No clássico estilo de “dividir e governar”, Donald Trump busca introduzir uma cunha na classe trabalhadora. Dando minúsculas migalhas a poucos e fazendo dos outros bodes expiatórios, ele espera nos distrair da verdadeira fonte dos problemas que todos os trabalhadores enfrentam: o capitalismo.
[Editorial de Socialist Appeal/EUA]
Ao contrário da retórica venenosa dos chamados nacionalistas “brancos” e “econômicos”, a linha divisória fundamental da sociedade não é de urbano versus rural, cristão versus muçulmano ou imigrante versus nativo. É de classe social – com os trabalhadores de um lado da barricada e os capitalistas do outro.
Os sindicatos são a linha de frente da defesa contra os capitalistas, uma forma dos trabalhadores confrontarem coletivamente os patrões para melhorar salários e condições através da ameaça de recusar-se a trabalhar. Em média, os trabalhadores sindicalizados desfrutam significativamente de melhores salários, benefícios, condições e proteções do que os trabalhadores não-sindicalizados.
A jornada de oito horas, finais de semana, pensões, férias pagas e o mais foram conquistados por uma estratégia militante e por uma liderança de esquerda, e não através do sindicalismo empresarial e de colaboração de classe. Mas tudo isto é um sonho impossível para milhões de trabalhadores que devem suportar salários baixos, ausência de benefícios, condições inseguras, emprego precário, agendamento irregular, divisão de turnos e demissões arbitrárias.
Infelizmente, a atual safra de dirigentes sindicais levou o movimento a um beco sem saída. Com uma ou outra exceção, eles aceitaram décadas de concessões e manejaram armas e bagagens para manter seus próprios membros sob controle. Em nome de uma “parceria de equipe” colaboradora de classe, utilizam os sindicatos para controlar os trabalhadores e impor retribuições em favor dos patrões. Longe de representar os interesses dos trabalhadores como um todo, os burocratas sindicais constituem um obstáculo objetivo à militância e à luta da classe trabalhadora.
Como exemplo, tome-se o presidente da federação sindical AFL-CIO. Diante da intensificação do assalto de Trump sobre os trabalhadores, por acaso Richard Trumka apelou aos interesses comuns de todos os trabalhadores – de dentro e de fora da AFL-CIO, dos trabalhadores dos sindicatos do comércio, industriais e do setor público, dos trabalhadores organizados e desorganizados, dos trabalhadores documentados e indocumentados? Apelou ele por um rompimento com os Democratas e pela formação de um partido trabalhista? Convocou ele uma greve geral para deter o terrorismo contra os trabalhadores imigrantes e a pendente legislação nacional de “direito ao trabalho”? Longe disso. Ele continua seguindo os Democratas, elogiou o protecionismo de Trump e considerou sua reunião com ele “honesta e produtiva”.
Os combates mesquinhos e a covardia dos líderes sindicais, que rastejam diante de Trump e vendem o restante de sua classe por um punhado de empregos temporários, são asquerosos para a maioria dos trabalhadores e jovens com consciência de classe. Eles querem mudanças reais e não se deixam atrair pelo derrotismo e por aqueles que aceitam o status quo. Instintivamente entendem que o único caminho a seguir é abraçar o princípio de que os interesses dos trabalhadores e dos patrões são diametricamente opostos. Somente negando-nos coletivamente a trabalhar e fechando a produção poderemos interromper o fluxo de mercadorias e serviços e atacar os interesses fundamentais dos patrões: os lucros.
As lutas que fervilharam nos anos recentes devem ser levadas ao próximo nível. Não importa o quanto seja bem-intencionado, mas um piquete informal não é uma greve. A solidariedade é a arma mais forte dos trabalhadores, e as leis e prescrições contra as greves de solidariedade terão que ser desconsideradas uma vez que o real equilíbrio de força de classe é medido nos locais de trabalho e nas ruas. Em vez de realizar boicotes aos consumidores e de protestar contra Wal-Mart do lado de fora, a ação de greve de solidariedade dos trabalhadores por toda a cadeia de distribuição tem o poder de paralisar esta empresa colossal nos portos, nas estradas e nas ferrovias, nos armazéns e nas lojas. A luta pelos 15 dólares é somente o primeiro passo e deve incluir um esforço total pela sindicalização, uma vez que salários modestamente mais altos não são suficientes para garantir uma qualidade de vida decente. E, para proteger nossas irmãs e irmãos imigrantes, “Um Dia sem um Mexicano” está longe de ser suficiente. O trabalho organizado deve fixar uma data e trabalhar para um dia sem qualquer trabalhador – uma greve geral total para demonstrar na prática que uma injúria a um de nós é uma injúria a todos.
Nada disto acontecerá de um dia para o outro ou sem perseverar diante da feroz resistência dos patrões e de seu estado. Os trabalhadores estadunidenses mantiveram suas cabeças baixas por muitos anos e a maioria não está mais disposta a arriscar seus meios de vida apenas por “enviar uma mensagem”. Têm de saber que seus sacrifícios valem à pena e que têm uma boa chance de êxito. Não há como se prever com precisão quando eles vão se mover. Mas podemos afirmar o seguinte: a pressão está crescendo e quando eles entrarem no cenário da história, nada sobre a Terra será capaz de deter o poder elementar da consciência de classe da classe trabalhadora. Como Marx e Engels colocaram em O Manifesto Comunista: “deixem a classe dominante tremer!”
Artigo publicado originalmente em 16 de março de 2017, no site Corrente Marxista Internacional, sob o título “USA: The Ruling Class Takes Aim: Labor Must Unite and Fight!”.
Tradução Fabiano Leite.