Apresentamos aqui o editorial da primeira edição da Socialist Revolution: a nova publicação e sítio web da seção estadunidense da CMI. A tarefa diante de nós é nada menos que a luta pela revolução socialista mundial ainda em nosso tempo de vida.
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Durante 15 complicados e desafiadores anos, estivemos reunindo conscientemente nossas forças, desenvolvendo nossas perspectivas políticas e elaborando um programa para a revolução socialista nos Estados Unidos (EUA), junto à Corrente Marxista Internacional (CMI). Nessa década e meia, publicamos a revista Socialist Appeal e defendemos, contra todos os pessimistas e opositores– tanto à esquerda quanto à direita –, o socialismo e o marxismo revolucionário como um guia de ação para a vitória da classe trabalhadora. Armados com a confiança em nossa classe, e com a longa visão da história, esperamos pacientemente a mudança da maré, estabelecendo uma presença modesta de quadros comprometidos em todo o país.
Embora a crise de 2008 tenha abalado profundamente a confiança das pessoas no sistema, a ausência de uma alternativa revolucionária de massas e a relativa estabilização que se seguiu levaram a uma nova e desconfortável normalidade. Mas nenhuma das contradições inerentes ao sistema foram resolvidasA crescente pressão do descontentamento infiltrou-se sob a superfície, emergindo periodicamente na forma de movimentos como Occupy e Black Lives Matter (BLM) . Então, chegou 2016. Embora ninguém tenha previsto no início da campanha, a eleição presidencial assinalou outro ponto de inflexão qualitativo na cambiante consciência da classe trabalhadora estadunidense. A estimulante campanha de Sanders e a vitória de Trump refletiram o processo desigual de polarização de classe que apenas começa a tomar forma. Milhões de estadunidenses votaram por um autoproclamado socialista nas primárias, milhões ficaram em casa na noite das eleições e outros milhões depositaram suas esperanças no mais desatinado presidente que já adornou o Salão Oval.
O novo estado de ânimo ficou evidente quando milhares de jovens radicalizados ocuparam as ruas pouco depois da eleição e um dos maiores protestos da história dos EUA inundou Washington no fim de semana da posse do novo presidente. Com o interesse no socialismo e na revolução crescendo rapidamente – como ficou patente no espetacular crescimento dos Socialistas Democráticos dos EUA – o Congresso Nacional da seção estadunidense da CMI tomou a decisão unânime de mudar o nome de nosso jornal. Não se trata mais de só defender as ideias básicas do socialismo. A tarefa diante de nós é nada menos que a luta pela revolução socialista mundial ainda em nosso tempo de vida.
Justifica-se perspectiva tão ousada? Ou é uma ilusão? Em última análise, as condições determinam a consciência e nenhuma quantidade de otimismo retórico pode pagar o aluguel e colocar comida na mesa. Trump trombeteou a suposta saúde da economia. Mas, qual é a situação real?
Quase a metade dos estadunidenses afirmam que suas despesas são iguais ou superiores às suas receitas; para aqueles entre 18 e 25 anos de idade, a percentagem é de 54%. Aproximadamente 40% destes últimos têm receitas voláteis que podem variar em até 25% em certos meses. Não surpreende que 96% dos que dizem ter muitas dívidas informem estar estressados, o que traz sérias consequências para a saúde no longo prazo. “Metade da América não conta com almofadas financeiras”, disse Jennifer Tescher do Centro de Inovação dos Serviços Financeiros. “Estão vivendo muito perto da borda do abismo… Não poderemos lidar com seus problemas de saúde se não pudermos lidar com sua saúde financeira… As pessoas estão gastando uma enorme quantidade de suas receitas com as despesas de habitação. Têm de pagar pelo transporte para chegar ao trabalho. Esses custos estão aumentando enquanto seus salários permanecem os mesmos”.
Mais de 38 milhões de famílias estadunidenses não conseguem pagar sua moradia, um aumento de 146% durante os últimos 16 anos, já que os salários não conseguiram acompanhar a elevação dos custos de habitação. De acordo com Dan McCue, pesquisador sênior associado ao Centro Conjunto de Estudos de Habitação da Universidade de Harvard, “Para os grupos de renda mais baixa, é mesmo pior que a estagnação. Não está acompanhando a inflação”.
A economia está emperrada em um ciclo vicioso de baixa produtividade e até mesmo em salários reais mais baixos. Uma forma de aumentar a produtividade é expandir a força de trabalho, mas a queda na imigração e a dramática queda nas taxas de natalidade refletem o pessimismo do que tiveram algum dia confiança no Sonho Americano. O recorde de um entre três jovens – aproximadamente 24 milhões entre 18 e 34 anos de idade – teve que viver com seus pais em 2015. Um de cada quatro nem trabalhou nem foi à escola. Os aposentados estão se agarrando às suas poupanças ou as usando para sustentar seus filhos e netos.
Apesar de estarem sentadas em trilhões de dólares, as maiores corporações não estão investindo para expandir a produtividade já que existe um excesso de capacidade. As reduções de impostos aos ricos, prometidas por Trump, não vão reverter essa situação e levarão apenas a um luxo ainda mais extravagante para os 1% mais ricos dentre os 1% mais ricos. O segundo homem mais rico do mundo, Warren Buffett, foi particularmente direto numa entrevista recente concedida à PBS Newshour: “O problema real, na minha opinião, é – isto tem sido – a prosperidade foi inacreditável para as pessoas extremamente ricas… Se você vai a 1982, quando Forbes publicou sua primeira lista dos 400, aquelas pessoas tinham [um total de] 93 bilhões de dólares. Agora têm 2,4 trilhões, [um múltiplo de] 25 por um… Essa foi uma prosperidade desproporcionalmente gratificante para as pessoas do topo”.
Ele continuou: “E é este o problema que deve ser resolvido, porque, quando você tem algo que é bom para a sociedade, mas terrivelmente prejudicial para determinados indivíduos, temos que nos certificar de que essas pessoas sejam atendidas”. Buffett se preocupa com essas pessoas, não pela bondade de seu coração, mas porque, como Bob Marley, ele entende que “uma multidão faminta é uma multidão zangada”. Então, qual é a solução que propõe o Oráculo de Omaha? “Eles [os pobres] devem apenas continuar comprando, comprando e comprando um pouco da América à medida que avançam. E daqui a 30 ou 40 anos, terão muito dinheiro”. Como se fosse tão fácil para os capitalistas resolver este problema.
É assim como se mostra a terceira maior expansão econômica da história dos EUA. O que vai acontecer quando as leis do capitalismo inevitavelmente se afirmarem e a recessão chegarem ao auge?
As Pirâmides são incrivelmente estáveis porque o maior volume se espalha na parte inferior, levando a um centro de gravidade consistentemente baixo. Durante várias décadas depois da II Guerra Mundial, uma ampla camada da população estadunidense gozou de relativa prosperidade, contribuindo para a relativa estabilidade social e política deste período. Não é preciso ser um físico para entender que, ao se desafiar a lei da gravidade einverter a pirâmide, concentrando a maior parte do volume no pináculo, vai se produzir uma enorme instabilidade e um gigantesco colapso.
Lenin nos explicou que a política é economia concentrada. Todos os aspectos da vida social estão entrelaçados. A crise econômica leva inevitavelmente à crise política, ideológica e social. Todas as instituições do governo capitalista estão em crise e a confiança pública neles despencou. Os dois principais partidos políticos estão totalmente desconectados dos processos reais que se agitam sob seus pés e não têm a menor ideia da escala da crise que está se aproximando. E mesmo que tivessem, não saberiam como detê-la.
Trump é um reflexo de espelho deformador da crise do imperialismo e do capitalismo estadunidense. Impôs-se no cenário através de apelos demagógicos à grandeza da nação, mas será incapaz de trazer essa grandeza à realidade. Embora possa haver períodos de relativa tranquilidade, a trajetória histórica do capitalismo é descendente e seremos forçados a encarar muitas e terríveis convulsões à medida em que as forças da revolução e da contrarrevolução se enfrentam sobre o futuro da humanidade. Se quisermos tirar todas as conclusões de nossa asseveração de que não há solução dentro dos limites do capitalismo, devemos lutar para ultrapassar as barreiras deste sistema através da revolução socialista.
O relógio está marcando, e os socialistas revolucionários devem se utilizar dessa calma que antecede a tempestade para estudar a teoria, a estratégia, a tática e a história revolucionária. Devemos participar no dia a dia das lutas de nossa classe e fincar raízes em cada local de trabalho, campus e bairros da classe trabalhadora. A história não se repete com precisão exata, mas há lições a serem aprendidas e padrões a discernir. Os enormes sacrifícios e os muitos mártires de nossa classe não foram em vão.
A tarefa da presente geração é tornar real a democracia dos trabalhadores, finalmente. Devemos liberar o vasto potencial reprimido pela motivação do lucro e pelo estado-nação se quisermos salvar nossa espécie da mudança climática e lançar as bases para acabar com as guerras endêmicas, o terrorismo, o racismo e a miséria da sociedade de classes. O equilíbrio de forças está esmagadoramente ao nosso favor. Por exemplo, os contra-manifestantes apequenaram uma reunião recente da Ku Klux Klan (KKK) na Virgínia. Mas não podemos dar isto como garantido. Se não construirmos uma liderança digna dos desafios que a história nos reserva, as coisas podem se inverter. Derrotas sem luta podem ser mais desorientadoras e desmoralizantes do que quando saímos derrotados depois de fazer todo o possível.
Não há melhor ocasião do que o centenário da Revolução Russa para redobrar nossos esforços pela causa do socialismo. Longe de nos envergonharmos de nossas credenciais revolucionárias, estamos orgulhosos de nos erguermos sobre os ombros de Marx, Engels, Lenin e Trotsky, e de incontáveis outros heróis revolucionários de nossa classe ao redor do mundo. Repudiamos a todos que igualam o leninismo às ideias e métodos anti-classe trabalhadora do stalinismo. Abraçamos o legado do bolchevismo e rejeitamos todos que caricaturam suas realizações e formas organizacionais.
A hesitação, a rotina, o burocratismo e a indecisão podem ser fatais numa situação revolucionária. É por isso que um partido revolucionário requer uma programa claro e estruturas que maximizem a democracia, a responsabilidade, o profissionalismo e a eficiência na ação. O debate aberto, democrático, a tomada de decisões pela maioria e a unidade na ação são as únicas formas de derrotar o poder centralizado de nosso inimigo de classe. A disciplina revolucionária não pode ser imposta, deve ser voluntária e baseada na convicção e no compromisso genuíno.
Agora não cabe mais o ceticismo ou a hesitação. Uma perfeita tempestade está se formando e uma convergência histórica decisiva está no horizonte. No período que se abre à nossa frente, cada um de nós será chamado a responder à pergunta: de que lado você está? O próprio futuro da humanidade está em jogo. Afortunadamente, o processo histórico fará o trabalho pesado para nós – mas necessitamos de sua ajuda para inclinar a balança e dar ao sistema o empurrão final para o abismo. Junte-se à CMI e luta pela revolução socialista!
Visite o site da Revolução Socialista (em inglês).
Tradução Fabiano Leite.