As manifestações massivas de 8 e 15 de março, a exitosa greve geral de 28 de abril e a marcha de mais de 100 mil a Brasília em 24 de maio expressaram uma onda crescente de mobilização da classe trabalhadora. Entretanto, ela foi bloqueada pelas direções sindicais conciliadoras na preparação da greve geral de 30 de junho.
As atuais lideranças dos aparelhos estão profundamente convencidas de uma ideologia moldada por décadas, e reforçada nos últimos 15 anos. Estão convictas que as coisas existentes devem continuar a existir. Que o modo de ação política adotado é o possível. Que a passividade e o conservadorismo entre suas bases são eternos. Que as instituições e sistemas são os possíveis. Em uma palavra, que o capitalismo é e sempre será.
Essa postura oferecia um porto seguro em um período de estabilidade econômica do regime capitalista. Em um processo molecular de mudança, essas condições do passado estão paulatinamente se esfarelando desde 2008 sob os narizes dos mesmos dirigentes e organizações. Uma gritante contradição tem se expressado, sob a forma do bloqueio dessa transformação de sentimentos em desenvolvimento entre as amplas massas.
Os petistas desempenham um papel destacado nesse aspecto. Nas greves, atividades ou encontros, tentam impedir qualquer expressão que fuja do controle da burocracia ou da disputa eleitoral institucionalizada. São expressões disso: os seguidos “ensaios” de greve geral de 2016, os “atos show” clamando volta Dilma, a recusa em um verdadeiro combate contra o governo Temer, a linha “Lula 2017/2018” e mais recentemente o consenso sob “Diretas Já!”. Mas de forma alguma isso significa que os viúvos do governo federal são os únicos a bloquear essas expressões: os “comunistas” do PCdoB, Guilherme Boulos com o MTST e até mesmo setores que se colocam à esquerda postam-se objetivamente no mesmo campo.
O bloqueio à greve geral de 30 de junho é apenas o mais recente exemplo. Convocada pelas centrais sindicais, com destaque para a CUT, a mobilização já contava com uma rígida camisa de força, apenas um dia de greve e em uma sexta-feira, impedindo sua repercussão nos dias posteriores nos locais de trabalho. Organizada dois meses depois de 28 de abril, esta greve geral não foi construída na base pela CUT, e os sindicatos ligados às centrais mais pelegas (Força Sindical, UGT, etc.) jogaram claramente contra a paralisação de categorias . Vazaram informações de acordos informais entre as centrais para desmontar o movimento. No dia da greve, paralisações, manifestações e ações localizadas e de pequeno porte marcaram o movimento. O traseiro de chumbo dos dirigentes sindicais e políticos se fez valer, incapaz de acreditar que fosse possível ou desejável uma postura ofensiva da classe trabalhadora.
Característica marcante da situação no Brasil, o bloqueio das expressões das massas representa uma tendência mundial. Na Grã-Bretanha, isso se expressou no combate à morte contra a ascensão de Jeremy Corbyn no Partido Trabalhista. Na França e na Espanha, no comportamento dos partidos socialistas e comunistas diante da França Insubmissa e do Podemos. Na Grécia, o trágico curso do Syriza no governo marcou sua traição aos anseios de resistência mostrados várias vezes..
Nos EUA, Bernie Sanders recusou-se a romper com o Partido Democrata e dar consequência ao movimento de massas despertado em sua campanha contra Hillary Clinton. Na Venezuela, Nícolas Maduro e a burocracia do PSUV tentam controlar a Assembleia Constituinte convocada. No México, Morena obtém crescimentos importantes, em meio à sabotagem eleitoral, assassinatos e ameaças de morte, mas se limita a uma visão eleitoral e institucional da disputa política.
Entretanto, mesmo os maiores aparelhos reformistas não podem conter o avanço da luta de classes. Em cada país, o que cresce entre os povos é a consciência de que este sistema não pode oferecer nenhum futuro digno e que soluções radicais são necessárias. Aqueles que se colocarem como barreiras para o movimento, mais dia, menos dia, devem ser atropelados.
No Brasil, as instituições estão desmoralizadas e o presidente, nas pesquisas mais otimistas para o governo, está com 7% de apoio popular. A burguesia está dividida e em um impasse sobre como sair dessa situação. É preciso apontar a necessidade da auto-organização das massas, de um Encontro Nacional da Classe Trabalhadora que reúna o movimento sindical, estudantil e popular para que a base supere o bloqueio das direções traidoras e organize o combate.
Fora Temer e o Congresso Nacional! Por um governo dos trabalhadores!
Editorial do jornal Foice&Martelo 107, de 5 de julho de 2017.