Argentina: Defender a educação pública com unidade dos trabalhadores e da juventude

Os docentes das 57 Universidades Nacionais se encontram [em 31 de agosto] no início da quarta semana de luta e greve. Em um ano em que a inflação já alcançou 30% e o prognóstico é que feche o ano em 41%. Em contrapartida, ofereceu-se aos professores um aumento de tão somente 15% em setembro mais duas pecúnias de 456 pesos argentinos em novembro e 228 em dezembro[1].

O ex-ministro da educação, Estaban Bullrich, atual Senador Nacional, tentou justificar a porcentagem oferecida afirmando que não “existe estrangulamento orçamentário” ao assinalar que o governo duplicou o orçamento e que, além disso, o salário acompanha  a inflação. Acrescentou que as paridades para os docentes são diferentes de outros setores, já que são de março a março. Mas a verdade é que o poder aquisitivo do salário docente caiu em 15 pontos, a inflação de março a julho deste ano ficou acumulada em 14,8%, quase o mesmo valor do aumento que o governo argentino quer oferecer aos docentes para um ano. Ao contrário das palavras do Senador Bullrich, o governo cortou o orçamento para a Educação com a retirada de créditos para a obra pública universitária (Fundar), que equivale a 3,8 bilhões de pesos argentinos[2].

Mas o centro da mobilização universitária é a defesa da Educação Pública, Gratuita, Laica e de qualidade e contra os acordos que o governo fez com o FMI em matéria de cortes no plano educativo. Em Córdoba, milhares de docentes da UNC, juntamente com estudantes, foram às ruas contra o ajuste na educação. As Faculdades de Filosofia e Psicologia foram ocupadas e se realizaram assembleias na Faculdade de Direito, sob ameaças de despejo da polícia e das autoridades universitárias. Em Mendoza, mais de 15 mil estudantes e universitários marcharam em defesa da Educação Pública, Gratuita, Laica e de qualidade. Rosário mobilizou mais de 20 mil estudantes e docentes. Em La Plata, milhares de trabalhadores docentes marcharam com os operários da Estaleiros Rio Santiago.

Claro que não somente as universidades estão em conflito. Somam-se os demitidos nas fábricas militares do cordão norte de Rosário e Rio Tercero, a repressão aos trabalhadores dos Estaleiros Rio Santiago de Ensenada, os demitidos de Telam, os conflitos das associações docentes organizadas na CTERA[3] e das demais províncias, as lutas no setor privado.

Encontramo-nos em um momento complexo e de esperança

Complexo, já que o triunvirato cegetista[4] senta com o FMI, dando as costas ao conjunto do movimento operário e da juventude, ao invés de encabeçar um plano de luta diante dos embates do grande capital. Só depois de massivas marchas se vislumbra uma greve nacional sem mobilização para o dia 25 de setembro.

De esperança, pelo enorme potencial do conflito docente, por sua massividade e seu caráter nacional. Então, as direções docentes e estudantis podem, sem dúvida alguma, convocar o conjunto de trabalhadores, tanto no âmbito da Educação como aqueles que estão na luta pelas mesmas razões, para debater e por em ação um plano de luta unificado.

Trata-se de ampliar a unidade da base operária e popular para combater o governo de Cambiemos[5], que tão somente em 30 meses de gestão já avançou contra conquistas dos setores populares alcançadas em anos de luta. É uma oportunidade para que as direções das associações docentes e das federações estudantis universitárias se coloquem à frente da luta. Estas devem coordenar os esforços para que os trabalhadores em luta e do campo popular deem resposta conjuntamente aos ataques de Cambiemos. Assim foi demonstrado com a união operária estudantil na marcha dos Estaleiros em La Plata. Mas também é necessário promover Assembleias Populares por bairros, cidade e região, para debater democraticamente a preparação do plano de luta que necessita o conjunto de trabalhadores. Trata-se de todos  golpearem juntos.

Por um plano de luta nacional do conjunto dos trabalhadores e setores populares!

Greve geral com mobilizações em todo o país!

Fora o triunvirato traidor de nossa Central de Trabalhadores!

Não ao Parlamento do ajuste!

Foram Macri! Não ao FMI!

Por Educação Pública, Gratuita, Laica e de qualidade!

Artigo publicado em 6 de setembro de 2018, na página El Militante, da seção argentina da Corrente Marxista Internacional (CMI), sob o título “Argentina: Defendamos la Educación Pública, unidad de los trabajadores y la juventud”.

Tradução de Nathan Belcavello.


[1] Respectivamente cerca de R$49,75 em novembro e R$24,87 em dezembro (Nota do Tradutor – N.T.).

[2] Cerca de 414,46 milhões de reais (N.T.).

[3] Confederación de Trabajadores de la Educación de la República Argentina (Confederação de Trabalhadores da Educação da República Argentina), fundada em 1973 (N.T.).

[4] Héctor Daer, Juan Carlos Schmid e Carlos Acuña estão à frente da Confederação Geral do Trabalho da República Argentina (Confederación General del Trabajo de la República Argentina), principal central sindical argentina, fundada em 1930 (N.T.).

[5] Coalizão partidária formada para o lançamento da candidatura de Macri à presidência da Argentina em 2015 (N.T.).