O assédio sexual no ambiente de trabalho não é uma novidade no capitalismo. Friedrich Engels em seu trabalho sobre as condições dos operários na Inglaterra, em 1845, apontava também a infame relação entre as operárias e os patrões:
‘‘De resto, compreende-se que a servidão na fábrica, como qualquer outra e mais que qualquer outra, confira ao patrão o ‘jus primae noctis’ (Direito à primeira noite; pretenso direito dos senhores feudais de ter relações com as esposas de seus vassalos ou dependentes na noite de núpcias). O industrial é o senhor do corpo e dos encantos de suas operárias. A ameaça de demissão é uma razão suficiente em 90%, senão em 99%, dos casos para anular qualquer resistência das jovens que, ademais, não têm muitos motivos para preservar sua castidade. Se o industrial não tem escrúpulos (e o relatório da comissão de fábricas relata vários exemplos do gênero), sua fábrica é, ao mesmo tempo, seu harém. (…)”.
Se o assédio não é novidade, a movimentação entre as grandes atrizes de Hollywood, que lançaram manifesto aderindo ao #MeToo, e contra Harvey Weinstein, se tornou a polêmica do momento.
O movimento #MeToo surgiu em 2006 com o objetivo de apoiar jovens negras e pobres que sofriam assédio no trabalho e que não tinham como pagar os custos de um processo contra seus patrões. Em janeiro de 2018, no entanto, grandes atrizes de Hollywood, depois de várias denúncias de assédio no trabalho, lançaram iniciativa de arrecadação de US$ 15 milhões para o fundo. O objetivo é de apoiar homens e mulheres com baixos salários, empregadas domésticas, porteiros, garçonetes, trabalhadores de fábricas e da agricultura, que sofreram assédio no trabalho a entrar com processos judiciais e a não se calarem.
A iniciativa dessas milionárias ficou conhecida como Time’s Up (Acabou o Tempo) e também exige que mulheres ocupem mais postos de poder e liderança. Entre suas apoiadoras, estão Meryl Streep, presidente da Universal Pictures, Maria Eitel, presidente da Nike Foundation e Tina Tchen, ex-chefe de gabinete de Michelle Obama.
Se, por um lado, o Mulheres pelo Socialismo é absolutamente contra qualquer tipo de violência contra a mulher, inclusive mulheres ricas, por outro lado, não pode dar apoio a esse movimento.
O Time’s Up é um movimento que busca resolver os problemas de assédio das trabalhadoras por dentro do sistema vigente, utilizando seus aparatos (dinheiro) e suas instituições (justiça burguesa). É um movimento que atomiza as mulheres na luta contra os patrões, fazendo com que o problema pareça individual; é um movimento que não considera a crise e decadência do capitalismo e a enorme ameaça de desemprego que representa um processo judicial contra o patrão, sem falar no assédio moral que faz com que muitas mulheres abandonem o trabalho; é um movimento que pede postos de liderança e poder para mulheres, mas que mulheres?
Obviamente, mulheres burguesas, assim como elas, que não medirão esforços para atacar as mais pobres em nome da manutenção do sistema; é um movimento burguês, que não avança nenhum passo na consciência das trabalhadoras sobre sua emancipação, e claro, nem o poderiam fazer, pois isso seria chamar as trabalhadoras para derrubar o sistema capitalista.
Apontamos que para acabar com os assédios no trabalho, as mulheres devem se organizar em campanha contra o assédio, chamar os homens de seus locais de trabalho a apoiá-las e realizar greves, paralisações e manifestações contra estas e outras agressões. É preciso vencer a atomização das trabalhadoras e do movimento operário, e unificar as forças nos sindicatos. Só grandes mobilizações de base e de massas com métodos operários podem oferecer uma solução para o assédio sexual enfrentado pelas trabalhadoras.
Mas somente isso não é suficiente. É necessário conectar as lutas por salário iguais e pelo fim do assédio no trabalho com a luta por uma nova sociedade, pelo socialismo. O capitalismo nunca ofereceu e nem vai oferecer nada às mulheres trabalhadoras além de opressão e superexploração, assim como Engels relatou 173 anos atrás.