Imagem: Reprodução, Twitter

Capitalismo selvagem e a desumanização pelo lucro

Um corpo humano é menos valioso que o lucro do seu bolso? A pergunta deveria soar absurda — mas, no capitalismo, ela é dolorosamente pertinente. No dia 3 de maio, esse dilema revelou-se com crueza na cidade do Rio Grande, quando uma mulher sofreu um mal súbito e faleceu dentro do supermercado Stok Center, pertencente ao Grupo Zaffari, que pratica as escalas desumanas de 10×1 e 6×1. Segundo informações divulgadas pelo perfil da rede social Facebook “Zona Sul em Foco”, supostamente, mesmo diante da morte, o estabelecimento teria mantido o atendimento ao público normalmente, e este só teria interrompido suas funções com a chegada da perícia — com o corpo da vítima ainda estendido no local.

Esse episódio vai muito além da frieza de uma decisão operacional; ele expõe o valor real do ser humano dentro da lógica do capital. Como já apontava Marx, a vida, sob o regime do fetichismo da mercadoria, é rebaixada a uma variável desprezível diante da reprodução do lucro. A mercadoria — e, por extensão, o capital — adquire uma espécie de autonomia perversa, onde o acúmulo torna-se mais importante que a dignidade; a morte vira distração e o cadáver, um mero obstáculo logístico.

Sob essa lógica, o corpo dessa pessoa não é visto como vida que se extinguiu, mas como um elemento inconveniente que atrapalha a engrenagem da produção e consumo. Em vez de luto, promoções; em vez de silêncio, caixas apitando; em vez de humanidade, performance de normalidade. Parafraseando uma reflexão de Marx, o ser humano se torna estranho a si mesmo e aos outros — e, aqui, o cliente também se torna alheio ao corpo caído, pois a alienação não é só do trabalho: é da sensibilidade, da empatia, da vida em comum.

O supermercado não parou, porque o sistema não para. Parar seria admitir que a vida vale mais que a mercadoria — e isso, para o capital, é inaceitável. Este episódio alarmante escancara uma das faces mais cruéis do capitalismo selvagem: a desumanização completa em nome do lucro.

Imagem: Zona Sul Em Foco, Facebook

Em 19 de agosto de 2020, no Recife, um trabalhador morre dentro de uma unidade do supermercado Carrefour; seu corpo é coberto por guarda-sóis, e a loja segue funcionando como se nada tivesse acontecido. Em 5 de novembro de 2024, em São Paulo, o sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, ex-integrante do grupo Facção Central, é executado por um policial militar dentro de uma loja da rede OXXO — mais uma vez, o cotidiano do consumo não foi interrompido. Ambas as situações, absurdas em sua normalização, revelam aspectos da barbárie a que somos arrastados pelo capitalismo em decadência..

A engrenagem do capital não para — e, quando necessário, atropela. Trabalhadores são tratados como peças substituíveis nesse grande mecanismo de acumulação incessante. A manutenção das atividades comerciais enquanto corpos jazem no chão é a materialização brutal de um sistema que subordina a dignidade humana à tirania dos resultados, metas e lucros. A indiferença institucionalizada diante da morte em espaços de consumo nos obriga a refletir: qual é, de fato, o valor da vida humana na sociedade capitalista?

Esses casos não são aberrações isoladas — são sintomas crônicos de um sistema moribundo. O capitalismo transforma pessoas em estatísticas, cadáveres em entraves logísticos, mortes em danos colaterais de uma operação que não pode — e não deve, segundo seus arautos — parar. Trata-se de um modelo que não hesita em continuar vendendo sabão em pó ou refrigerante ao lado de um corpo ainda quente, como se a tragédia humana fosse apenas um detalhe.

É urgente denunciar, resistir e exigir mudanças. A vida humana não pode mais ser relativizada em nome da produtividade, da rentabilidade ou da manutenção de uma ordem econômica que transforma sofrimento em estatística e corpos em obstáculos logísticos.

O capitalismo, responsável por transformar tudo em mercadoria, precisa ser confrontado, responsabilizado e, acima de tudo, superado. Não há justiça possível em um mundo onde o lucro dita quem vive e quem morre.

Enquanto esse sistema perdurar, continuarão as guerras financiadas pelo capital — como o genocídio em Gaza, o massacre no Iêmen, a pilhagem contínua na África Subsaariana e tantas outras tragédias sustentadas pela fome de lucro dos que lucram com a destruição.

A única saída real, concreta e historicamente necessária é o fim do capitalismo, e apenas o comunismo — enquanto projeto de emancipação humana, superação da exploração e reconstrução da vida em bases solidárias — pode oferecer um futuro justo à sociedade mundial. Não se trata de utopia, mas de urgência histórica. Viver não pode mais ser um risco colateral. É tempo de levantar a voz, tomar partido e fazer da dignidade humana não um slogan, mas uma prática política radical.

“É preciso sonhar, mas com a condição de crer em nosso sonho, de observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossas fantasias. Sonhos, acredite neles.” (Lênin)

Se você quer ir além dos limites do capitalismo, some forças com quem luta por um futuro justo. Junte-se aos comunistas. Venha para a OCI.

  • Pelo fim da escala 6×1! Redução da jornada sem redução de salários!
  • Ruptura das relações comerciais e diplomáticas do Brasil com o Estado sionista de Israel!
  • Abaixo as guerras e o capitalismo! Fora o imperialismo!
  • Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!

A informação utilizada neste texto baseia-se em publicação do perfil Zona Sul em Foco nas redes sociais, com imagem e relato de que o supermercado seguiu funcionando normalmente mesmo após o falecimento da cliente, enquanto o corpo aguardava a perícia.