A economia britânica está como zumbi: o capitalismo caminha como um Morto-Vivo

A crise se avoluma e se aprofunda na Europa, a economia britânica está colapsando. Rob Sewell analisando a situação da crise britânica vaticina que “o capitalismo zumbi é resultado de sua existência prolongada. O sistema atingiu seu limite, e as contradições só se acrescentam às contradições. Só pode oferecer pesadelos à classe trabalhadora. A única saída é extingui-lo”. 

Longe de significar uma nova promessa para a economia britânica, a previsão de 1% de crescimento anunciada há um mês já foi desmentida por uma enxurrada de más notícias. Poucos economistas olham para 2013 com alguma esperança. O editor do Socialist Appeal, Rob Sewell, explica por que.

A revista The Economist assinalou a França como o “doente da Europa”. Contudo, o capitalismo britânico, outro inválido da crise, está na UTI e agora as coisas estão indo de mal a pior.  

A economia britânica está sendo atingida por uma praga de “zumbis” – empresas, imóveis e bancos – que não estão vivos nem mortos, segundo o Banco da Inglaterra.

“Mais e mais empresas estão sendo contaminadas por essa doença” diz Lee Manning, presidente da R3 (Associação de Profissionais de Recuperação de Negócios). “É sintomático de uma economia estagnada, com baixas taxas de juros, de liquidação e muitos negócios funcionando no prejuízo.”

“Empresas zumbi não podem investir nem inovar, apenas ficam paradas definhando, perdendo clientes e empregados enquanto afundam a economia”, acrescenta Mubashir Mukadam, chefe da sessão de assuntos europeus da KKR Asset Management.

Interesse

Esse cenário de negócios “mortos vivos” é uma amostra do que virá a seguir. Economistas acreditam que uma taxa de juros extremamente baixa ajudou a manter essas empresas ativas de forma artificial, evitando que as dividas caíssem a ponto de estimular recuperação. Com taxas de juros de 0,5%, bancos permitiram indivíduos e empresas endividadas a prosseguir acumulando dívidas ao invés de exigir garantia de pagamento.

Os negócios zumbi também foram acusados de frear a recuperação não existente. Três em cada dez empresas hoje funcionam na base do prejuízo: 30% a mais do que a recessão no começo dos anos 90, mas o numero de falências é bem menor. O Banco da Inglaterra estima que 16.800 empresas fecharão esse ano, contra 25.000 nos anos 90. O baixo índice de reapropriação de hipotecas e falências corporativas preocupa os economistas. Eles temem que a produtividade – o rendimento de cada trabalhador – tenha estagnado e que isso comprometa os lucros. Em outras palavras, a hecatombe não foi forte o suficiente, pois não destruiu forças produtivas em quantidade suficiente para superar a superprodução. De acordo com o Financial Times “pessoas de dentro do mercado temem que a recessão não gerou destruição suficiente para recolocar a economia nos trilhos do crescimento”.  (FT, 14 Novembro).

Culpa

Que condenação do capitalismo! A razão de não haver recuperação da economia é apresentada como sendo o fracasso da crise de provocar uma destruição de fábricas indesejáveis (zumbis) e provocar uma situação de desemprego ainda maior. Essa é a loucura do capitalismo. Para tornar os negócios mais lucrativos eles precisam eliminar os setores menos lucrativos da economia.

O “fracasso” em destruir setores da economia que não rendessem tanto significa que a Grã Bretanha está seguindo o mesmo caminho do Japão pós-bolha nos anos 90: a estagnação. Eles temem que em cinco anos irão acordar desse pesadelo e se deparar com crescimento fraco, dividas astronômicas e problemas econômicos colossais.

O fato de que o capitalismo necessita, periodicamente, purgar a si mesmo em um processo chamado, bizarramente, de “destruição criativa”, que significa fechar fábricas e jogar milhões no desemprego, demonstra como este sistema já ultrapassou, há muito tempo, os seus próprios limites. Nem um pacote de medidas de socorro é suficiente para esconder esse fato.

Recessão

A economia britânica cresceu 1% durante o verão, mas isso ocorreu graças às olimpíadas, uma exceção no panorama econômico britânico. Esse crescimento retirou o país temporariamente da crise, mas as previsões indicam que a mesma voltará com toda a força a partir do quarto trimestre deste ano.

O Banco da Inglaterra saiu-se, recentemente, com a declaração mais triste e sincera que já deu até o momento. Mervyn King, o diretor, afirmou que a economia esta prestes a entrar em um “período de crescimento baixo”. A economia não deverá atingir o nível pré-crise até 2015 e os bancos não estão emprestando por causa das dividas acumuladas e seus créditos estão presos em companhias improdutivas.

“Nós enfrentamos a combinação desagradável de recuperação, com a inflação permanecendo muito acima do esperado”, disse King. Na verdade, a inflação esteve acima da média de 2% em 69 dos últimos 78 meses. King ainda acrescentou: “o crescimento deve ficar abaixo de sua média histórica até onde se pode prever”.

Ele continuou e disse que a recuperação da economia para seus níveis anteriores só se dará em uma perspectiva de DÉCADAS. (ênfase nossa)

Tão sóbria estimativa do mercado deverá ser desmentida em breve, assim como foram todas as anteriores. Antes, as expectativas eram de ampla recuperação, que hoje, sequer são consideradas como uma hipótese séria, devido ao desempenho econômico recente. “Eventualmente mais perdas terão que vir para que a economia volte a crescer”, disse o insuspeito Financial Times. “Isso significa conduzir o sistema a uma nova onda de perdas e destruição”. (FT, 15 de Novembro)

Lógica

Isso é tudo que têm a oferecer. Funcionários do Banco da Inglaterra já admitiram que a perspectiva de desemprego massivo, falências e desemprego em alta não é muito atraente. Mas por pior que seja, o que mais podem fazer? Essa é a lógica do capitalismo em seu estado decrépito.

As coisas não estão melhorando como o esperado. Pesquisas apontam piores condições de negócios, com a inflação subindo de 2,2% para 2,7% em Outubro. Não há a possibilidade de exportar como alternativa, uma vez que os mercados estão encolhendo na Europa e no resto do mundo. A libra subiu 8% em valor no ano passado, tornando as exportações ainda menos competitivas do que no passado.

Os gastos em compras também sofreu forte queda, levando as vendas ao seu nível mais baixo desde Maio. As vendas caíram 0,6% entre Setembro e Outubro em supermercados e outras lojas de comida, e mais 2,3% em lojas de roupas e calçados. Os shoppings também sofreram, com as vendas caindo 0,7%. Enquanto que as vendas na internet seguem crescendo, o ritmo é muito menor.

Charlie Bean, vice diretor do Banco da Inglaterra, afirmou que “é chocante constatar que as maiores quedas no consumo vieram justamente dos setores mais abastados e endividados”. Vicky Redwood, economista da Capital Economist, disse pensar que a Grã Bretanha estava em meio a uma década perdida para o consumo, que não voltará aos níveis de 2007 antes de 2016 ou 2017.

Declínio

Como o orçamento do governo está encolhendo, investimento em infraestrutura, apesar de anúncios desesperados dos ministros, também encolhe. Estatísticas recentes mostram que o investimento em infraestrutura caiu 11,3% nos últimos dois meses. “Enquanto que o governo esperava que os fundos de pensão investissem 20 bilhões de libras na próxima década, e 2 bilhões só em 2013, até agora apenas 700 milhões foram investidos”.

O capitalismo britânico não está investindo, apesar de ter reservas de mais de 700 bilhões de libras. De fato, 750 bilhões estão circulando em forma de capital líquido nos cofres das empresas e com mais nos cofres dos bancos, dá um total de um trilhão de libras. Para que investir se não há mercado? Para que investir se não há demanda? Para que ivestir se há superprodução? Ainda assim, sem investimento, não pode haver recuperação.

Todos esses dados só aprofundam a crise do capitalismo britânico. A classe dominante está desnorteada e o estado está preso em austeridade, piorando ainda mais a situação. Como um vampiro, os cortes interrompem a circulação sanguínea da economia. Mas, pegos entre o fogo e panela, não possuem qualquer solução para oferecer no próprio capitalismo.

O capitalismo zumbi é resultado de sua existência prolongada. O sistema atingiu seu limite, e as contradições só se acrescentam às contradições. Só pode oferecer pesadelos à classe trabalhadora. A única saída é extingui-lo.

Alternativa

Ao invés de tentar socorrer este decrépito sistema, o que jamais irá funcionar, os líderes trabalhistas e sindicalistas deveriam oferecer uma alternativa concreta. A única alternativa para a desmoralizada economia de mercado é uma economia socialista planejada, que não seja dirigida para o lucro de uns poucos ricaços, e sim controlada e possuída de forma democrática pelo conjunto dos trabalhadores, baseada nas necessidades reais da sociedade. Isso significa tomar das mãos dos capitalistas todos os bancos e seguradoras e colocá-los sob controle direto e democrático dos trabalhadores. Só assim podemos garantir salário e emprego decente para todos, além de tetos decentes sob todas as cabeças e um futuro decente para todas as crianças.