A presença da Polícia Militar (PM) na Cidade Universitária, que sedia a Universidade de São Paulo (USP), não é um debate de hoje, mas envolve um histórico que remonta o ano de 2009, quando pela primeira vez após o fim da ditadura a polícia entrou no campus para abertamente reprimir uma greve. Não parou por aí, trazer a PM para o campus era parte do projeto de privatização da universidade, então, em 2011, o Reitor João Grandino Rodas estabeleceu um convênio da USP com a PM.
Apesar do histórico de repúdio da comunidade uspiana à presença da polícia no campus, com o passar dos anos, a direção da universidade trabalhou para construir um senso comum de que a USP é um lugar perigoso, palco de assaltos e estupros. Assim, vários setores foram se tornando mais simpáticos à ideia de policiamento. A polícia, no entanto, não está na Cidade Universitária para dar segurança a seus frequentadores, mas para reprimir o movimento estudantil e sindical, proteger as fundações privadas e seus interesses, cuja presença se tornou cada vez mais intensa desde que a PM se estabeleceu na USP. O campus Butantã é o único no Brasil com uma base da polícia no seu interior.
Aliás, a PM por si só é um problema para a segurança e integridade física das pessoas, tendo em vista que ela é a responsável por diversos casos de abordagens racistas e violentos. A PM está na USP para intimidar o movimento estudantil e de trabalhadores, para reprimir com maior eficiência greves, ocupações e o próprio debate político.
Por isso é importante mostrar ao conjunto dos estudantes que a presença da PM no campus não está relacionada com a segurança da comunidade acadêmica, mas com a garantia do processo de privatização da universidade e a repressão aos movimentos políticos dentro da USP. Para mostrar que o único campus do Brasil com policiamento não necessita da polícia para a segurança da comunidade universitária, é vital a campanha “Fora PM da USP”.
No dia 18 de maio, aconteceu uma reunião convocada pela Associação dos moradores do Crusp (Amorcrusp) pelo Fora PM da USP, e nós da Liberdade e Luta estivemos presentes. Contando com a presença de mais de 20 entidades, entre elas DCE, CA’s etc., e com a presença de diversas organizações, a reunião foi um passo importante para a luta pela retirada da PM no Campus.
Houve acordo geral com a necessidade de uma campanha unificada pela retirada da PM dp campus. Formou-se um comitê, no qual integramos, para coordenar a campanha. É fundamental que esse comitê seja ativo e que impulsione atividades e materiais capazes de conscientizar e trazer os estudantes para o debate e para a luta pela retirada da PM da Cidade Universitária.
Devido à pressão para que se convoque uma assembleia geral — coisa que não acontece desde o começo de 2020 —, o DCE convocou-a para o dia 26 de maio, porém, mesmo assim decidiu não pautar da campanha pelo Fora PM. O DCE não pode se omitir dessa questão e deve incluir na pauta da assembleia. Nesse mesmo sentido, foi cobrado na Reunião a convocação de um CCA (Conselho de Centros Acadêmicos). Para nós da Liberdade e Luta, é essencial que os CA’s convoquem assembleias nos cursos pautando a campanha.
O DCE deve assumir o seu papel na luta construindo a mobilização, espalhando faixas e cartazes em toda a USP, denunciando amplamente os últimos acontecimentos e aprovar moção de repúdio à presença da PM na universidade. É imprescindível que se construa um manifesto conjunto pelo Fora PM da USP, assinado por todas as entidades e organizações políticas que estiveram presentes na reunião.
Recentemente, um estudante do Conjunto Residencial da USP (Crusp) denunciou outro estudante à polícia devido a irregularidades. O episódio levou a polícia para o Crusp no dia 15 de maio. O problema evidencia a falta de vagas e do apoio a permanência na universidade que, abandonada pelo Estado, leva à situação de “farinha pouca, meu pirão primeiro”, em que a utilização do braço armado é historicamente utilizada para reprimir e conter a revolta das pessoas pela escassez de vagas. O episódio mostra a necessidade de que essa campanha seja retomada e feita junto a ampla base dos estudantes. O caminho para resolver as dificuldades do estudante na USP não é a repressão estatal, não é entregar seus pares à polícia, mas a luta conjunta para que todos tenham acesso à universidade pública e gratuita e condições materiais para nela permanecer.
A privatização da universidade e sua consequente militarização é uma política endossada pelo governo federal e estadual. Logo, a única maneira de barrar esses retrocessos de uma vez por todas é mobilizar os trabalhadores e estudantes pelo Fim da PM na USP, Fora Doria e Abaixo o governo Bolsonaro, já!