As manifestações de 15M, que tomaram conta do país, e a mobilização dos professores e de outras categorias de sul a norte do Brasil têm surtido os efeitos na luta contra a reforma da Previdência e a retirada dos direitos da classe trabalhadora. O senador Renan Calheiros, líder do PMDB no Senado Federal, e outros senadores de seu partido já admitiam no próprio dia 15 de março que o governo conduzia “equivocadamente” suas propostas no Congresso Nacional e que a reforma da Previdência já se encontrava inviabilizada.
Outras figuras dos partidos burgueses que sustentam o ilegítimo governo Temer também já criticavam publicamente a nefasta proposta de reforma da Previdência. Dias antes da vitoriosa mobilização do 15M, o Deputado Federal Cabo Sabino (PR-CE), ao criticar abertamente a reforma da Previdência, acabou sendo expulso por seu próprio partido da Comissão Especial da Câmara dos Deputados criada para analisar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/2016 de reforma da Previdência. Mas os sinais de fraqueza do governo se revelaram claramente nos dias posteriores à força demonstrada pela classe trabalhadora. No dia 16 de março, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em entrevista à CBN, já criticava abertamente a idade mínima de 65 anos e 49 anos de contribuição para aposentadoria de 100%, mesmo que defendendo a necessidade da reforma.
Coincidência ou não, na sexta-feira 17 é deflagrada pela Polícia Federal (PF) a operação chamada Carne Fraca que investiga o pagamento de suborno a fiscais da Vigilância Sanitária do Ministério da Agricultura e envolvimento de políticos, como o atual Ministro da Justiça de Temer, Osmar Serraglio (PMDB-PR), feito por empresários dos grandes frigoríficos brasileiros para esconderem suas falcatruas, tais como a mistura de papelão à carne de frango e mazelas congêneres.
De imediato a mídia burguesa lançou os holofotes à operação da PF e um grande debate acerca da natureza da Carne Fraca tomou conta também dos debates das alas da esquerda – onde certo tom de denúncia acerca do ataque aos “interesses nacionais” no comércio internacional da carne brasileira perante outros concorrentes, como os Estados Unidos – começaram a fazer coro com o choro imediato do agronegócio e de seus representantes da bancada ruralista. E segue firme a pirotecnia sobre o tema, discutindo se Temer comeu em churrascaria com cortes importados para defender a carne brasileira ou não!
Não seria novidade alguma se tal estratégia de “cortar na própria carne” (sem intenção de trocadilho!), levantando um circo sobre um tema que foge totalmente à pauta de mobilização da classe trabalhadora, fosse utilizada pelos representantes políticos das elites para, em surdina, reestruturarem a ação de ataques aos direitos dos trabalhadores!
Mais uma vez coincidência ou não, juntamente com o anúncio da famigerada operação da PF, surge o anúncio de que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, “inverteria” a pauta e daria prioridade na votação de retirada dos Direitos Trabalhistas, inclusive manobrando com a possibilidade inescrupulosa de ter a proposta aprovada na Câmara sem a apreciação (e todo o vexame e consequências políticas aos deputados!) pelo Plenário. Como a mídia burguesa tem vendido como “aumento no poder de negociar” a categórica retirada de todas as garantias previstas em lei (conquistadas após muitos anos de luta da classe trabalhadora!), prevalecendo o “negociado sobre o legislado”, entre outros ataques, a mudança de foco da Carne Fraca veio a calhar em um momento delicado em que as categorias se mobilizam para a luta.
De maneira letárgica, a burocracia encrustada nos órgãos de mobilização da classe trabalhadora retoma o foco. Nesta segunda-feira, 20, a direção da CUT DF convocou às pressas uma plenária com representantes dos sindicatos para tratar da iniciativa de Rodrigo Maia de colocar em votação o Projeto de Lei (PL) 4.320/1998 que, entre outros absurdos, propõe a terceirização irrestrita, inclusive para as atividades meio das empresas e órgãos públicos, um total assalto aos direitos dos trabalhadores tanto da iniciativa privada quanto do serviço público!
É fundamental que a base já mobilizada da classe trabalhadora permaneça focada na luta contra as ardilosas arremetidas dos representantes políticos das elites burguesas. Que trabalhadoras e trabalhadores sejam conscientizados acerca do atual momento da batalha e, principalmente, das vitórias que a mobilização da classe já logrou, tal como o enfraquecimento da cruel proposta de reforma da Previdência, para que mais e mais possam aderir à causa e levantar as bandeiras da defesa e ampliação dos direitos já conquistados. Que haja ampla divulgação e enérgica reação aos ataques dos que querem resolver a crise do moribundo sistema capitalista à custa do suor e do sangue da classe trabalhadora!
Nenhum Direito a menos!
Fora Temer e o Congresso Nacional!
Por uma Assembleia Popular Nacional Constituinte!
(Nota da redação: A foto deste artigo foi alterada em 06/02/2018, às 11:56).