Centenário da Revolução Russa, e vemos novamente um Lenin à frente de um país. No Equador, o candidato governista Lenín Moreno venceu a eleição ocorrida em 3 de abril. Combatendo diretamente um representante da burguesia urbana e agrária, ele defendeu a continuidade das políticas de seu predecessor Rafael Corrêa contra a do oposicionista Guilhermo Lasso.
Os adeptos do reformismo estão dando pulos de alegria com o resultado. De acordo com eles, as urnas mostraram que os povos latino-americanos ainda podem ter esperança de ver uma reprise dos governos “populares” da última década. Alguns chamaram essa eleição de a “Batalha de Stalingrado Latino-Americana”. “A Onda Conservadora foi barrada ali!”, bradam.
Uma análise detalhada dos dados revela uma indignação crescente contra o governo. Nas eleições gerais de 2013 e de 2009, os candidatos principais da direita mantiveram uma votação na casa dos 1,9 milhões de apoiadores. Agora, a oposição adquire 4,8 milhões de aderentes, mais do que dobrando sua expressão.
Esse quadro à direita se manifesta diante de um pequeno avanço do apoio ao governo, de 140.942 votos, diante do saldo de Corrêa contra o mesmo opositor em 2013. Na eleição deste ano, quase 3 milhões de equatorianos se ausentaram, votaram em branco ou se abstiveram.
Um dos truques das eleições burguesas consiste em apresentar sempre as porcentagens dos votos válidos. Esses dão 51,15% para o vencedor, e 48,85% para o derrotado. Guilhermo Lasso, no entanto, teve 37,71% dos eleitores o apoiando, contra uma vitória de 39,48% favoráveis ao candidato homônimo ao líder da Revolução Russa de 1917.
Este ano uma oposição com praticamente o mesmo tamanho dos governistas, somada a uma expressiva parcela social que se recusa a participar do jogo eleitoral, compõem uma maioria diante do governo eleito.
Buscar alardear uma vitória das “forças progressistas”, ou categorizar o episódio como uma “Batalha de Stalingrado Latino-Americana”, passa longe do real processo político em curso no país. Ao mesmo tempo, um olhar mais atento destaca paralelos com os vizinhos latino-americanos como Brasil, Argentina, Paraguai e Venezuela, apesar das evidentes particularidades de cada caso.
O maior derrotado nesta eleição do Equador foi a direita descarada com seu candidato abertamente serviçal dos capitalistas nacionais e submisso ao imperialismo. Outro personagem, embora não tenha sido colocado na lona, saiu com bastante fraturas. Foi o reformismo, no Equador protagonizado por Rafael Corrêa.
As massas trabalhadoras resistiram ao ataque da direita, utilizando a candidatura de Lenín. Agora precisam urgentemente acertar suas contas com esse governo. Uma política independente e socialista se faz necessária para impedir qualquer ataque por parte da burguesia nacional ou estrangeira. Avisos deprimidos advém de todos os cantos da América Latina, por parte de petistas, de kirchneristas, de luguistas e de chavistas dirigidos por Nicolás Maduro.
O reformismo falhou em todo o mundo. A resistência dos povos conseguiu mais tempo no Equador, apesar da política de manutenção do capitalismo de Corrêa e Lenín, que alimenta o mal-estar social crescente. Para tristeza dos reformistas e de suas viúvas, que as similaridades com a Revolução Russa de 1917 no Equador não fiquem só no nome do presidente.