Desde o dia 3 de novembro, mais de 2 milhões de unidades consumidoras ficaram sem luz por dias na grande São Paulo. Entre elas, residências, comércios e escolas. Milhares de locais ainda permanecem sem luz. Até a noite da última terça-feira (7/11), era estimado que ainda havia cerca de 200 mil estabelecimentos sem energia. Além disso, também houve falta de água devido ao impacto da queda de energia nos reservatórios. Moradores da região metropolitana e da capital paulista se mobilizaram e protestaram contra a falta de luz e o caos após a chuva.
As justificativas hipócritas para a queda de energia foram muitas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), definiu a queda de árvores como a grande vilã após uma tempestade na sexta-feira (3/11). Segundo ele, “o grande vilão desse episódio foi a questão arbórea. Foi a questão da quantidade de árvores que, por falta de manejo adequado, acabaram caindo sobre a rede”. Já o prefeito Ricardo Nunes (MDB), chegou a falar que a queda de energia se deu por conta da forte tempestade e rajadas de ventos que não estavam previstas, o que, por consequência, levou à queda de árvores. Posteriormente, disse que foi por falta de fiscalização da Arcesp, agência reguladora e fiscalizador da ENEL (empresa privada Italiana que é uma das responsáveis pela distribuição de energia elétrica no estado de São Paulo e em outros estados, como o Ceará e Rio de Janeiro).
Entretanto, sabemos muito bem que a culpa da queda de energia elétrica não foi das árvores “vilãs”, como hipocritamente tentou justificar o governador Tarcísio de Freitas, nem por tempestades e ventos mais fortes do que esperados, como disse o prefeito Ricardo Nunes. Também não foi apenas pela falta de fiscalização da Arcesp.
Neste caso, o real motivo da queda de energia, e a ampla demora para o reestabelecimento do serviço, é consequência do processo de privatização. Este episódio deixou ainda mais evidente a falta de condições de uma empresa privada prestar um serviço público. Isso porque a lógica colocada pelos capitalistas da iniciativa privada é a do lucro e não a de satisfazer as necessidades da maioria da população, a classe trabalhadora. Fica claro que o lucro deles é o nosso prejuízo.
A ENEL é uma das empresas privadas responsáveis por distribuir a energia elétrica no estado de SP desde 2019. Quando assumiu como concessionária privada, demitiu mais de 35% de seus funcionários, ou seja, mais de um terço, passando de 23,8 mil para 15,3 mil trabalhadores. Além disso, passou de uma média de seis horas de atendimento de emergências para 13 horas, ou seja, mais que dobrou. Isso são só alguns exemplos que evidenciam os efeitos da privatização e da consequente precarização dos serviços públicos.
Na última quarta-feira (8/11), falando sobre o apagão no programa Estúdio I, na Globo News, o presidente da ENEL, Max Lins, declarou: “Evidentemente, é impossível você prever uma restauração de uma rede, onde derrubou-se postes, transformador, cabo”. Deixando claro a incapacidade da ENEL de solucionar as debilidades e a falta de energia.
Diante do caótico apagão que vem afetando milhões de pessoas desde o dia 3 – não só pela falta de energia em si, mas também pelos seus diversos impactos, como a falta de água, perda de alimentos e falta de ônibus elétricos –, vemos a esquerda, na figura de Boulos (PSOL) e dos deputados do PT, buscando saídas judiciais. Eles querem cobrar a Arcesp por respostas e descobrir se houve negligência da ENEL, como se isso já não fosse claro. Pedem ainda indenizações, evitando questionar o problema central que é a privatização do fornecimento de energia em SP.
O que deveriam fazer todos os partidos, organizações e centrais sindicais é mobilizar uma grande campanha dentro das suas bases, buscando fortalecer através da aliança de luta operário-estudantil, a greve unificada do dia 28/11 contra as privatizações, da qual participarão os trabalhadores do Metrô, CPTM, Sabesp, Fundação Casa, professores, entre outros. É preciso fazer uma grande campanha pela reestatização da ENEL, sob controle dos trabalhadores e usuários, mas não só dela, de todos os serviços públicos privatizados.