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Aposentados, trabalhadores e torcedores se mobilizam em massa apesar da repressão – Que governem os trabalhadores!

A Organização Comunista Militante, seção argentina da Internacional Comunista Revolucionária (ICR), repudia e condena a feroz e covarde repressão desencadeada pela Polícia Federal, pela Gendarmeria, pela Prefeitura e pela Polícia da Cidade de Buenos Aires contra a marcha de 12 de março, composta por aposentados e torcedores de futebol.

As marchas semanais dos aposentados, os mais atingidos pela motosserra de Milei, têm sido um exemplo de determinação e estão se tornando uma referência no movimento contra o ajuste, em claro contraste com a colaboração e negociação das direções burocráticas, sindicais e políticas vinculadas ao peronismo. Os aposentados têm se reunido todas as semanas para protestar contra a retirada de medicamentos essenciais da cobertura do PAMI1 e contra a redução das aposentadorias a níveis de indigência para aqueles que recebem o mínimo ou um pouco mais. Continuaram protestando todas as quartas-feiras, apesar da repressão brutal que sofreram nos últimos meses e, em particular, nas duas semanas anteriores, quando a polícia os atacou com gás lacrimogêneo e os espancou em uma tentativa de sufocar o movimento.

Na marcha da quarta-feira, 5 de março, os aposentados foram acompanhados por torcedores do Chacarita Juniors, que se somaram ao protesto após verem um simpatizante do clube, de 75 anos, sofrer a repressão policial na semana anterior. Torcedores de diferentes clubes de Buenos Aires e de todo o país se comprometeram a apoiar as marchas do dia 12 após presenciarem a violência policial contra os torcedores do Chacarita.

Os torcedores que se somaram à luta contra os ataques aos aposentados e contra a austeridade promovida por Milei são simpatizantes de base de seus clubes, trabalhadores guiados por um instinto de classe e solidariedade com os aposentados, vivendo no espírito das famosas palavras de Diego Maradona: “Defendo os aposentados, como não os vou defender? Temos que ser muito cagões para não defender os aposentados. Até a morte estou com os aposentados”, ditas durante os ataques selvagens de Menem aos aposentados em 1992.

Uma coluna de operários da Morvillo, que estão ocupando a fábrica em defesa de seus postos de trabalho, se mobilizou da Unión Industrial Argentina até o Congresso, onde se somou à multidão para apoiar os aposentados.

O fenômeno dos trabalhadores que ingressam na luta política por meio de seus clubes de futebol revela a crise de direção nas organizações da classe trabalhadora. Há um enorme desejo, na base da classe trabalhadora, de opor uma resistência séria a Milei, cansada da austeridade e dos ataques às suas condições de vida, mas isso não encontra expressão política nos dirigentes sindicais ou nos políticos peronistas, que freiam as massas para que não entrem na luta, sustentando, dessa forma, a governabilidade do sistema por Milei. Nessas condições, as lutas surgem espontaneamente, por meio de assembleias autoconvocadas nos locais de trabalho e nos bairros ou até mesmo por meio dos clubes de futebol, já que não podem se expressar por meio das organizações tradicionais.

Como a marcha seria apoiada pelos torcedores de futebol, houve uma campanha midiática para demonizá-los como barrabravas (bárbaros), com suas conotações de delinquência e criminalidade. Além disso, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, ameaçou com repressão e prisões muito antes da marcha.

A violência de ontem contra os manifestantes foi uma manobra premeditada para tentar cortar pela raiz um movimento que está ganhando força. A violência policial começou exatamente antes de a maioria dos trabalhadores sair de seus locais de trabalho, em uma tentativa de gerar terror para que não se unissem aos milhares de aposentados, trabalhadores e torcedores de futebol que, junto a organizações políticas e estudantis, enchiam as ruas e a Praça do Congresso. Não houve truque sujo que a polícia não tenha tentado. Há relatos sobre infiltrados que atiraram pedras para provocar a repressão, além da distribuição de panfletos falsos, postados no X pelo porta-voz presidencial Manuel Adorni, em nome da FIT-U, nos quais se incentivava a desordem e a provocação à polícia. Um vídeo mostra a polícia deixando deliberadamente uma pistola no chão para que os manifestantes a pegassem, enquanto outro mostra que o carro patrulha incendiado foi abandonado com as portas abertas pela própria polícia como provocação. A polícia utilizou bastões e gás lacrimogêneo de forma indiscriminada e atirou balas de borracha nos rostos dos manifestantes para expulsá-los da Praça do Congresso. Mais de uma centena de manifestantes foram perseguidos e detidos arbitrariamente; dezenas ficaram feridos, e várias organizações foram seguidas até seus locais e intimidadas pela polícia. Em um dos incidentes mais graves, um agente policial disparou um cartucho de gás lacrimogêneo diretamente na cabeça do repórter Pablo Grillo, que agora luta por sua vida no hospital devido aos ferimentos.

Esta repressão dispersou milhares de manifestantes pelas ruas do centro de Buenos Aires, até que se reagrupassem na Plaza de Mayo, onde voltaram a ser duramente reprimidos.

Naquela noite, panelaços espontâneos explodiram na Plaza de Mayo e em toda a cidade para denunciar a violência policial na marcha anterior. Os protestos e enfrentamentos pelo controle das ruas duraram horas.

O comportamento das forças policiais transforma em farsa a “lei e a ordem” que Bullrich e Milei afirmam defender. O que isso realmente revela é o seu verdadeiro papel na sociedade: a defesa da dominação dos capitalistas, a minoria da sociedade, sobre a grande maioria dos trabalhadores e dos pobres. A resposta de pânico do governo não demonstra sua força, mas sim sua fragilidade diante de um movimento popular que não está sob o controle das burocracias sindicais ou políticas e não pode ser facilmente contido.

O movimento não deve se intimidar com esta repressão nem abaixar suas bandeiras. Pelo contrário, deve redobrar seus esforços e sua organização nas assembleias autoconvocadas, nas comissões sindicais de base e nas assembleias de bairro. É com greves, marchas, ocupações de fábricas, assembleias, comitês e coordenadorias que podemos derrotar o ajuste e a repressão.

Este protesto ocorre em um contexto de crescente mobilização contra o governo de Milei. Acontece menos de uma semana após uma marcha massiva pelo 8M, que assumiu o caráter de um protesto político contra os ataques de Milei às mulheres trabalhadoras e à classe trabalhadora em geral. Na quarta-feira, dia 19, aposentados e torcedores voltarão mais uma vez às ruas. No dia 24 de março, Dia da Memória, da Verdade e da Justiça, que costuma ser a maior mobilização do ano, a manifestação será ainda maior, com cada vez mais trabalhadores se juntando para expressar sua raiva e cansaço contra este governo.

A violência contra os manifestantes foi uma manobra premeditada para tentar interromper um movimento que está ganhando força / Imagem: mframirezs1973, X

Como comunistas, defenderemos sempre os aposentados – nossos avôs e avós, nossos pais e mães – em sua luta por condições de vida dignas na velhice. Lutaremos até o fim para construir um futuro comunista, o único capaz de garantir uma aposentadoria digna para todos, livre dos males da pobreza e do abandono que assolam a velhice no sistema capitalista. Para que essa luta tenha êxito, precisamos derrotar o governo Milei, o FMI e os capitalistas. Chega dos políticos de sempre! Nós, trabalhadores, temos que governar, pois somos os únicos verdadeiramente interessados em resolver nossos problemas.

A luta está nas ruas.

  • Abaixo a repressão!
  • Justiça para Pablo Grillo!
  • Na quarta-feira, 19 de março, às 17h, a luta continua!
  • Não ao fim da moratória das aposentadorias!
  • Por um aumento emergencial das aposentadorias!
  • Que se vayam todos!
  • Por um governo dos trabalhadores!

1 O Programa de Atenção Médica Integral (em espanhol : Programa de Atención Médica Integral, mais conhecido pela sigla PAMI ) é uma agência governamental de seguro de saúde pública na Argentina, administrada pelo Ministério da Saúde do país.