB, a Grécia teria de aumentar massivamente suas exportações. O fato é que o mercado europeu está estagnando e em alguns países está se contraindo. Há uma corrida para o fundo para se ver quem pode cortar mais os custos do trabalho. Todos querem cortar os custos trabalhistas e aumentar as exportações. O problema é que, quando todos estão fazendo isto, todo o mercado europeu e mundial se contrai. E, em um mercado em contração, é o mais competitivo que sobrevive. Isto significa que a Alemanha continua a empurrar os seus “parceiros” para fora do mercado. Além de tudo isto, há a pressão adicional de produtores como a China.

Nestas condições, o estado grego não vai encontrar possibilidades de reduzir o peso de sua dívida. Enquanto sua economia se contrai e as receitas caem, sua dívida continua a inchar. Este é um beco sem saída e significa que a moratória é uma possibilidade concreta que ocorrerá em algum momento.

É isto o que explica a intensa luta de classes que estamos vendo na Grécia neste período, com cerca de 40 greves gerais e muitos protestos de massas. Refletem as tentativas da classe trabalhadora de se defender destes ataques. E pode haver períodos de desilusão enquanto suas lutas não produzirem nenhum resultado concreto, mas inevitavelmente, na medida em que continua a pressão, a luta de classes rejuvenescerá. No processo, os trabalhadores e a juventude aprenderão que não há nenhuma solução para este pesadelo sobre bases capitalistas.

Artigo publicado originalmente em 21 de julho de 2016, no site da Corrente Marxista Internacional (CMI), sob o título “Greece in crisis – Part Four: Declining productivity is the key.

Tradução de Fabiano Leite.