Começou nessa sexta-feira (19/4) a Escola de Quadros da Esquerda Marxista (EM), que tem a duração de dois dias e acontece na cidade de Joinville, Santa Catarina. A atividade precede a Conferência Nacional da organização, no dia 21. Ela tem o tema “100 anos da Internacional Comunista” e conta com a participação de cerca de 100 camaradas de diferentes partes do país. “Um plenário como este hoje mostra a vitalidade, a juventude e a força da nossa organização”, disse Serge Goulart, secretário geral da EM, na abertura da Escola. “Também demonstra o acerto do trabalho que empreendemos como seção da Corrente Marxista Internacional (CMI) para reconstruir uma nova 3ª Internacional (IC)”.
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O camarada catalão Jordi Martorell, que participa da atividade representando a CMI, fez uma saudação aos presentes. Ele ressaltou que a IC foi fundada em uma época de enorme turbulências e que agora, um século depois, o mundo encontra-se novamente convulsionando. Os grandes movimentos na Argélia e no Sudão que acontecem neste momento são exemplos disso.
Para Jordi, o partido revolucionário é a memória histórica da classe. Por isso, é tão importante o estudo do movimento operário. “Ainda não podemos dizer que somos um partido, somos um embrião, mas se alguém conhece um pouco de genética, sabe que um embrião já contém o material genético que dará lugar a um ser humano desenvolvido”, explicou. “A parte mais importante deste material é a teoria […]. É preciso construir uma organização sobre a pedra firme da teoria […]. Estou certo de que esta escola servirá a este propósito e será um ponto de inflexão muito importante para a construção da Esquerda Marxista, seção brasileira da CMI”.
Origem, desenvolvimento e destruição da Internacional Comunista
Logo após, teve início a primeira mesa da atividade, sobre a “Origem, desenvolvimento e destruição da Internacional Comunista”, com o informe de Serge. Ele explicou que o combate pela 3ª Internacional foi aberto em 1914, quando a social-democracia alemã apoiou os créditos de guerra, ou seja, o financiamento, para a entrada do país na 1ª Guerra Mundial. Neste período, sob a direção da 2º Internacional, muitos partidos começaram defender os interesses de suas burguesias nacionais. Este é um momento de inflexão, que leva Lênin a defender a necessidade de uma nova Internacional.
Foi esta firmeza de Lênin, junto a Trotsky, que permitiu a reconfiguração internacional do movimento operário e a vitória da Revolução Russa, em 1917.
Entre 1918 e 1919 ocorreu a Revolução Alemã, ansiada pelos trabalhadores do mundo inteiro, e traída pela social-democracia. “Havia uma vaga revolucionária a partir do final da Guerra e da Revolução Russa, onde estava colocada a questão de que nos próximos anos ou meses o comunismo podia ser vitorioso na Europa”. Chegava o momento de uma nova Internacional.
O primeiro congresso da Internacional Comunista foi uma demonstração de democracia, tendo sida quase adiada a fundação a partir da posição do único delegado alemão. O ano seguinte foi de um desenvolvimento do movimento de massas nunca visto antes. Milhares de operários se filiaram aos partidos comunistas pelo mundo. O segundo congresso desenvolveu-se em uma situação contraditória, de grandes esperanças que acabaram como ilusões. No entanto, com a vaga revolucionária que se abria, contou com delegados representando milhões de trabalhadores. O terceiro congresso se deu em uma situação ainda mais difícil, após a derrota da Revolução Alemã – que teve consequências tenebrosas pra história – e a constatação de erros graves dos comunistas. Ele ficou conhecido como “ir às massas e o combate pela frente única”. O quarto congresso foi sobre o balanço da tentativa de aplicação prática da frente única e é quando começa a se estruturar o programa da IC. Ele foi o último com a participação de Lênin e Trotsky – que foi perseguido e morreu nas mãos do stalinismo.
Após isso, aconteceram mais três congressos da Internacional. No entanto, eles foram o subproduto de em um período em que os dirigentes mais decididos da Internacional haviam morrido, a Revolução Alemã tinha sido derrotada e o stalinismo se alastrava.
Ao fim, a Internacional Comunista foi destruída. Ela era um problema para Stálin, que não desejava ser controlado, e foi substituída pela polícia política stalinista. As conquistas dos quatro primeiros congressos e os ensinamentos da Revolução Russa foram a base para Trotsky impulsionar a 4ª Internacional. Os documentos destes primeiros congressos estão sintetizados no que se convencionou chamar de Programa de Transição.
Na parte da tarde o informe foi do camarada Luiz Bicalho aprofundando a discussão sobre o 1º e o 2º congressos da Internacional Comunista. Ele iniciou falando sobre a Conferência Internacional Socialista em Zimmerwald, que reuniu 39 pessoas em 1915, onde discutiu-se a posição dos comunistas sobre a guerra e a provou-se por unanimidade uma posição de Trotsky sobre a atuação dos operários contra a guerra. A maioria dos dirigentes da social-democracia havia passado para o lado da defesa dos interesses de suas burguesias nacionais e da guerra. Assim, a tarefa recaía principalmente sobre o Partido Bolchevique.
1º e 2º congressos da Internacional Comunista
Foi no cenário de miséria e manifestações causadas pela guerra que aconteceu a segunda conferência, onde começou-se a examinar a hipótese de combater por uma 3ª Internacional. Neste período estimava-se que a maior probabilidade de ter uma revolução era na Alemanha. Mas as revoluções não são previsíveis e ela começou na Rússia girando toda a equação.
As Teses de Abril de Lênin são muito importantes neste processo. Elas terminam com a necessidade de mudar o programa, alterar o nome do partido para Partido Comunista e combater por uma nova Internacional.
No primeiro congresso da IC, em 1919, a situação na Rússia era de extrema dificuldade pela guerra civil, mas, ao mesmo tempo, a Revolução de 1917 impactou o mundo inteiro e em vários países começava-se a abrir a discussão sobre os partidos comunistas. Sua convocatória chama todos os revolucionários do mundo que querem combater pelo comunismo e foi escrita por Trotsky. No entanto, a Internacional ainda era formada por muitos partidos em formação e frágeis, sendo que os principais partidos eram o Bolchevique e o Comunista Alemão. Além disso, a posição do PC Alemão, orientada por Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht antes de morrer, era pela não fundação da 3ª Internacional.
Após a fundação, o período entre o primeiro e segundo congressos foi o de construção de verdadeiros partidos comunistas, mostrando o acerto da fundação.
O 2º congresso contou com debates duríssimos. Ele aprovou as 21 teses de Lênin sobre as condições de admissão dos partidos na IC. Bicalho citou como uma das principais exigências o rompimento com os social traidores. O conjunto das resoluções significava uma outra postura em relação aos sindicatos, soviets, parlamento e democracia burguessa. “Isto não foi qualquer coisa”, explicou o informante. “Até hoje correntes que se reivindicam trotskystas não sabe o que responder quando questionadas sobre as condições para os parlamentares comunistas”.
Os documentos também são um ataque direto aos que se afastam das organizações operárias politicamente neutras, autoproclamando suas próprias seitas. Na Resolução sobre o papel do Partido Comunista na revolução proletária, lê-se: “No seio dessas organizações, o Partido Comunista prossegue constantemente em seu trabalho, demonstrando infatigavelmente aos operários que a neutralidade política é repetidamente cultivada entre eles pela burguesia e seus agentes, a fim de desviar o proletariado da luta organizada pelo socialismo”.
Vários camaradas participantes da Escola contribuíram com o debate. Jordi, em sua inscrição, chamou a atenção para a importância das teses sobre a questão colonial (que é um verdadeiro rompimento com a posição de “socialismo imperialista” da 2ª Internacional), sobre a questão nacional e sobre a intervenção entre os trabalhadores imigrantes. Todas essas questões continuam tendo uma grande relevância no mundo hoje.
Após o segundo congresso, iniciaram-se grandes batalhas em todos os congressos, com rachas em partidos importantes, como na Itália e da França, bem como com a fundação de Partidos Comunistas em todo o mundo. A partir de então, a IC se constitui com uma política de combate para ganhar a classe e que permitia a diferenciação com a social-democracia, com condições de dirigir uma revolução socialista mundial.
Os documentos e experiência destes dois primeiros congressos da IC – assim como os dos dois seguintes, que serão tema do debate na Escola de Quadros neste sábado – são exemplos para a ação dos revolucionários ainda hoje. “Temos que sair daqui com a disposição de ir para o próximo combate, os combates contra a Reforma da Previdência, o Fora Bolsonaro, e sair com a nossa organização muito maior do que está hoje, construir a organização comunista”, encerrou Bicalho.
No final da noite, os participantes da Escola de Quadros prestaram sua solidariedade ao camarada José Cícero de Oliveira, demitido dos Correios por perseguição política.