O que pensar da celebração de deputados do PT e do PCdoB diante da vitória de Rodrigo Maia para a substituição de Eduardo Cunha na presidência da Câmara?
Na última quarta-feira o Brasil assistiu, uma vez mais, o cretinismo parlamentar do PT e do PCdoB, que além de abandonarem qualquer posição de classe, ainda não tiveram vergonha de apoiar um dos que eles chamam de “golpistas” na eleição do presidente da Câmara dos Deputados para um mandato tampão, após a renúncia do famigerado Eduardo Cunha.
É possível imaginar a cara de petistas vendo os deputados do PT e PCdoB comemorando a vitória do deputado Rodrigo Maia DEM–RJ. Pelas redes sociais os militantes do PT e PCdoB, e até lideranças, estavam atônitos com as informações que pipocavam, cada uma mais lamentável e triste que a outra. Maia declarou ao Valor Econômico que o deputado do PCdoB, Orlando Silva, havia incentivado sua candidatura e agradeceu a esquerda que o apoiou!
Neste mesmo quadro o PSOL lançou a deputada Luiza Erundina como anticandidata e obteve 22 votos, apesar do PSOL ter só 6 deputados. Posição corretíssima numa eleição de cartas marcadas.
Nos bastidores o governo Temer trabalhou pela candidatura do Deputado Rosso, PSD–RJ, aliado de Eduardo Cunha e do chamado Centrão (bloco de deputados fisiológicos que foram da base aliada de Lula e Dilma e depois se bandearam todos para Temer e a turma do impeachment).
E, o PT com 58 deputados, a segunda maior bancada entre os partidos que compõe a Câmara, não lançou candidato e apoiou um deputado do PMDB, o ex-ministro da Saúde, Marcelo Castro, que tinha menos votos que o PT.
Os principais partidos da antiga oposição PSDB, DEM, PPS se reagruparam na candidatura de Maia. O resultado do primeiro turno foi:
Rodrigo Maia (DEM-RJ): 120
Rosso (PSD-RJ): 106
Marcelo Castro (PMDB-PI): 70
Giacobo (PR-PR): 59
Esperidião Amin (PP-SC): 36
Luiza Erundina (Psol-SP): 22
Fábio Ramalho (PMDB-MG): 18
Orlando Silva (PCdoB-SP): 16
Cristiane Brasil (PTB-RJ): 13
Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO): 13
Carlos Manato (SD-ES): 10
Miro Teixeira (Rede-RJ): 6
Evair Vieira de Melo (PV-ES): 5
Não houve votos em branco.
Mas, o pior estava por vir no segundo turno. A bancada do PT decidiu apoiar Rodrigo Maia (sic) e com as bênçãos de Lula e da direção do PT. Maia foi eleito com 285 votos contra Rosso com 170 votos.
Relembramos que o deputado Rodrigo Maia é do PFL–DEM, partido originado na ARENA, o partido de sustentação da Ditadura Militar. Filho do ex-prefeito César Maia, do Rio de Janeiro, além de ferrenho opositor dos governos Lula e Dilma sempre com uma pauta de ataques à esquerda e às reivindicações populares. Também foi um destacado porta voz dos apoiadores do impeachment de Dilma.
Durante seu discurso de posse agradeceu a família, seu pai, seu filho de 8 meses, etc., relembrando o filme de horror das declarações de voto de deputados pró impeachment de Dilma, no dia 17 de abril, na Câmara.
Mas, as coisas ainda podem piorar e foi o que aconteceu, Maia agradeceu ao PCdoB, ao “estadista” Aldo Rebelo (ex-ministro de Lula e Dilma do PCdoB), ao deputado Orlando Silva PCdoB-SP, ao líder do PT, etc. E ao final disse a que veio: “Temos pontos determinantes: a PEC do teto de gastos [públicos] está aqui [na Câmara], o projeto de lei da renegociação da dívida dos estados está pronto para o plenário, a PEC dos precatórios voltou do Senado. Depois, tem a reforma da Previdência, que precisa ser discutida com calma”. Em português claro: os ataques aos trabalhadores vão continuar e com prioridade.
Diante de toda esta tragédia, muitos militantes e até lideranças do PT se perguntavam: “por que a esquerda não se uniu pelo menos para marcar posição?” ou “por que o PT não lançou candidato para se contrapor ao impeachment?”. A resposta é simples, o PT há tempos desistiu de lutar contra o sistema, portanto, “marcar posição” não faz parte do “diálogo do parlamento” como disse um deputado do PT, defensor do apoio a Maia. Essa teoria explica também porque vários deputados do PT e PCdoB, com honrosas exceções, ficaram em plenário até o fim da votação do segundo turno e sorridentes batiam palmas comemorando a vitória de Maia. Essa turma desistiu da luta de classes e se sentem como “membros da casa”.
O que todos vimos foi mais uma vez a demonstração cabal do caminho sem volta do PT na defesa das instituições e deste regime podre odiado pelos trabalhadores e pela juventude. Essa postura distanciará cada vez mais este partido de sua base social.
A postura do PSOL foi exemplar, denunciando o jogo de cartas marcadas e se retirando do processo no segundo turno. Atitudes que o PT já adotou há longínquos anos e que foi a base para sua construção e consolidação até a eleição de Lula. O PSOL tem a chance e as condições de ocupar este espaço aberto pela degeneração do PT. É para ajudar neste desafio que a Esquerda Marxista solicitou integração ao partido.
De nossa parte continuaremos firmes nas ruas e nas lutas combatendo por Fora Temer e o Congresso Nacional, ao mesmo tempo discutindo a necessidade de uma Assembleia Popular Nacional Constituinte e de um Governo dos Trabalhadores.
Os de cima já não conseguem dominar como antes e os de baixo começam a não suportar a bagunça e a sujeira dos de cima. Nada mais será como antes.
Nos próximos meses a Esquerda Marxista participará das eleições municipais com dezenas de candidatos lutando contra esse sistema e pelo socialismo, apresentando nossas propostas de luta pelas reivindicações específicas de cada cidade, ligando-as com a luta política geral. Junte-se a nós neste combate!